Ciência

Universidade do Ceará quer doar pele de tilápia para queimados no Líbano

Universidade Federal do Ceará, que tem um estoque das peles, colocou material à disposição do governo federal

tilapia (Viktor Braga/UFC/Divulgação)

tilapia (Viktor Braga/UFC/Divulgação)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 18h18.

Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 21h54.

A recuperação de queimaduras em parte dos 5 mil feridos na explosão que destruiu a cidade de Beirute, capital do Líbano, nesta terça-feira, poderia ser otimizada com a ajuda de um tratamento descoberto pela Universidade Federal do Ceará, que usa a pele do peixe tilápia.

O projeto do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos colocou à disposição do governo federal todo o estoque de 40 mil centímetros quadrados da pele do peixe, para que seja doado ao governo libanês.

De acordo com um dos idealizadores da pesquisa, o médico Edmar Maciel, é necessário, no entanto, que o governo federal procure o Líbano e ofereça as peles.

A partir de uma pesquisa iniciada em 2015, a universidade cearense descobriu que a pele de tilápia, quando aplicada sobre queimaduras, melhora a recuperação do tecido corporal devido ao seu alto nível de colágeno, protege a pessoa de infecções externas e mantém a umidade da ferida.

Além dos mais de 5 mil feridos, a explosão em um depósito de nitrato de amônio no porto da capital libanesa deixou pelo menos 137 mortos.

A explosão chamou atenção pelo tamanho e pelas cenas de guerra deixadas na cidade. Vídeos foram publicados nas redes sociais em que mostram o momento exato da explosão.

Diversos países já ofereceram ajuda ao país, entre eles o Brasil. O presidente Bolsonaro afirmou que o governo está em contato com representantes da comunidade libanesa em São Paulo para definir que tipo de ajuda será enviada.

Questionado sobre o envio de pele de tilápia, o Ministério da Saúde ainda não respondeu a Exame.

Tratamento com pele de tilápia

As pesquisas da Universidade Federal do Ceará descobriram que o tempo de cicatrização foi reduzido entre 10 e 20% e o preço do tratamento reduzido em 70%.

A redução do valor foi verificada na comparação com a sulfadiazina de prata, pomada que precisa ser aplicada todos os dias junto de curativos e é considerado um tratamento tradicional contra queimaduras.

De acordo com o professor Odorico de Moraes, médico e diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, as pesquisas mostraram que a aplicação da pele do peixe sobre as queimaduras garante uma recuperação tão boa quanto a aplicação de pele humana de cadáveres, considerado o padrão ouro para tratamento de queimaduras.

“O percentual de colágeno tipo 1 é parecido com o da pele humana, o que facilita o processo de cicatrização, sendo 40% maior que a pele de porco (outro tipo de pele animal utilizado na recuperação de queimaduras, principalmente nos Estados Unidos),” explica.

Entre as mais de 300 pessoas testadas nas fases da pesquisa, nenhuma desenvolveu infecções. Além disso, a perda de água, um dos problemas mais graves em quem tem grandes partes do corpo queimadas, foi bastante reduzida.

As pesquisas com a pele de tilápia já mostraram bons resultados em laboratório, mas, de acordo com o professor Odorico, precisam da capacidade de produção e do interesse da indústria farmacêutica para que o tratamento seja aprovado pela Anvisa e produzido comercialmente no país.

A pele poderia ser aplicada não só sobre queimaduras, mas também ser usada na produção de cosméticos e subprodutos que precisam de colágeno. Lesões no tímpano e na córnea são alguns exemplos do que poderia ser tratado com o material.

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