Ciência

Variante brasileira pode infectar até mesmo quem já tem anticorpos contra covid-19

Segundo a imunologista Ester Sabino, a nova variante pode infectar mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus depois de uma primeira infecção natural

 (Yuichiro Chino/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 1 de março de 2021 às 17h34.

Última atualização em 2 de março de 2021 às 15h48.

 A variante de Manaus do coronavírus, que provavelmente emergiu na capital do Amazonas no fim do ano passado, pode ser capaz de driblar o sistema imune de indivíduos já infectados pela covid-19 e causar uma nova infecção, de acordo com uma pesquisa sobre a nova variante, que tem causado temores ao redor do mundo.

"Essa nova variante pode infectar mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus depois de uma primeira infecção natural", disse à Reuters a imunologista Ester Sabino, professora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e uma das coordenadoras do trabalho.

O estudo, coordenado por Sabino e o pesquisador da Universidade de Oxford Nuno Faria, foi feito com base na análise genômica de 184 amostras de pacientes diagnosticados com covid-19 em um laboratório de Manaus entre novembro de 2020 e janeiro de 2021.

Por meio de modelagem matemática, cruzando dados genômicos e de mortalidade, a equipe de pesquisadores calcula que a variante de Manaus, conhecida como P.1., seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que as linhagens que a precederam, segundo nota da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoiou o estudo.

"Os cientistas estimam ainda que em parte dos indivíduos já infectados pelo SARS-CoV-2 --algo entre 25% e 61%-- a nova variante seja capaz de driblar o sistema imune e causar uma nova infecção", disse a Fapesp. O trabalho de modelagem foi feito em colaboração com pesquisadores do Imperial College de Londres.

Diante de uma variante mais transmissível, há uma grande preocupação sobre como as vacinas aprovadas contra a Covid-19 irão reagir a ela. Apesar de também tratar de imunidade, o estudo não tem relação com eventual eficácia das vacinas, uma vez que o trabalho se baseou apenas na imunidade de pessoas que já tiveram a doença, segundo a imunologista.

"O trabalho sugere que esse vírus consegue evadir a imunidade adquirida por infecção, não dá pra falar de vacina nesse momento. Depois vai depender da vacina, podem ser vacinas diferentes", afirmou Sabino. O estudo foi enviado para processo de revisão por pares.

O trabalho também apontou que em apenas sete semanas a P.1. tornou-se a linhagem do SARS-CoV-2 mais prevalente na região de Manaus. Segundo Sabino, "parece bastante provável" que a nova variante consegue se replicar mais no organismo humano do que a linhagem anterior.

A nova variante é apontada como uma das causas do colapso do sistema de saúde de Manaus no início deste ano, quando a capital do Amazonas sofreu uma falta de oxigênio nos hospitais devido à explosão de casos novos, com pacientes morrendo sufocados nos leitos.

A cepa já se espalhou para ao menos seis Estados e chegou a outros países, como o Reino Unido, onde uma outra variante também mais transmissível causou uma explosão de casos no fim do ano passado.

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