Banco Central. (Arquivo/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 15h00.
Quem passou a incorporar nas projeções um ciclo de alta de juros, que pode começar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 17 e 18 de setembro, também tem avaliado os efeitos econômicos nos próximos dois anos. As estimativas iniciais de banqueiros, economistas e gestores apontam que a Selic, atualmente em 10,5% ao ano, chegará a 12% até janeiro. No Planalto, entretanto, essa possibilidade não é vista com bons olhos.
Segundo técnicos do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva torce o nariz quando ouve qualquer menção sobre a possibilidade de alta de juros. O petista, inclusive, tem cobrado publicamente uma redução da Selic. Em entrevista em 16 de agosto à Radio Gaúcha, ele disse não haver explicação para os juros estarem no nível atual. “Nós, obviamente, levamos em conta a necessidade de autonomia do Banco Central, mas é importante lembrar que o Banco Central deve ao povo brasileiro”, disse na ocasião.
A elevação de juros, já precificada pelo mercado, seria necessária para ancorar expectativas de inflação, teria efeito positivo sobre dólar e reforçaria a credibilidade da futura direção do Banco Central, que tem o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, como principal candidato para suceder o atual presidente, Roberto Campos Neto.
Gestores, banqueiros, economistas e analistas ouvidos pela reportagem nas últimas semanas apontam que esse ciclo de alta, além de reforçar a credibilidade do BC, teria potencial para ajudar no arrefecimento da inflação. As estimativas do Focus mostram que as projeções para 2025 caíram nas duas últimas semanas de 3,97% para 3,91%, mas continuam acima da meta, de 3%.
A alta da Selic em 2024, avaliam os gestores, garante a ancoragem das expectativas e uma redução da inflação. Com isso, um ciclo de queda poderia começar em junho ou julho de 2025 e teria duração até 2026, ano de eleições.
“Esse ciclo terminaria no meio de 2026, com a Selic em um dígito, entre 9,5% e 8,5%, no pico do crescimento econômico e no patamar mais baixo da inflação. E inflação baixa é um dividendo eleitoral importante. Se o BC não fizer nada, o mercado continuará duvidando da sua credibilidade e os diretores indicados pelo PT terão de correr atrás do prejuízo”, disse um banqueiro.
Outro argumento apontado por investidores é de que a inflação não deve dar trégua nos Estados Unidos e o Federal Reserve (FED), que sinaliza corte de juros também em setembro, pode ser obrigado a rever sua estratégia. “O FED pode estar errado. A economia dos Estados Unidos está aquecida. A inflação global mudou de patamar e os banqueiros centrais não perceberam esse movimento. Com isso, a alta de juros no Brasil faz ainda mais sentido”, disse um investidor estrangeiro.
Como mostrou a EXAME, caso o aumento da Selic não ocorra, o dólar deve encarecer, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) devem voltar a subir e a futura gestão indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumirá sob forte desconfiança.
Os eventuais efeitos positivos de um ciclo de alta de juros ainda em 2024 já foram transmitidos ao governo por banqueiros, investidores e gestores em reuniões com a equipe econômica e com integrantes da ala política. Entretanto, auxiliares de Lula ainda não estão convencidos de que a elevação da Selic será benéfica politicamente para o país e para as pretensões eleitorais do presidente em 2026.
Os mesmos assessores de Lula lembram que parte do empresariado que apoia Lula, sobretudo na indústria, são taxativamente contra um aumento de juros. “Alta de juros inibe investimentos e queremos geração de emprego e renda”, disse um auxiliar do presidente. Para piorar, ministros petistas e parlamentares do partido têm vociferado contra o atual patamar da Selic e devem voltar a fazer barulho se o Copom elevar a taxa.
Os efeitos da decisão do Copom, os ruídos causados e os efeitos no mercado serão conhecidos em 29 dias, em 18 de setembro.