Carros elétricos: o pico da demanda por gasolina mostra a velocidade da transformação do cenário do petróleo (Sean Gallup/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 22 de novembro de 2016 às 16h27.
Última atualização em 22 de novembro de 2016 às 17h24.
Londres/Houston - Após ter abastecido a cultura automobilística do século 20, que mudou a forma das cidades e definiu a vida moderna, a gasolina está perdendo lugar.
A Agência Internacional de Energia (AIE) considera que o consumo global de gasolina quase atingiu seu pico com a chegada de carros mais eficientes e de veículos elétricos de empresas novas como a Tesla Motors, o que freará o crescimento da demanda do combustível nos próximos 25 anos.
A mudança terá consequências profundas no setor de refino de petróleo porque um de cada quatro barris consumidos no mundo são destinados à gasolina.
“Os carros elétricos são uma realidade”, disse o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, em uma entrevista em Londres.
Ele acrescentou que o número desses veículos aumentará de pouco mais de 1 milhão no ano passado para mais de 150 milhões em 2040.
O pico da demanda por gasolina mostra a velocidade da transformação do cenário do petróleo, lançando uma sombra sobre um setor que normalmente projeta décadas de crescimento.
A Royal Dutch Shell, a segunda maior empresa de energia do mundo em valor de mercado, chocou os rivais neste mês quando um executivo sênior disse que a demanda total por petróleo poderia atingir seu pico em apenas cinco anos.
A AIE não compartilha do pessimismo da Shell. A agência antecipa um pico da demanda por gasolina, mas prevê uma demanda crescente por petróleo durante várias décadas devido a um maior consumo de diesel, óleo combustível e combustível para aviões nos setores de transporte marítimo, transporte por caminhão, aviação e petroquímico.
As projeções fazem parte da análise da AIE, com sede em Paris, em seu relatório principal, o “World Energy Outlook 2016”. A agência projetou que a demanda por gasolina cairá de 23 milhões de barris por dia no ano passado para 22,8 milhões de barris por dia em 2020.
Em 2030, o consumo se recuperará um pouco e atingirá um pico de 23,1 milhões de barris por dia, antes de cair novamente em 2040.
A projeção é mais pessimista do que a publicada há um ano, quando a AIE previa um crescimento robusto da demanda até 2030.
À medida que a demanda por gasolina diminuir nas economias avançadas, os destilados médios, combustíveis utilizados para mover caminhões e jatos, continuarão crescendo na próxima década graças à expansão das economias.
Além disso, novas normas internacionais exigirão que os combustíveis pesados e sujos utilizados atualmente no trânsito marítimo sejam substituídos por diesel com menos enxofre em 2020.
As refinarias fariam bem em mirar destilados como o diesel em vez da gasolina na luta contra a queda do consumo, disse Michael Wojciechowski, vice-presidente de pesquisa sobre mercados de petróleo e refino na América da Wood Mackenzie em Houston.