Economia

A fábrica caseira de música

Enfurnados num navio, eles desembarcam no Porto de Santos, procedentes da China, de Taiwan ou da Coréia do Sul. Chegam clandestinamente e provavelmente vão permanecer nessa condição. Em síntese, essa é a trajetória das toneladas de CDs virgens contrabandeados da Ásia para abastecer o mercado brasileiro de discos e de softwares falsificados. Até recentemente, 90% […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

Enfurnados num navio, eles desembarcam no Porto de Santos, procedentes da China, de Taiwan ou da Coréia do Sul. Chegam clandestinamente e provavelmente vão permanecer nessa condição. Em síntese, essa é a trajetória das toneladas de CDs virgens contrabandeados da Ásia para abastecer o mercado brasileiro de discos e de softwares falsificados. Até recentemente, 90% dos CDs piratas vinham prontos, produzidos por indústrias do sudeste asiático. Hoje quase todos eles são gravados dentro das fronteiras brasileiras. A mudança se deve à facilidade com que se montam laboratórios caseiros: bastam alguns computadores pessoais e gravadores de CD para ter uma empresa pirata com grande capacidade de reprodução. Quando chegam por vias legais, os CDs virgens custam em média 20 centavos de dólar. "Para pagar menos imposto, alguns importadores declaram que o preço por unidade é de 5 centavos de dólar", diz Jorge Eduardo Grahl, diretor jurídico da Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (Apdif).

Após driblar a fiscalização, os CDs virgens se transformam, em pouco tempo, em CDs de cantores de sucesso em laboratórios como o que foi desativado pela polícia no dia 30 de abril. A gravadora clandestina funcionava num sobrado da rua General Nestor Passos, no Jardim Paraíso, na zona norte da capital. Naquela tarde, o chinês Han Qing Zhong saía da casa com vários pacotes e foi detido quando abria a porta de um Jeep Cherokee preto, placa DPC-5000, estacionado em frente. Dentro do veículo havia uma grande quantidade de encartes de CDs. Falando em português pouco compreensível, Han, nascido em Shangai, confirmou a suspeita dos policiais. "Aí dentro a gente grava CDs", disse. Os policiais invadiram a casa e encontraram um laboratório de fazer inveja a gravadoras de porte médio. Outros três chineses, Miao Renjian, Chen Xin e Lin Qin, subordinados de Han, manuseavam os equipamentos de gravação. A polícia suspeita de que eles trabalhavam em regime de escravidão. Treze torres de computador funcionavam 24 horas por dia para reproduzir CDs de artistas como Sandy & Junior, Zezé di Camargo e Luciano, Jorge Aragão e outros cantores populares. A fabriqueta clandestina produzia cerca de 500 000 CDs por mês. Só naquela tarde foram apreendidas 210 000 cópias piratas. A 1 real cada, os CDs seguiriam para "atacadistas" na feirinha que acontece durante a madrugada na rua 25 de Março.

A casa onde funcionava a gravadora pirata havia sido alugada desde novembro de 2000 em nome de Ecleumar Cordeiro Brito. A fiadora, a chinesa Chen Aifang, tinha visto de entrada no país desde outubro de 1987 e morava no nono andar de um condomínio na rua Afonso de Freitas, na Vila Mariana. Chen é casada com Jia Wei, procurado pela polícia por suspeita de ligação com a máfia chinesa. O Jeep Cherokee está em nome de Shan Aifang, filha de Chen e Jia Wei. Quando a polícia descobriu o endereço dos chineses, eles já haviam deixado o apartamento.

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