Alberto Fernández: presidente eleito da Argentina diz que pagará dívidas externas quando retomar o crescimento econômico (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 06h16.
Última atualização em 2 de dezembro de 2019 às 11h36.
São Paulo — A oito dias da posse do novo governo argentino, a chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner tem uma semana de indefinições pela frente. A maior delas é a corrida para completar a equipe de governo a tempo. A Argentina tem um período de transição especialmente curto, pouco mais de um mês, e o novo governo ainda precisa contemplar as demandas de Fernández, mas também de Cristina, com aliados em campos diferentes da esquerda peronista.
A maior dúvida é sobre quem será o ministro da Economia, um cargo vital num governo que assume com o desafio de tirar, de novo, a economia do merengue em que se encontra (como cantava Carlos Gardel).
O Produto Interno Bruto (PIB) do país deve encolher 3% este ano e mais 1,5% ano que vem, segundo as previsões mais recentes. Além disso ainda tem que pagar 56 bilhões de dólares de um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional.
Na semana passada, Fernández declarou em um conferência industrial que só vai pagar o que deve quando o país voltar a crescer. Na mesma conferência, afirmou que não vai deixar o país “de portas fechadas”, mas que não vai importar “camisas da China” ou “sapatos do Brasil” para que os produtores do país sigam quebrando.
Equilibrar as demandas da indústria local e dos trabalhadores a medidas que impulsionem a economia do país será o maior desafio do novo governo. Segundo analistas locais, são dois os favoritos para assumir a Economia. A aposta mais segura seria, Roberto Lavagna, 77 anos, ministro da pasta entre 2002 e 2005 e desde então sempre cotado à presidência do país. O segundo é Matías Kulfas, 47 anos, ex-diretor do Banco Central e consultor.
No Banco Central, o nome mais cotado é Miguel Ángel Pesce, ex-vice-presidente da instituição e elogiado por suas boas relações com bancos locais e internacionais. Seus desafios são gigantescos, dado o descontrole na taxa de juros e na moeda argentina. Não há tempo a perder em muitas frentes.
“Fernández tem que, antes de mais nada, atacar a dívida. A Argentina tem um problema de solvência pela concentração de vencimentos, falta de reservas e ausência de crédito”, diz Martin Ravazzani, economista da consultoria Ecolatina.
Como se não faltassem indefinições, Cristina Kirchner deve depor hoje em investigações de corrupção na contratação de obras públicas durante seu governo, encerrado em 2015. Eleita, ela seguirá gozando de imunidade, e seguirá a declarar-se vítima de um plano para demonizá-la. Cristina chegou a pedir que o julgamento fosse televisionado, pedido negado pela Justiça.
Para a futura vice-presidente argentina, o show é importante. A estratégia de deixar os cargos mais relevantes do futuro governo para os 45 do segundo tempo cumpre o mesmo objetivo. O plano é divulgá-los com pompa na sexta-feira, dia 6.