Inflação leva Argentina a repetir medidas que já fracassaram
O governo do país decidiu vetar exportações de carne bovina para segurar a alta de preços, restrição semelhante às adotadas por uma década até 2015
Bloomberg
Publicado em 21 de maio de 2021 às 10h31.
Última atualização em 21 de maio de 2021 às 11h35.
Se intervenções anteriores servirem de guia, o novo veto às exportações de carne bovina da Argentina não conseguirá segurar a inflação .
Os preços da carne vermelha mostram alta de 65% na taxa anual e superam de longe a inflação de 46%, o que levou o presidente da Argentina, Alberto Fernández, a suspender os embarques de carne bovina do quinto maior exportador do mundo por 30 dias.
Embora a medida possa colher benefícios políticos rápidos, as consequências de longo prazo para o setor de carne bovina são bem conhecidas na Argentina, que implementou restrições semelhantes por uma década até 2015: pecuaristas saem do negócio, a produção cai e a pressão sobre os preços é retomada.
“Não está nem claro para mim se isso terá impacto genuíno no controle da inflação dos alimentos”, disse María Castiglioni, diretora da consultoria C&T Asesores, em Buenos Aires. “Para perder participação de mercado quando leva tanto tempo para abrir novos mercados de exportação e começar a perder empregos em um setor que está funcionando bem, essa medida é realmente inexplicável.”
Fernández sentiu o impacto da proibição das exportações em primeira mão em 2006, quando atuou como chefe de gabinete do presidente Néstor Kirchner, o falecido marido da atual vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner, que também governou o país de 2007 a 2015. Assim como agora, a ideia na época era oferecer mais carne bovina no mercado local e esfriar os preços internos.
Mas o tiro saiu pela culatra. Quando os pecuaristas deram as costas ao setor após a proibição, a Argentina perdeu quase 20% de seu rebanho bovino em 2011. Os preços do gado aumentaram com mais frequência nos anos seguintes, incluindo o aumento anual de 126% no fim de 2010, e o país foi ultrapassado pelo Uruguai e Paraguai no mercado internacional.
Até o momento, o decreto oficial que implementaria a nova proibição não foi publicado. Ainda assim, o anúncio atraiu a ira do setor: câmaras de comércio suspenderam as vendas de carne bovina por vários dias e pecuaristas convocam protestos.
Como a antiga proibição, pecuaristas e associações temem que este veto possa durar muito mais do que o originalmente anunciado.
“Em 2006, a proibição era para ser por 180 dias e acabou durando 10 anos”, disse Miguel Schiariti, presidente da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados (CICCRA), referindo-se aos rígidos controles de exportação desde então. “Eles estão culpando o setor pelos preços, mas a inflação é culpa do governo por causa do déficit fiscal e da impressão de dinheiro.”
Manual antigo
Fernández argumentou que foi obrigado a tomar essas medidas porque as cotações globais das commodities dispararam nos últimos meses, fazendo com que os preços da carne bovina na Argentina “saíssem do controle”.
A demanda internacional “criou distorções nos preços domésticos que não podem mais ser tolerados”, disse Fernández a uma estação de rádio na terça-feira. “Não podemos continuar observando os preços da carne bovina subir mês a mês sem qualquer justificativa.”
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