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O encerramento do ano e o que está por vir em 2026

As atenções no mundo político passam a se voltar de forma mais definitiva às eleições

Brasilia - DF - Distrito Federal - Palácio do Congresso Nacional - (Leandro Fonseca)

Brasilia - DF - Distrito Federal - Palácio do Congresso Nacional - (Leandro Fonseca)

Júnia Gama
Júnia Gama

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Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 11h11.

Com o encerramento oficial dos trabalhos no Congresso e a pausa para as festas de fim de ano, as atenções no mundo político passam a se voltar de forma mais definitiva às eleições.

Não que o tema não tenha acompanhado e influenciado cada uma das decisões mais relevantes tomadas em 2025, mas o clima a partir de agora passa a ser, sem rodeios, sobre as composições para o pleito de 2026 — que promete ser acirrado e fortemente polarizado.

Ao longo deste ano, que serviu como período de “preparação” para 2026, o governo conseguiu colocar de pé medidas cruciais para sustentar o orçamento do ano eleitoral com ações que serão exploradas durante a campanha. Em paralelo, acentuou-se o cenário fragmentado na oposição, com o lançamento da candidatura de Flavio Bolsonaro.

Mas, apesar das conquistas junto ao Congresso, que incluíram a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, a redução na tarifa de energia elétrica, a ampliação do vale-gás, entre outros, Lula chega ao final de 2025 com a aprovação ainda patinando, empatada com sua reprovação.

Um indicativo de que, embora se trate de uma candidatura competitiva, o petista terá de evitar erros de estratégia e de comunicação para não inverter sua apertada vantagem — e torcer para que não surjam surpresas no campo da direita capazes de ameaçar a liderança demonstrada nas pesquisas.

Veja os pontos-chave de atenção para 2026:

Orçamento

A lei orçamentária anual foi aprovada na última semana antes do recesso legislativo com previsão de recursos para as principais políticas do governo Lula para 2026, como Pé de Meia, Gás do Povo, PAC e compensação suficiente para neutralizar a perda de arrecadação com a isenção do Imposto de Renda — o principal mote na busca pela reeleição.

Além disso, há dotações para manutenção da política de valorização do salário mínimo e do Bolsa Família — para o qual não há previsão de reajuste. Na prática, o Planalto comprou previsibilidade para atravessar o ano eleitoral.

A virada do governo em relação ao Congresso, que no primeiro semestre deste ano se apresentava hostil e pouco aberto a colaborar com a construção de um orçamento que beneficiasse Lula no ano eleitoral, começou após a derrubada do IOF, com a narrativa do PT colocando “ricos contra pobres”.

Avançou ao longo do ano com o discurso da defesa da soberania nacional contra o tarifaço e se consolidou, finalmente, com a aceleração do pagamento de emendas. Mesmo sem uma base aliada sólida, foi sob este pragmatismo que o Planalto conseguiu formar maiorias para aprovar sua agenda.

As verbas parlamentares, que haviam ficado represadas com a aprovação tardia do orçamento de 2025, foram o principal instrumento de pressão para viabilizar a agenda governista.

Um acordo para reservar cerca de R$ 61 bilhões em emendas para 2026 e prever que 65% das emendas impositivas (PIX e fundo a fundo) serão pagas até o primeiro semestre abriram caminho para aprovações inesperadas, como o corte de 10% de gastos tributários e o aumento de tributação sobre bets, JCP e fintechs — cuja estimativa de arrecadação ficou em torno de R$ 20 bilhões para 2026.

Apesar das vitórias para aumentar receitas ao longo do ano, a LOA ainda prevê aumento de arrecadação com imposto regulatório: logo no início do ano deve haver ampliação do Imposto de Importação.

Com esta medida final, com a qual o governo espera arrecadar em torno de R$ 13 bilhões, haverá alguma segurança sobre o cumprimento da meta de resultado primário de 0,25% do PIB em 2026.

Somado à mudança na LDO que garante a possibilidade de perseguir o piso, e não o centro do objetivo, o cenário é de relativo conforto para Lula durante o ano eleitoral, que ainda contará com um pano de fundo positivo em relação à inflação, ao nível de emprego e renda e ao crescimento da economia.

Haddad na sucessão

Com a fotografia do momento mais favorável a Lula e maior otimismo no PT sobre as eleições, é intensificada a movimentação sobre a composição do próximo governo.

Neste quadro, Fernando Haddad tem sido apontado como nome-chave para coordenar a campanha petista e, por alguns aliados, para disputar a vice-presidência no lugar de Geraldo Alckmin e comandar a Casa Civil neste que será, se chegar a ocorrer, o último mandato de Lula.

Há alguns meses a tese vem sendo levantada, uma vez que, nestas duas funções, Haddad teria maior protagonismo durante a campanha — com um sinal de que seria o sucessor natural em 2030 — e mais possibilidade de controlar a agenda de governo.

O anúncio de que deve deixar a Fazenda já em fevereiro e colocar em seu lugar o secretário-executivo, Dario Durigan, reforçou a ideia de que Haddad terá papel central nas eleições.

No entanto, além de lidar com as disputas internas no PT e resistências do PSB — partido de Alckmin —, ainda resta convencer Lula sobre esta montagem.

