Economia

Argentina é primeiro país a aprovar comercialização do trigo transgênico

A comercialização do trigo transgênico depende da aprovação do governo brasileiro, o maior importador do cereal argentino

Em 2019, 45% das 11,3 milhões de toneladas exportadas pela Argentina foram vendidas ao Brasil (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Em 2019, 45% das 11,3 milhões de toneladas exportadas pela Argentina foram vendidas ao Brasil (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 8 de outubro de 2020 às 18h55.

Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 21h12.

A Argentina se tornou o primeiro país do mundo a aprovar a comercialização do trigo transgênico, após um desenvolvimento realizado no país, o quarto exportador mundial do cereal, informou a Comissão Nacional de Ciência e Tecnologia (Conicet) em um comunicado publicado nesta quinta-feira, 8.

"Trata-se da primeira aprovação no mundo para eventos de tolerância à seca no trigo. Para ser comercializado na Argentina, o evento deve ser aprovado no Brasil, o principal mercado histórico do trigo argentino", informou a Conicet.

"Evento" é uma modificação genética que dá origem a um transgênico, uma planta que não se origina na natureza, mas neste caso foi produzida pelo homem.

A aprovação deverá ser publicada nesta quinta ou sexta-feira no Diário Oficial, declarou à AFP uma fonte do Ministério da Ciência. "Já foi assinada pelo Ministério da Agricultura", garantiu.

Trata-se de uma variedade de trigo batizada de "HB4", resistente à seca, que foi desenvolvida pela empresa de biotecnologia argentina Bioceres, em colaboração com a Universidade Nacional do Litoral e o Conicet.

A comercialização do trigo HB4 estará condicionada à aprovação do governo brasileiro, o maior importador do cereal argentino. Em 2019, 45% das 11,3 milhões de toneladas exportadas pela Argentina foram vendidas ao Brasil. Outros destinos do trigo argentino são Indonésia, Chile e Quênia.

Polêmica por transgênico

"Agora, devemos ir ao mundo e convencê-lo de que isso é ótimo, para poder gerar mercados para estes tipos de trigo, que representam um salto evolutivo", opinou o diretor da Bioceres, Federico Trucco. "O primeiro que temos de convencer é o Brasil, e isso poderá ser um trabalho árduo", completou.

Um grupo de especialistas, integrantes do Comitê de Cereais de Inverno do Instituto Nacional de Sementes, mostrou preocupação pela aprovação da comercialização do HB4.

Em carta divulgada nesta quinta-feira, o grupo alertou que nenhum país aprovou o uso de variedades transgênicas de trigo "devido à rejeição por parte dos consumidores locais e/ou estrangeiros com os produtos elaborados com cultivos transgênicos e à dificuldade de manter separada a produção OGM (organismos geneticamente modificados) da não OGM".

Além disso, a eventual aprovação do governo brasileiro "não garante que moinhos, padarias e consumidores privados concordem em comprar nosso trigo transgênico e, se o fizerem, não há garantias de que o farão sem um desconto no preço", acrescentaram os especialistas.

"O evento HB4 é um avanço científico relevante e pode ser uma contribuição importante para a soja, milho e outras culturas, mas por enquanto não para o trigo", insistiu o comitê.

O desenvolvimento biotecnológico é o resultado de uma colaboração público-privada de mais de 15 anos entre a empresa Bioceres e um grupo de pesquisa da Universidade do Litoral, liderado pela doutora em biologia Raquel Chan, que conseguiu isolar um gene resistente à seca para incorporar ao trigo, à soja ou ao milho.

Em lotes de produção e testes de campo realizados nos últimos dez anos, as variedades de trigo HB4 mostraram melhoras de rendimento de 20%, em média, em situações de seca.

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