Economia

Agronegócio supera corrupção e guia PIB, diz especialista

De acordo com o IBGE, o PIB do país avançou 1% entre janeiro e março e interrompeu sequência de 8 trimestres consecutivos no vermelho

Agricultura: o agronegócio também foi responsável por gerar 14.648 postos formais de trabalho em abril (Adalberto Roque/AFP)

Agricultura: o agronegócio também foi responsável por gerar 14.648 postos formais de trabalho em abril (Adalberto Roque/AFP)

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EFE

Publicado em 2 de junho de 2017 às 21h30.

São Paulo - Apesar de operar em uma maré de turbulência, decorrente dos escândalos de corrupção, a produtividade do agronegócio guiou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre e se consolidou como um dos pilares para a saída da recessão, destacou nesta sexta-feira um especialista do setor.

De acordo com números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , o PIB do país avançou 1% entre janeiro e março e interrompeu uma sequência de oito trimestres consecutivos em números vermelhos.

O principal responsável pelo crescimento no primeiro trimestre do ano foi o setor agropecuário, que apresentou um avanço de 13,4%, o maior salto para o período nos últimos 20 anos, após contrações em 2015 e 2016, de 3,8% e 3,6%, respectivamente.

Para Marcelo Braga, professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) especialista em economia agrária e presidente da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), o clima, a implementação de tecnologia e o crescimento das áreas cultivadas foram responsáveis pelo resultado positivo.

"Houve uma redução de preços das commodities agrícolas, mas este é um fenômeno histórico, frequente. A nossa produtividade conteve a queda do preço e minha avaliação destes números é positiva", destacou Braga em entrevista à Agência Efe.

Segundo o especialista, a agricultura brasileira é muito competitiva "dentro da porteira"; porém, problemas de infraestrutura, burocracia, logística e armazenamento limitam o desempenho, que poderia ser ainda melhor.

A safra de grãos 2016/2017 representa um recorde, sendo estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 232 milhões de toneladas no mês de maio, um aumento de 24% em relação à safra passada.

O agronegócio também foi responsável por gerar 14.648 postos formais de trabalho em abril, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho.

Este último número melhorou as expectativas de uma lenta retomada da geração de empregos no país com mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, o equivalente a 13,7% da população, segundo o IBGE.

Para Braga, apesar de a safra recorde ser restrita a poucos produtos, o potencial de crescimento é muito grande.

"Se você observar, o Brasil tem um gigantesco potencial agrícola inexplorado. Há muita terra improdutiva não utilizada, não é necessário desmatar para produzir mais", avaliou.

O setor atravessa diversos escândalos de corrupção, sendo o último deles os áudios de conversas entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista, dono da JBS, que culminou em uma crise política e na preocupação do mercado com o envolvimento de uma empresa de grande porte do ramo com ilícitos políticos.

Antes desse escândalo, ainda teve início em 17 de março a operação Carne Fraca, que investiga esquemas de corrupção no setor de carnes, e a Operação Lucas, deflagrada em 16 de maio e que envolve servidores do Ministério da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento, frigoríficos e empresas de laticínios.

Se ainda é cedo para prever os desdobramentos das delações da JBS, em março as perdas com a operação Carne Fraca nas exportações de frango e suínos foi calculada pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) em US$ 40 milhões.

O Ministério da Agricultura, as entidades representativas e os produtores não hesitam em defender a agropecuária nacional pela importância que tem para a economia e população, ainda que o clima seja de impaciência frente às consequências dos casos de corrupção denunciados no país.

Um sinal desse descontentamento pode ter ocorrido no último dia 24 de maio, quando em um protesto contra o governo realizado em Brasília e que terminou com enfrentamentos entre manifestantes e a polícia, a sede do Ministério da Agricultura acabou sendo depredada e incendiada.

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