Argentina: país foi abalado, nas últimas semanas, por uma forte demanda de dólares de investidores que fogem do peso e deixam o país (Marcos Brindicci/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de maio de 2018 às 21h00.
O ministro argentino da Economia, Nicolás Dujovne, iniciou nesta quarta-feira (9) as negociações com o FMI para obter crédito 'stand by' para enfrentar a crise financeira no país, disseram porta-vozes.
Dujovne e sua equipe encontraram o economista-chefe da divisão Hemisfério Ocidental no FMI, Alejandro Werner, na sede da instituição financeira em Washington.
De acordo com a assessoria de imprensa de Dujovne, a Argentina "pedirá um acordo financeiro 'stand by' de alto acesso. Neste momento as equipes técnicas estão trocando informações. Essesprocessos costumam durar cerca de 6 semanas".
Nem a delegação argentina nem o FMI informaram sobre o montante da linha de crédito.
A diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, deverá se juntar às negociações na quinta-feira.
Em uma breve nota, o FMI afirmou que "as autoridades argentinas e a equipe do FMI se reuniram hoje para analisar o pedido de apoio do Fundo por parte das autoridades argentinas".
Essas negociações "continuarão amanhã" (quinta-feira) e incluirão uma reunião entre o ministro Nicolas Dujovne e a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde".
As linhas de crédito 'stand by' são uma modalidade específica entre as linhas de crédito do FMI, e o programa se caracteriza por incluir propostas de reformas que o país receptor se compromete a adotar para poder ter acesso aos recursos.
Neste caso, a modalidade de "acesso excepcional" permite que os países demandantes tenham acesso a créditos por seu valor superior a 145% de sua cota no FMI no período de um ano.
Em geral, o programa 'stand by' contempla pagamentos por parte do país receptor em um prazo entre 3 e 5 anos.
Um dia depois do anúncio do presidente Mauricio Macri de que vai pedir um salva-vidas ao FMI para enfrentar o ataque especulativo contra o peso, o chefe de Gabinete Marcos Peña declarou em coletiva de imprensa que "o ministro de Fazenda (Nicolás Dujovne) já está trabalhando com os técnicos (do Fundo) em Washington".
A Argentina foi abalada, nas últimas semanas, por uma forte demanda de dólares de investidores que fogem do peso e deixam o país.
Desde que foram iniciadas as vendas em março, o Banco Central se desfez 8 bilhões de dólares de suas reservas, que caíram a 55 bilhões.
"Nunca deixamos de ser membros do FMI. Em 30 meses de governo, que foram positivos, aplicamos o caminho do gradualismo, e avançar até o equilíbrio das contas públicas", disse o chefe dos ministros, que afirmou que ainda não é possível quantificar o montante do auxílio solicitado.
Ele disse que não ia responder uma pergunta sobre as pesquisas que refletem uma rejeição de 75% da população a um acordo com o FMI, cujas receitas são, para muitos, responsáveis por crises vividas no passado.
Peña atribuiu a crise ao "contexto global" e até a "situações internas", mas deixou claro que a origem do problema é que o país "depende do financiamento externo", após a liberação há 30 meses do mercado cambial, sem regulações, e o endividamento para financiar um déficit fiscal primário de quase 4 pontos do PIB.
"Há maior exigência por parte daqueles que nos emprestam dinheiro", disse após reafirmar que não haverá mudanças no Gabinete. Ele acrescentou que a diretora do FMI, Christine Lagarde, "deixou claro há um mês seu apoio ao gradualismo" das reformas pró-mercado de Macri.
Ele admitiu que existem "angústias, medos, preocupações" na população por "uma crise maior, como as que vivemos no passado", mas alertou que "não é certo que a história sempre se repita".
Os credores "querem ter a convicção de que vão repagar (a dívida) e de que somos confiáveis". Desde que Macri assumiu, a Argentina tomou mais de 100 bilhões de dólares da dívida e elevou seu percentual de 43% a 54% do PIB, segundo dados oficiais.
Peña ratificou a taxa de câmbio flutuante e o rechaço ao congelamento de tarifas que impulsiona a oposição no Congresso.