Por ora, o presidente considera ter Haddad na disputa pelo governo em São Paulo, numa tentativa de melhorar sua própria performance no maior colégio eleitoral do país. Uma estratégia pensada para fortalecer palanques estaduais em eleições que devem ainda ser extremamente polarizadas e sem folga para nenhum dos concorrentes.

Candidatura Flávio

Quase um mês após anunciar que irá concorrer à Presidência da República apoiado pelo pai, Flávio Bolsonaro tem dado demonstrações de que não pretende abandonar a disputa, mesmo com a rejeição mais elevada entre todos os postulantes — em torno de 60%.

Se por um lado foi lançada como balão de ensaio diante da ausência de liderança clara na direita, a insistência do primogênito de Bolsonaro em agir como candidato e seu desempenho nas pesquisas positivo o suficiente para garantir uma vaga no segundo turno têm indicado que, dificilmente, haverá recuo a tempo de dar a espaço a Tarcisio de Freitas — até então apontando como o nome mais competitivo contra Lula.

Em que pese o esvaziamento de apoios sobre sua candidatura — os grandes partidos da centro-direita têm sinalizado que não caminharão a seu lado, além da resistência entre os evangélicos —, Flavio tem dado entrevistas e batido nas portas de representantes do establishment para se apresentar como um “Bolsonaro centrado”.

Nessas conversas, tem pontuado que tomou vacina durante a pandemia de Covid, feito um mea-culpa por falas do pai em relação à imprensa, mulheres e gays e apontado que sua agenda econômica será tocada por nomes com interlocução no mercado.

Senador pelo PL, Flavio também tem reforçado que a candidatura é para valer e rebatido a tese de que não iria até o fim porque precisa se eleger novamente ao Senado para manter o foro privilegiado.

Em conversas recentes, tem destacado que, no Supremo, não encontra terreno amigável, então não seria uma perda de fato “cair” para a primeira instância. Além de buscar empatia ao apresentar uma agenda econômica mais alinhada com o mercado, Flavio reforça as pautas da segurança pública e do envolvimento de familiares de Lula com o escândalo do INSS — que teve irmão e filhos citados — como fragilidades do PT.

Ainda assim, as principais lideranças da oposição permanecem céticas quanto à sua capacidade de reduzir a rejeição e analisam a possibilidade de ter uma candidatura alternativa — possivelmente com Ratinho Jr. — para disputar o segundo turno contra Lula. Assim, fica reforçada a divisão na direita, ainda sem perspectiva de uma unificação para fazer frente ao PT nas urnas.

Congresso

Temas polêmicos que não perpassam a agenda legislativa diretamente devem seguir presentes no noticiário, esquentando a temperatura política, mesmo durante o recesso no Congresso.

As operações da Polícia Federal e ações no Supremo envolvendo emendas parlamentares podem trazer desdobramentos ao longo dos próximos meses com potencial de impactar a corrida eleitoral.

Além das emendas, investigações no âmbito da Operação Carbono, do escândalo no INSS e do episódio envolvendo o banco Master também acendem um alerta entre os parlamentares.

Em dezembro, alguns casos geraram desconforto em Brasília e a expectativa é que viremos o ano, mas não a página dessas histórias: desde a revelação do contrato de quase R$ 130 milhões do escritório da esposa do ministro Alexandre de Moraes com o Master, passando pela operação tendo como alvo uma assessora da Câmara responsável pela organização na distribuição de emendas e, em outra ocasião, a ação contra o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante, em que foram apreendidos quase meio milhão de reais em dinheiro vivo.

Apesar da possibilidade de aprofundamento das investigações, da instalação de novas CPIs e da pressão pelo impeachment de ministros do Supremo, existe uma percepção de que, por envolver integrantes dos Três Poderes e nomes importantes de diferentes colorações partidárias, haveria um limite para o alcance destas ações.

No caso de Moraes, apenas um impeachment conduzido pelo Senado poderia resultar em danos concretos — mas a possibilidade é remota em 2026, uma vez que o aliado David Alcolumbre se nega a dar prosseguimento aos pedidos existentes.

O tema, portante, deve esquentar durante as eleições e mobilizar a base bolsonarista para ocupar mais cadeiras no Senado e tentar formar maioria para mudar esta composição a partir de 2027.

Com tantas frentes de investigação, o clima em Brasília é de apreensão e ainda não há clareza, entre as principais lideranças políticas, sobre as possibilidades de blindagem do processo eleitoral.

Em eleições sem vencedores de véspera como devem ser as de 2026, fatores externos como estes adicionam ainda mais incerteza a um panorama que já se antecipa desafiador.

Em alguma medida, o desenho de 2026 começa a ficar mais nítido: Lula chega competitivo, amparado por um orçamento funcional e pela ausência de um adversário consolidado, enquanto a direita paga o preço da fragmentação e das disputas internas. Ainda assim, a eleição não será decidida pelo que dizem as pesquisas a esta altura, mas pela capacidade de controlar riscos — fiscais, políticos e institucionais — e propor uma melhora nas perspectivas sobre o futuro ao longo do caminho.

Em um cenário apertado e polarizado, vencerá quem conseguir transformar estabilidade e confiança em narrativa e sobreviver a um processo eleitoral que promete ser tão imprevisível quanto desgastante.

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