Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 11h09.
Com as incertezas fiscais que ainda pairam sobre o Brasil, os diretores do Banco Central (BC) têm a missão de sinalizar para a sociedade e para o mercado se será ou não necessário subir os juros para reancorar as expectativas de inflação. O comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorreu na última quarta-feira, 31, indica que os membros do colegiado estão dispostos a subir a Selic se as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuarem em alta.
Desde a decisão do governo de alterar as metas fiscais para os próximos anos, as projeções para a inflação sobem quase que semanalmente. Para 2024, a estimativa apresentada no Focus está em 4,1% e em 3,96% para 2025. Vale lembrar que a meta de inflação é de 3%, com o teto do objetivo central de 4,5%.
Além de alterar as metas fiscais, a postura adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criticar o BC e de relativizar a necessidade de ajuste nas contas públicas pesam nas projeções.
De maneira objetiva, o mercado não acredita que o governo economizará ou cortará despesas. Com isso, o prêmio de risco cobrado pelos investidores para financiar a dívida pública brasileira aumenta. Além disso, o preço dos ativos, como o dólar, sobe.
Em meio a esse contexto, que parece não ter melhorado desde a última reunião do Copom, os diretores do BC sinalizaram disposição em aumentar os juros, caso a situação piore nos próximos meses.
Ao afirmar que é necessário um “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, os membros do Copom abrem a porta para a alta de juros.“O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, informou o BC.
Vale lembrar que as surpresas mensais positivas na geração de emprego adicionam uma pressão adicional no trabalho do diretores da autoridade monetária.
Outro ponto que pesa negativamente no trabalho de controlar as expectativas é a falta de clareza sobre quem será o próximo presidente do BC.
Ao que tudo indica, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, deve assumir a função. Publicamente, Galípolo tem sinalizado que há um forte compromisso da diretoria com o controle inflacionário.
Entretanto, a principal oposição nesse processo vem de Lula, que mantém uma postura ambígua no que diz respeito ao ajuste fiscal e ao combate à inflação.
Resta saber se o presidente diminuirá o tom quando anunciar o sucessor de Roberto Campos Neto ou se continuará como a principal fonte de ruídos que atrapalha a convergência da inflação para a meta.
Enquanto isso, o BC sinalizou que o risco é de aumento de juros nos próximos meses, caso o governo não consiga se comprometer fielmente com o controle das despesas públicas.