(Ricardo Moraes/Reuters)
Alessandra Azevedo
Publicado em 2 de maio de 2021 às 10h57.
Desde o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, em janeiro, caiu pela metade o número de mortes de pessoas de 80 anos ou mais. Mais de 13,8 mil mortes foram evitadas nessa faixa etária em oito semanas, entre meados de fevereiro e abril. É o que mostra estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
O percentual de mortes entre pessoas de 80 anos ou mais, em relação ao total de óbitos por covid-19, caiu de 28% -- índice registrado em janeiro, quando começou a campanha de vacinação no Brasil -- para 13% no fim de abril, mostra o levantamento. O percentual atual é o menor já registrado para o grupo etário durante toda a pandemia.
Em 2020, entre 25% e 30% de todas as mortes registradas por covid-19 foram de idosos nessa faixa etária. Para chegar às conclusões, os pesquisadores usaram dados oficiais do Ministério da Saúde no intervalo de 3 de janeiro a 22 de abril. Nesse período, o país registrou 171.454 mortes pelo novo coronavírus, 45% do total desde o início da pandemia.
O estudo também mostra que, em janeiro, a taxa de mortalidade entre pessoas de 80 anos ou mais era 13,7 vezes maior do que para pessoas com até 79 anos. No início de abril, essa relação caiu para 6,9 vezes. A tendência de queda continua: dados preliminares mostram que, na semana entre 11 e 17 de abril, o índice caiu para 5,8 vezes.
Quase 14 mil mortes de idosos com 80 anos ou mais foram evitadas entre meados de fevereiro e abril, segundo o levantamento. Com a vacinação, foram registrados 34.168 óbitos no período. Se o número de mortes tivesse se mantido no mesmo ritmo observado entre os mais jovens, seriam 47.992.
Segundo os pesquisadores, o motivo para a queda é o aumento da cobertura vacinal entre os brasileiros com 80 anos ou mais. Em março, 95% da população dessa faixa etária havia recebido a primeira dose da vacina. Na primeira quinzena de fevereiro, eram 50%.
Os resultados da pesquisa confirmam o efeito protetor da primeira dose da vacina, que é potencializado com a segunda dose. Os dados, entretanto, não permitem avaliar o impacto de cada vacina separadamente. Três em cada quatro doses administradas no Brasil foram da CoronaVac, enquanto a de Oxford/AstraZeneca é responsável por quase todo o restante.
O estudo sugere que a vacina protege mesmo em um cenário com predominância da variante P.1, identificada pela primeira vez em dezembro, no Amazonas, que levou o número de mortes por covid-19 a disparar no fim de fevereiro. Das 377.124 mortes causadas pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, mais de 45% (171.454) aconteceram em 2021.
Em março, a nova cepa já respondia por mais da metade dos diagnósticos da doença em oito dos dez estados brasileiros com dados disponíveis sobre sequenciamento genômico do vírus. A conclusão reforça resultados de pesquisas feitas em Manaus e em São Paulo, entre profissionais da saúde, que confirmam a proteção a partir da primeira dose aplicada em populações afetadas pela nova cepa.