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Remdesivir, regeneron, coquetel de anticorpos: como estão os remédios contra a covid-19?

Em meio às aprovações das vacinas, as medicações ficaram em segundo plano, mas seus testes não pararam no tempo para esperar que os imunizantes acabem com a covid-19

Medicações: tratamentos para a covid-19 estão sendo estudados (Andriy Onufriyenko/Getty Images)

Tamires Vitorio

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 08h00.

Remdesivir. Coqueteis de anticorpos das farmacêuticas Eli Lilly e Regeneron. Todos os tratamentos são opções em potencial contra o novo coronavírus que, recentemente, apresentaram bons resultados no combate à pandemia. Em meio às aprovações das vacinas, as medicações ficaram em segundo plano, como era de se esperar, mas seus testes não pararam no tempo para esperar que os imunizantes acabem com a covid-19.

Até o momento, apenas um tratamento foi passou pelas regras do Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês, órgão análogo à Anvisa no Brasil) nos Estados Unidos: o antiviral remdesivir. Em novembro do ano passado, o medicamento se tornou a primeira droga aprovada para o tratamento do SARS-CoV-2. Também nos EUA, outras medicações, como o coquetel de anticorpos bamlanivimab e o da Regeneron receberam a aprovação emergencial do órgão americano.

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Ao todo, 23 medicamentos estão sendo testados contra a covid-19. Até o momento, as informações e evidências sobre o potencial de cura deles variam – mas, como diz o ditado, às vezes é melhor prevenir do que remediar.

Confira abaixo em que pé estão alguns dos principais medicamentos utilizados no tratamento do vírus:

O remdesivir

Criado pela farmacêutica americana Gilead Sciences, o Remdesivir tinha como objetivo inicial tratar doenças como hepatite C e RSV (um vírus que, assim como o coronavírus, causa infecções respiratórias), o remdesivir (em qualquer formato) é capaz de imitar uma parte do RNA viral da covid-19, o que o faz ser uma prevenção necessária para que o RNA não se instaure de forma mais grave no organismo humano.

Dessa forma, o vírus não consegue se reproduzir ou se replicar e todo o processo de infecção se torna mais lento.

O medicamento já foi testado para uso em casos de Ebola e de SARS e MERS — mas nunca foi aprovado para o uso nesses casos.

Muitos especialistas, segundo o jornal americano The New York Times, ainda têm dúvidas sobre a medicação. Entre as preocupações estão o fato de poucas evidências estatísticas que comprovam que o remdesivir realmente previne mortes por covid-19. Em novembro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desencorajou o uso global do medicamento – segundo o órgão, baseado em todos os testes publicados, foi concluído que a evidência acerca dos benefícios de seu uso eram poucas. O que travou a aprovação da droga no Brasil.

 

Mas não nos EUA. Por lá, a companhia faturou 2,8 bilhões de dólares somente em 2020. Nos Estados Unidos, um tratamento de cinco dias com o remdesivir custa 3.120 dólares.

Coquetel da Eli Lilly

Eli Lilly

No final de janeiro, um estudo afirmou que os anticorpos criados pela farmacêutica americana Eli Lilly conseguiram impedir infecções causadas pela covid-19 em moradores e funcionários de uma casa de repouso. A droga, chamada bamlanivimab, (a mesma que já foi aprovada para uso emergencial) reduziu o risco de as pessoas ficarem doentes em cerca de 57% do grupo total e em 80% dos residentes.

Os resultados em quadros mais graves, no entanto, foram decepcionantes: em outubro de 2020, o National Institutes of Health (NIH) americano parou os testes de uma combinação entre o bamlanivimab e o remdesivir em pacientes hospitalizados.

O bamlanivimab é um anticorpo que visa neutralizar a proteína spike da covid-19 (ou espícula), responsável pela entrada do vírus na célula humana ao se acoplar no receptor da enzima conversora da angiotensina 2 , ou ECA2. O remédio é administrado por via intravenosa, como quando um paciente recebe soro pela veia – uma forma bastante conhecida de administração de medicamentos.

A medicação pertence a uma categoria na medicina conhecida como anticorpos monoclonais, ou mAb, que são anticorpos criados em laboratório e imitam a função dos originais que o sistema imunológico das pessoas produzem para evitar outras doenças causadas por vírus.

Para tomar a droga, é preciso ter mais de 12 anos de idade e pesar mais de 40 quilos, além de, é claro, apresentar alto risco de progressão para quadros graves ou hospitalizações pelo SARS-CoV-2. O paciente também precisa ter um resultado positivo para a infecção, não estar gravemente doente para necessitar oxigenoterapia ou hospitalização e ter apresentado os sintomas na janela de dez dias.

