Economia

Por que a inflação tem tudo para continuar subindo?

Economistas do Credit Suisse, que irritaram o ministro Mantega com projeção para o PIB, aumentam estimava para IPCA no ano

Supermercado em São Paulo: preço dos alimentos deve impulsionar IPCA (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Supermercado em São Paulo: preço dos alimentos deve impulsionar IPCA (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2012 às 13h42.

São Paulo – Os preços estão subindo e a alta não deve parar em breve. O Boletim Focus divulgado mais recentemente pelo Banco Central aponta que o mercado espera que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), principal indicador de inflação no Brasil, deve fechar 2012 com uma alta de 4,98%. O relatório apresentou a terceira semana consecutiva em que o mercado elevou sua projeção para o indicador.

A equipe de análises do Credit Suisse no Brasil também não está nem um pouco otimista com as notícias que podem vir para o bolso do consumidor brasileiro. Em relatório enviado hoje para clientes, os economistas da instituição elevaram a projeção para o IPCA em 2012 de 4,8% para 5,1%.

Vale lembrar que o Credit Suisse “irritou” o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao reduzir a estimativa para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano de 2% para 1,5%. Mantega chamou a projeção de “piada”, mas um relatório de inflação apresentado no dia seguinte mostrou que as dúvidas sobre o crescimento da economia permanecem com a alta dos preços.

O número projetado pelo Credit Suisse para o IPCA também pode não ser o mais “agradável” para o governo. A projeção é superior à média das estimativas do mercado apresentada pelo Focus. É também mais alta que o centro da meta estimado pelo próprio governo neste ano, de 4,5%.

Na visão da equipe econômica do Credit Suisse, os dedos apontam para um setor que pode levar quase toda a culpa: alimentação. “A dinâmica dos preços de alimentos é um determinante importante da inflação ao consumidor, sendo que a inflação desses produtos é mais volátil do que a dos demais componentes do índice”, afirmam os analistas econômicos do Credit Suisse.

Eles ressaltam que nas últimas semanas os preços de importantes commodities agrícolas aumentaram muito nos mercados internacionais. Em parte, a culpa disso é de importantes problemas climáticos em regiões produtoras. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma seca que prejudicou a produção do milho e da soja.

Eles destacam que a alta dos preços desses produtos já aumentou a inflação nas primeiras pontas da cadeia. O IPA-M, índice que mede preços por atacado ao mercado, subiu para 1,81% em julho, sendo que 61% da inflação ao produtor do mês aconteceu com a alta do valor da soja e derivados.


Além do preço dos produtos puramente, eles influenciam o valor das carnes, já que a criação dos animais para o abate utiliza alimentos derivados desses produtos. “O recente aumento de preços das commodities agropecuárias eleva o risco de reversão do recuo da inflação IPCA acumulada em 12 meses nos próximos meses”, lembra o Credit Suisse.

Para a projeção de 5,1% em 2012, o Credit também considera que os preços dos grãos no mercado global não passarão por nova alta expressiva, o preço da gasolina não terá novo reajuste no Brasil, e que a inflação IGP acima do esperado tende a pressionar a inflação de alguns serviços com peso significativo na inflação ao consumidor, como o valor do aluguel residencial.

Histórico

Não seria a primeira vez que os alimentos se mostram como um dos principais culpados pela inflação.

Como lembram os economistas do Credit Suisse, em 2010 a alta da inflação para o consumidor foi muito influenciada pelos preços de carnes bovina, suína e de frango e do açúcar e seus derivados.

Além do grande peso desses produtos na composição do índice, eles lembram que o valor do açúcar influencia os preços dos combustíveis.

Próximos números

Segundo os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), a inflação medida pelo IPCA acumula alta de 2,32% neste ano, e de 4,92% em 12 meses.

A próxima divulgação do instituto, que trará os números de julho e atualizações para o ano, está marcada para 8 de agosto, próxima quarta-feira.

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