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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h54.
Diante da resistência da inflação em convergir para o centro da meta deste ano (5,1%), o governo já emite sinais de que pode diversificar as formas de conter o aumento dos preços. Na quinta-feira (20/1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria afirmado, em reunião com Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que o governo poderia facilitar as importações para aumentar a concorrência no mercado interno e impedir que os empresários reajustassem os preços. " [Facilitar as importações] é uma medida muito custosa para quem trabalha com produtos transacionáveis [aqueles que podem ser comprados no exterior]", afirma Rogério Sobreira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas, se adotada, a medida terá alcance limitado, porque pressionará produtos que, a exemplo do que ocorreu em 2004, têm menor impacto no índice de preços.
No ano passado, os preços administrados, os serviços e os produtos não-transacionáveis responderam por uma parte importante da inflação. Os transportes, por exemplo, contribuíram com 2,33 pontos percentuais da inflação de 7,6% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O resultado só não foi mais alto, porque algumas capitais não reajustaram a tarifa dos ônibus urbanos, devido às eleições municipais (veja a tabela abaixo).
A habitação, outro item em que a concorrência com importados é bastante limitada, apresentou a segunda maior contribuição (1,18 ponto percentual) para a inflação de 2004. Itens importantes, como os preços administrados, também apresentaram altas expressivas. A energia elétrica subiu 9,64%, e o telefone fixo, 14,76%. Como são reajustados por índices de inflação, segundo regem os contratos com as concessionárias, esses serviços sempre passam por uma desaceleração de preços mais lenta. "Parte da inflação desse ano já vem 'por contrato'", diz Sobreira.
Além disso, parte dos aumentos foi condicionada a fatores que escapam, em parte, ao controle do mercado interno. É o caso do aumento dos combustíveis, pressionado pela alta internacional do petróleo. Somente a gasolina subiu 14,64% nos postos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A gasolina apresentou o maior impacto individual sobre o IPCA de 2004 (0,59 ponto percentual).
O petróleo é só um dos casos de aumento de commodity que pressionou o país. A alta dos preços internacionais do aço e dos minérios foi outro exemplo. Sendo um dos principais insumos da indústria, o aço mais caro levou as montadoras a reajustarem os automóveis em 13,65% e os fabricantes aumentaram os eletrodomésticos em 9,62% no ano passado.
Margens maiores
É claro que não são apenas os fatores fora do controle das empresas e do governo que estão puxando a inflação. Num ambiente de economia em crescimento, os empresários brasileiros também estão aproveitando para recompor seus ganhos. "Muitos setores operam no limite de sua capacidade e as indústrias estão recompondo suas margens", diz Sobreira.
Esse movimento também é favorecido por fatores indiretos, como os ganhos de produtividade obtidos pela indústria no ano passado, de acordo com Pedro Cavalcanti Ferreira, da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV. Entre janeiro e novembro, por exemplo, a indústria brasileira aumentou em 5,30% a produtividade, de acordo com a CNI. "Isso é uma forma de elevar as margens de lucro", diz Ferreira.
De acordo com Ferreira, um modo de estimular as importações seria a redução de alíquotas de impostos como a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). A medida, aliás, já foi adotada no ano passado para estimular a modernização dos portos. Em agosto, o governo anunciou a redução temporária da Cofins e de outros tributos sobre a importação de equipamentos portuários.
O que pesou sobre a inflação em 2004 | |||
Grupo |
Variação(%)
|
Contribuição (pontos percentuais do IPCA)
|
Peso
|
Comunicação |
13,91
|
0,52
|
3,9752
|
Transportes |
10,99
|
2,33
|
21,6699
|
Educação |
10,44
|
0,49
|
4,7901
|
Vestuário |
9,95
|
0,52
|
5,3130
|
Habitação |
7,14
|
1,18
|
16,5574
|
Saúde e cuidados pessoais |
6,88
|
0,72
|
10,4666
|
Despesas pessoais |
6,84
|
0,63
|
9,0953
|
Artigos de residência |
5,42
|
0,31
|
5,5140
|
Alimentação e bebidas |
3,86
|
0,90
|
22,6184
|
Fonte: IBGE |