Segundo o Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), os efeitos adversos dos anticorpos monoclonais são divididos em dois grupos: os que derivam da ação do anticorpo, “como infecções oportunistas, comuns ou fenômenos autoimunes” e os oriundos da administração de proteínas, como reações anafiláticas, síndrome de liberação de citocinas e desenvolvimento de anticorpos. As reações adversas mais comuns do bamlanivimab são tontura, dor de cabeça, coceira, hipersensibilidade não grave, diarreia, vômito, febres, dores musculares e irritação na garganta.

Regeneron

Funcionário trablha em laboratório da farmacêutica Regeneron. 24/3/2015. REUTERS/Mike Segar

O coquetel de medicamentos utilizado pelo ex-presidente americano Donald Trump também foi aprovado para uso emergencial nos Estados Unidos. Segundo resultados de testes clínicos avançados, o coquetel se mostrou eficaz na prevenção de infecções pela covid-19.

A medicação serve como “vacina passiva” por entregar os anticorpos já prontos ao organismo, enquanto as vacinas induzem uma resposta imune no organismo humano.

A Renegeron afirmou que uma morte e uma internação por conta do SARS-CoV-2 foram relatadas durante os testes. Ambas as pessoas faziam parte do grupo de placebo, ou seja, não receberam o coquetel de medicamentos e incidentes não aconteceram no grupo de tratamento.

Assim como o bamlanivimab, o REGEN-COV é um anticorpo que visa neutralizar a proteína spike da covid-19 (ou espícula), responsável pela entrada do vírus na célula humana ao se acoplar no receptor da enzima conversora da angiotensina 2, ou ECA2.

A medicação pertence a uma categoria na medicina conhecida como anticorpos monoclonais, ou mAb, que são anticorpos criados em laboratório e imitam a função dos originais que o sistema imunológico das pessoas produzem para evitar outras doenças causadas por vírus.

Ivermectina

Remédios

Outro medicamento controverso que tem sido usado no tratamento de casos de SARS-CoV-2 é a ivermectina,fármaco usado no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas. Em abril passado, pesquisadores australianos apontaram que a droga foi capaz de bloquear os coronavírus em culturas de células – as doses administradas, tão altas, poderiam afetar negativamente as pessoas. O FDA, então, foi contra o uso do medicamento de animais em pessoas para tratar ou prevenir quadros de covid-19.

Diversos estudos já foram feitos sobre a eficácia da medicação. O guia de tratamento feito pelo NIH diz que "não existe dados suficientes para recomendar ou negar o uso da ivermectina para a doença". "Mesmo assim, o medicamento está sendo prescrito cada vez mais na América Latina, muito pela preocupação dos especialistas de saúde. Nos Estados Unidos, o Senado realizou um comitê em dezembro no qual um doutor definiu a invermectina como 'uma droga milagrosa' contra a covid-19", disse o órgão americano.

Segundo a farmacêutica norte-americana MSD (Merck Sharp and Dohme), fabricante da medicação que não comercializa no Brasil, não existem evidências de que seu medicamento funciona para melhorar os efeitos da pandemia. Mais estudos estão sendo feitos para concluir se o remédio é ou não eficaz na luta contra a covid-19.

Plasma convalescente

O tratamento, que tem como base o plasma sanguíneo de pacientes recuperados da covid-19, já foi utilizado em outras doenças há um século – quando o assunto foi a gripe. O plasma, repleto de anticorpos, à época ajudou uma série de pessoas a lutar contra a gripe. A ideia é que o mesmo aconteça em 2020.

O tratamento se mostra mais promissor nos primeiros dias de diagnóstico da covid-19. Um teste realizado no início de janeiro na Argentina afirmou que o plasma poderia prevenir casos de pessoas recém-infectadas de desenvolver quadros de graves da doença.

Trump, durante seu mandato, apoiou o uso do tratamento mesmo sem evidências científicas concretas. Já os cientistas do governo impediram o FDA de aprovar o plasma convalescente em pacientes com covid-19. Desde então, diversas pessoas receberam esse tratamento, sem evidência alguma de testes maiores de que ele funcionava.

Apenas um teste foi grande o suficiente. Foram 10 mil pessoas no Reino Unido, e os pesquisadores investigaram se o tratamento trazia ou não algum benefício. Em janeiro deste ano, os cientistas anunciaram que o estudo seria pausado por não mostrar nenhuma melhora em quadros de SARS-CoV-2.

Dexametasona

Remédio

A dexametasona, um anti-inflamatório corticosteroide que é utilizado em crises de asma e também por alpinistas no combate aos efeitos da falta de oxigênio em altas altitudes, apresentou bons resultados no tratamento do coronavírus em testes realizados no ano passado.

