Economia

A sonda de petróleo que mostra o boom que nunca ocorreu

As maiores empresas petrolíferas do mundo tinham grandes planos para o Brasil, mas não é possível perceber isso atualmente analisando as perfurações offshore

Em 2006 foi anunciada a descoberta de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos, na área de TUPI - hoje campo de Lula (Agência Petrobras)

Em 2006 foi anunciada a descoberta de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos, na área de TUPI - hoje campo de Lula (Agência Petrobras)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2015 às 09h40.

As maiores empresas petrolíferas do mundo tinham grandes planos para o Brasil, mas não é possível perceber isso atualmente analisando as perfurações offshore no país.

Após a descoberta de petróleo na formação do pré-sal, no mar, ao largo do Rio de Janeiro, produtoras como a BP Plc e a Total SA se prepararam para entrar no Brasil com bilhões de dólares em investimentos.

Para o país, aquilo parecia prometer uma era sem precedentes de riqueza petrolífera.

Nove anos depois, a promessa ainda não se concretizou: a espanhola Repsol SA e a China Petrochemical Corp. são as únicas estrangeiras que operam uma sonda de perfuração offshore.

Então, o que aconteceu?

O colapso do preço do petróleo e a Lava Jato contam parte dessa história. Mas as autoridades brasileiras, que passaram cinco anos sem leilões e reduziram o ritmo de concessão de licenças ambientais, também colaboraram para que o boom não se concretizasse, segundo João Carlos de Luca, membro do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás e Biocombustíveis (IBP), que representa produtoras domésticas e estrangeiras no Brasil.

“Sob o solo o Brasil tem riquezas espetaculares, mas acima dele não foi capaz de criar as regras adequadas”, disse De Luca por telefone do Rio. “A indústria teve um hiato (sem leilões) e agora está parada”.

Dois anos atrás, o Brasil contava com 40 sondas de perfuração offshore explorando petróleo e gás. Agora, há 21, segundo dados da Baker Hughes Inc.

Única sonda

O Ocean Rig Mylos, um navio-sonda que a joint venture Repsol Sinopec contratou da Ocean Rig UDW Inc. para explorar petróleo cerca de 200 quilômetros ao leste da costa do Rio, é a única que não é operada pela estatal Petrobras.

Isso ocorre, em parte, porque o único caminho para entrar no pré-sal agora é via projetos liderados pela Petrobras, segundo as regras da Lei de Partilha criadas para garantir que o país mantivesse o controle sobre os recursos.

Agora que a empresa, sob pressão, enfrenta dificuldades para cortar gastos, cerca de metade de suas plataformas offshore estão ociosas, como as de um consórcio com a BG Group Plc e a Galp Energia SGPS SA.

“Temos um cliente dominante com profundos problemas”, disse Paulo Martins, presidente da Abespetro, uma associação do setor que representa 50 empresas de serviços petrolíferos no Brasil, em entrevista do Rio. “Nós poderemos sobreviver a curto prazo, mas não escaparemos sem cicatrizes”.

A Royal Dutch Shell Plc viu a produção cair em seu principal projeto no Brasil, o Parque das Conchas. A Chevron Corp., por sua vez, registrou um colapso na produção de seu projeto Frade depois de ter sido forçada a limitar a atividade após um derramamento de petróleo, em 2011. A Statoil ASA está investindo pesadamente apenas para manter a produção em seu principal campo offshore.

Êxodo de plataformas

Com a diminuição da perfuração offshore, estão em jogo contratos de provedoras de navios como a Transocean Ltd. e a Diamond Offshore Drilling Inc.

O número de plataformas flutuantes do país deverá cair mais, em até 10 unidades -- nove de campos da Petrobras e a plataforma Mylos, usada no empreendimento da Repsol, disse James C. West, sócio da empresa de assessoria Evercore ISI, em uma nota a clientes em setembro. A Diamond, a Transocean e a Paragon Offshore Plc têm, cada uma, duas plataformas a serem liberadas precocemente, enquanto a Seadrill Ltd, a Ensco Plc e a Odebrecht Óleo Gás SA têm uma cada um, disse ele.

A Petrobras não se decidiu a respeito de um número específico de reduções nas plataformas e continua negociando com os fornecedores, disse Cristina Pinho, gerente-executiva da divisão de produção e exploração da empresa. A produtora reduziu sua meta de produção para 2020 em um terço em junho, para 2,8 milhões de barris por dia, e não descarta outro corte na estimativa, disse Pinho.

‘Curva de produção’

“Se você está cortando agora, você terá um impacto no futuro”, disse Cristina a repórteres em 14 de outubro. “Estamos fazendo de tudo para que a curva de produção não seja muito afetada, porque precisamos da receita desse petróleo”.

A queda no número de plataformas pode ser parcialmente atribuída a uma produtividade mais elevada nos campos do pré-sal, onde a Petrobras descobriu um total estimado de 38 bilhões a 47 bilhões de barris de reservas recuperáveis sob o fundo do mar.

Os prospectos exigiram menos poços que o originalmente estimado.

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