Vacina: Oxford e AstraZeneca retomarão testes clínicos (Paul Biris/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 12 de setembro de 2020 às 10h54.
Última atualização em 12 de setembro de 2020 às 10h56.
A vacina contra o novo coronavírus que está sendo desenvolvida pela universidade britânica de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca retomará os testes clínicos em breve no Reino Unido, após a paciente que apresentou efeito colateral ter tido alta na última quinta-feira, 9. A informação foi publicada no site da farmacêutica.
Segundo a empresa, o comitê britânico que analisou os efeitos colaterais da paciente concluiu que a vacina é segura e permitiu que os testes voltassem a acontecer. Outros países nos quais os testes também acontecem não foram citados pela companhia. "A AstraZeneca está comprometida em assegurar a segurança dos participantes dos testes e vamos continuar a trabalhar com autoridades de saúde ao redor do mundo", afirmou a companhia.
A vacina de Oxford está atualmente na fase 2/3 de testes na Inglaterra e na Índia e na fase 3 no Brasil, na África do Sul e em mais de 60 locais nos Estados Unidos — onde a vacina seria testada em 30 mil pessoas. É também considera a opção mais avançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A paciente teve mielite transversa, doença causada por um processo inflamatório na medula espinhal, comumente causado por infecções virais, uma reação considerada não grave à vacina.
Em nota enviada à EXAME na última quarta, a Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (uma das responsáveis pelos testes da vacina da universidade britânica do Brasil) afirmou que, por aqui, “o estudo envolve cinco mil voluntários e avança como o esperado”. “Muitos já receberam a segunda dose e até o momento não houve registro de intercorrências graves de saúde”, afirmou a universidade.
Chamada de ChAdOx1 (AZD1222), a proteção de Oxford e da AstraZeneca é baseada no adenovírus (grupo de vírus que causam problemas respiratórios, como resfriados) enfraquecido de um chimpazé. A vacina do Instituto de Biotecnologia de Pequim em parceria com a empresa chinesa CanSino também é feita com base no adenovírus, que não é um processo totalmente desconhecido pelos cientistas.
A opção também contém a sequência genética das espículas do SARS-CoV-2. “Quando a vacina entra nas células dentro do corpo, ela usa o código genético para produzir as espículas de proteínas do vírus. Isso induz a uma resposta imune, o que prepara o sistema imunológico para atacar a doença se ela infectar o corpo”, explica a universidade britânica em um comunicado publicado em seu site oficial.
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga.
Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.
Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.