Economia

Análise: Risco de redução do ritmo de corte de juros pelo BC ganha força com pressões inflacionárias

Economia pujante, mercado de trabalho aquecido e inflação corrente acima das projeções do Copom pressionam autoridade monetária

Edifício do Banco Central, em Brasília: diretores da autoridade monetária podem ser obrigados a reduzir ritmo de cortes de juros para 0,25 ponto percentual (Adriano Machado/Reuters)

Edifício do Banco Central, em Brasília: diretores da autoridade monetária podem ser obrigados a reduzir ritmo de cortes de juros para 0,25 ponto percentual (Adriano Machado/Reuters)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 15 de março de 2024 às 12h08.

O Banco Central (BC) pode ser obrigado a sinalizar uma redução do ritmo de corte de juros, atualmente em 11,25% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 19 e 20 de março, afirmaram à EXAME ex-diretores da autoridade monetária, economistas e analistas de mercado ouvidos nos últimos dias. Diversas pressões inflacionárias se materializaram nos últimos meses.

O primeiro ponto observado é que a inflação corrente ficou acima das projeções divulgadas no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI). A equipe do presidente Roberto Campos Neto esperava que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrasse alta de 0,50% em dezembro, de 0,26% em janeiro e de 0,56% em fevereiro, com a inflação nos últimos 12 meses totalizando 3,95%.

Entretanto, o IPCA acumulado de março de 2023 a fevereiro de 2024 chegou a 4,5%. Em dezembro de 2023, a taxa chegou a 0,56%, no primeiro mês de 2024, totalizou 0,42%, e, no segundo, 0,83%. A inflação corrente se tornou um problema real, com pressões do setor de serviços, já mencionados na última ata da Comitê de Política Monetária (Copom). Para piorar, o IPCA é um dos problemas que têm afetado a popularidade de Lula, como mostrou a EXAME.

Pujança econômico e emprego aquecido

O segundo ponto de destaque que chama a atenção dos analistas é a força da economia brasileira no primeiro mês do ano. O setor de serviços cresceu 0,7% em janeiro e o comércio, surpreendentes 2,5%. Na prática, a pujança econômica - positiva para o país, diga-se de passagem - é mais um risco na equação do BC para a controlar a inflação.

E, por fim, o mercado de trabalho aquecido, com criação de mais de 180 mil empregos em janeiro, pressiona os preços. Na prática, mais brasileiros têm renda disponível para consumir, o que, historicamente, leva ao aumento do valor de mercadorias e serviços.

Aceleração do corte de juros sepultada

Todo esse contexto tem estimulado um debate no mercado e na academia sobre os próximos passos da autoridade monetária no processo de redução de juros. Uma aceleração do ritmo de cortes para 0,75 ponto percentual está sepultada. O risco, agora, é de redução dessa magnitude para 0,25 ponto percentual.

“Na última ata, o Copom se comprometeu com reduções de 0,5 ponto percentual nas reuniões de março e maio. Mas o próximo comunicado será importante. Se o BC mudar a comunicação e não se comprometer com ‘redução de mesma magnitude nas próximas reuniões’ será um sinal forte para o mercado da proximidade do fim do ciclo”, diz um ex-diretor do BC.

Caso esse cenário se materialize, afirmou outro ex-membro do Copom, Campos Neto corre o risco de voltar a ser pressionado politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus auxiliares. Lula e diversos ministros cobram queda de juros desde o ano passado.

“O presidente do BC corre o risco de ser frito e torrado no próximo churrasco de Lula se sinalizar uma redução do ritmo de cortes. Entretanto, há fundamentos técnicos para isso. Campos Neto não pode ser capturado pelo discurso político. O trabalho da autoridade monetária tem que continuar técnico", afirma.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCopomInflaçãoJurosSelic

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor