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Abalada pela pandemia, noite de São Paulo retorna com incertezas

Regiões registram aumento no fluxo liderada pelos mais jovens, mas para os empresários, público mais velho (e com mais dinheiro) ainda receia sair

Nesse retorno gradual, há uma mudança de hábito nos fregueses de bares tradicionais: a saideira está descendo mais cedo (Divulgação/Divulgação)
AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 09h45.

A vida noturna influencia os traços culturais e as transformações urbanas de São Paulo desde o último século. Uma balada que começa com os cafés da Avenida São João e suas ‘big bands’ de jazz na década de 1920, passa pela febre do rock’n’roll nas lanchonetes e sorveterias da Rua Augusta nos anos 1950 e pela boemia do italiano Bixiga, com seus teatros e o eclético Madame Satã nos 1980. Abalada pela pandemia, com o fechamento de ícones da cidade, a boemia começa a engatinhar novamente rumo à próxima dose de chope. Mas a ressaca será forte.

Cerca de metade dos bares e restaurantes ainda operava no prejuízo em agosto, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Algumas regiões registram aumento no fluxo, com uma tímida reabertura liderada pelos mais jovens. Mas para os empresários, o público mais velho (e com mais dinheiro) ainda receia sair.

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Nesse retorno gradual, há uma mudança de hábito nos fregueses de bares tradicionais: a saideira está descendo mais cedo. Os clientes que ficam até o bar fechar têm desaparecido das mesas e calçadas.

— A boemia clássica vem desaparecendo de São Paulo já há um certo tempo, muita gente se afastou. Os mais velhos ainda estão reticentes de sair às ruas e esse público só fica nos bares até 23h30, no máximo — afirma o presidente da Abrasel-SP, Percival Maricato. — Há ainda as regiões de badalação, mas os proprietários de bares tradicionais preferem uma clientela fiel, que tem previsibilidade maior — completa.

O fenômeno ocorre até no bairro que se tornou um dos ícones da noite, a Vila Madalena. A vocação festeira das ladeiras da Zona Oeste começou no final dos anos 1960. O estopim teria sido a invasão do Exército à moradia estudantil da USP, em dezembro de 1968, quatro dias após a edição do AI-5. Expulsos da Cidade Universitária, no Butantã, os estudantes tiveram de buscar abrigo nas casas do vizinho bairro operário, iniciando partir daí a trajetória do pedaço em abrigar discussões intelectuais.

A fama da região levou a uma mudança de perfil e, antes mesmo da pandemia, botequins cabeçudos começaram a ser substituídos por baladas mais juvenis, afugentando pontos mais antigos. É o caso do bar São Cristóvão, cujas paredes são recheadas de flâmulas, escudos, camisas e fotografias alusivas a futebol. O local mudou de endereço em dezembro, durante o relaxamento de restrições entre a primeira e a segunda onda da pandemia: deixou a agitada Rua Aspicuelta, onde estava havia 20 anos, e se transferiu algumas esquinas acima, para a mais tranquila Rua Purpurina.

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