Dança do dragão no ano novo chinês: banco prevê que a inflação irá chegar a 6,7% em 2013 (Feng Li/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2012 às 15h49.
São Paulo – O BNP Paribas acredita que a inflação deve subir mais do que o esperado em 2013 e passar o teto de 6,5% - chegando a 6,7%. Essa é a previsão mais alta na pesquisa do Banco Central, segundo o banco (o centro da meta oficial é de 4,5% e o consenso indica uma inflação de 5,5% no próximo ano). “No horóscopo chinês, 2012 é o ano do dragão. Mas, no Brasil o dragão chegará um ano depois, já que 2013 será o ano do dragão da inflação”, afirma o relatório assinado pelo economista Marcelo Carvalho.
O aumento dos salários, a escalada dos preços dos alimentos e o câmbio estão entre os fatores que mas devem elevar a inflação em 2013, segundo o BNP Paribas. “Na nossa visão, a inflação provará ser uma dor de cabeça pior que o antecipado e para a qual a maior parte das pessoas não está pronta”, afirma no relatório.
Recentemente, o nível mais baixo da inflação foi de 4,9%, ainda acima do centro da meta do governo (4,5%). Para o banco, o crescimento da inflação parece pior do que as autoridades poderiam imaginar. “Em economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, e em mercados emergentes, como o Brasil, um tema comum é que a inflação não caiu o tanto que a desaceleração do crescimento sugere”, afirma o relatório.
Em julho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), principal indicador de inflação no Brasil, acelerou para 0,43%, a maior variação mensal desde abril. De acordo com o IBGE, os principais responsáveis pelo resultado foram os grupos Despesas pessoais e Alimentação e bebidas - a seca nos Estados Unidos elevou os preços do milho, soja e trigo, afetando o que depende desses grãos, como carne bovina, suína, frango e industrializados.
O relatório destacou a alta no preço dos alimentos mas afirmou que a maior preocupação está na tendência da inflação subjacente (que exclui os preços dos alimentos e da energia), incluindo o elevado preços dos serviços em meio a aumento de salários e recorde de baixa no desemprego.
Subindo
“Conforme a economia ganhar velocidade nos próximos trimestres, a inflação não irá cair”, informa o banco. O BNP acredita que a recuperação do crescimento estará em seu caminho na segunda metade desse ano, mas uma outra preocupação surgirá no lugar: a inflação. “Pensamos que as preocupações do mercado com o fraco crescimento (da economia brasileira) darão lugar a apreensões com a inflação crescente - e como as autoridades irão responder”.
A expectativa de inflação deve piorar nos próximos meses, até progredir em 2013, segundo o banco. “Na nossa visão, a previsão de consenso para a inflação em 2013 parece suspeitamente nivelada. A inflação raramente permanece tão estável por tanto tempo”, afirma o relatório. No começo da década, os mercados acreditavam que o BC tinha credibilidade ao projetar o centro da meta de inflação para 4,5%. Mas, desde a decisão de começar a cortar a taxa de juros em agosto de 2011, os mercados passaram a questionar o verdadeiro comprometimento com os 4,5%, segundo o relatório. “A percepção do mercado passou a ser que as autoridades ficariam felizes com a inflação entre 4,5% e o teto de 6,5%”, afirma o BNP Paribas.
O relatório afirma que cortes em algumas taxas poderiam auxiliar a diminuir a inflação – uma diminuição nos impostos de energia, por exemplo, poderia impactar. O corte do IPI para carros e linha branca, por exemplo, trouxe certo alívio para o IPCA esse ano, segundo o banco . A medida expira na próxima semana e a expectativa do BNP Paribas é que ela seja prorrogada até o final desse ano, caso contrário, ela levaria a um aumento na inflação já em 2012.
O BNP Paribas citou o preço da gasolina como um risco à inflação – nos cálculos do banco, o preço da gasolina no Brasil é cerca de 20% a 30% inferior aos preços internacionais e um aumento no produto impactaria a inflação. O preço dos alimentos segue uma incógnita, segundo o banco. A expectativa é que a inflação no preço dos alimentos aumente 8,2% em 2013 – sendo que em 2012 o aumento seria de 7,3%.
O BNP Paribas acredita que, agora, o BC irá, cada vez mais, enfatizar o "atrasado e cumulativo" impacto positivo no crescimento vindo dos cortes de taxas ocorridos desde agosto de 2011 mas, mais cedo ou mais tarde, as autoridades terão que iniciar políticas mais austeras no próximo ano, “se eles se preocupam com a inflação”, segundo o banco.
Juros
O BNP Paribas não fez uma projeção para a Selic. Nesse cenário, porém, o banco estimou que a maior parte do ciclo de cortes na taxa básica de juros já passou. O banco afirmou também que quando o Banco Central encerrar sua série de cortes na Selic, o mais provável é que mantenha a taxa estável por algum tempo antes de começar a elevar a taxa novamente. A expectativa é que a volta da alta nos juros aconteça a partir do segundo trimestre de 2013.