Segundo os especialistas, o tratamento com esse medicamento reduziu em até um terço o risco de morte dos pacientes entubados usando respiradores mecânicos; e em um quinto para pessoas que estavam recebendo oxigênio suplementar por causa do coronavírus.

A estimativa dos pesquisadores é de que, se o remédio estivesse em uso desde o começo da pandemia da covid-19, mais de 5 mil vidas poderiam ter sido salvas. Em testes, o remédio reduziu em 20% o número de mortes de pacientes internados infectados pelo novo coronavírus.

A dose administrada do esteroide foi baixa e ele já é utilizado para reduzir inflamações em alguns casos. A dexametasona parece parar o colapso da imunidade dos pacientes gravemente infectados pela doença; mas não traz benefícios para indivíduos com sintomas mais leves.

No estudo feito no Reino Unido, o custo do tratamento foi de 5,40 libras esterlinas por dia (34,61 reais na cotação atual). Para os pesquisadores, a medicação, por ser barata, pode beneficiar países mais pobres. A pesquisa faz parte de uma ampla testagem de tratamentos já existentes para descobrir se eles funcionam também contra o coronavírus.

Os medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a covid-19 – ou que ainda precisam ser estudados a fundo

Lopinavir e ritonavir

*Com Maria Eduarda Cury

No ano passado, um estudo publicado na revista científica The Lancet reportou que o tratamento com uma combinação das drogas lopinavir e ritonavir não foi eficaz para o tratamento de pacientes com coronavírus. O ensaio clínico se baseou na aprovação do medicamento antiviral que combinava as duas drogas, para o tratamento da doença. Com o resultado do estudo, os pesquisadores afirmam, porém, que essa aprovação deve ser revisada.

Os pacientes foram analisados entre os dias 19 de março e 29 de junho de 2020. 1.616 deles receberam a dose do remédio combinado, enquanto os outros 3.424 receberam o tratamento sem o remédio. 23% dos pacientes que foram tratados com lopinavir-ritonavir morreram dentre 28 dias, enquanto a porcentagem de mortes dos que não receberam o remédio foi de 22%.

Os resultados comprovam que não existe uma grande diferença no tratamento com o remédio, além de não reduzir o tempo médio de internação dos pacientes em tratamento. Todos os indivíduos permaneceram internados por cerca de 11 dias, nos dois grupos.

Também não houve uma diferença significativa entre os subgrupos, se divididos por gênero, idade, sexo e etnia, de pacientes. Ainda de acordo com os autores, o tratamento também não é eficaz para os pacientes que necessitam de intubação nas vias aéreas, por também não representarem melhora em relação aos pacientes que não receberam o remédio.

Há 20 anos, a combinação foi aprovada para o uso contra o HIV. Os efeitos contra a covid-19, no entanto, não foram satisfatórios – no começo de julho do ano passado, a OMS suspendeu os testes que estavam sendo realizados com as medicações, mas não excluíram os estudos que estavam observando se a combinação poderia ajudar pacientes que não estavam doentes o suficiente para serem hospitalizados, ou para prevenir aqueles que foram expostos ao vírus.

Cloroquina e hidroxicloroquina

Talvez uma das medicações mais controversas, a hidroxicloroquina e a cloroquina pareciam ser a resposta correta para a dúvida de quais drogas poderiam salvar os pacientes da covid-19. A realidade não foi bem assim.

Um estudo realizado pela Universidade de Oxford mostrou que a cloroquina, além de não trazer benefícios para os infectados pelo SARS-CoV-2, também pode agravar os quadros em determinadas situações. Outra pesquisa mais recente, feita pelo Angers University Hospital com 250 pacientes, chegou a mesma conclusão.

A ineficácia do medicamento também foi comprovada por cientistas brasileiros. Cerca de 667 pacientes participaram do estudo, os homens eram a maioria e os voluntários tinham quadros leves ou moderados da doença. À época, a medicação foi administrada por até 15 dias e, no fim do período, nem o uso da cloroquina sozinha e nem quando combinada com a azitromicina demonstrou algum benefício em relação ao tratamento padrão para os casos da doença.

Em janeiro deste ano, Didier Raoult, médico francês que defendeu o uso da medicação para tratar a doença, afirmou que estava errado ao dizer que a cloroquina funcionava no tratamento da covid-19.

Em março do ano passado, Raoult fez um estudo com 42 pacientes internados por conta da covid-19. 16 deles foram tratados com a hidroxicloroquina, 8 com a combinação hidroxicloroquina-azitromicina e os outros 18 não receberam nada. Segundo a nota, no entanto, não houve diferença significativa entre os grupos para afirmar a eficácia da medicação.

A informação já havia sido confirmada pela OMS em meados de 2020, quando todos os estudos que averiguavam a eficácia da medicação no combate à pandemia foram pausados.

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