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Professor de Harvard quer saber como criar um super humano

Church criou uma planilha para monitorar alterações genéticas necessárias. Calma: sem Capitão América por enquanto

Capitão América: Steve Rogers foi de um jovem mirrado a super-soldado (Marvel/Reprodução)

Tamires Vitorio

Publicado em 29 de julho de 2020 às 10h03.

Na ficção, a ciência é uma das grandes responsáveis pela transformação de pessoas comuns em super-heróis . Os exemplos dos quadrinhos e filmes são vários: desde a aranha radioativa que picou Peter Parker (o Homem-Aranha) durante um passeio da escola, a transformação do cientista Bruce Banner em algo um pouco menos humano -- e mais verde --, com uma raiva incontrolável a princípio, até um soro capaz de transformar o mirrado Steve Rogers no Capitão América.

É claro que não é só a ciência que é representada no mundo dos heróis. Como explicar o bilionário Tony Stark (o Homem de Ferro) e até mesmo Bruce Wayne (o Batman) sem a tecnologia? Mas calma, o assunto não é bem esse.

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E se fosse possível fazer alterações genéticas capazes de transformar um ser humano comum em uma máquina para defender a humanidade? Ainda não é, mas isso não significa que cientistas no mundo todo não estejam tentando.

É o caso do geneticista George Church, de Harvard , que criou uma planilha para monitorar quais alterações genéticas são necessárias para a criação de um super humano. Um dos genes apontados pelo cientista é o LRP5, capaz de causar "ossos extremamente fortes", mas com o efeito colateral de níveis baixos de flutuabilidade na água.

Para explicar melhor, é quase como quando o adamantium foi inserido no corpo do Wolverine. Nesse caso, os problemas não eram genéticos, mas o vilão Magneto (que tinha controle sobre metais), conseguia controlar também o herói. Com o bônus, vem o ônus. E nem sempre ele vale a pena.

A planilha de Church pode servir como um spoiler das mudanças que podem acontecer quando houver uma permissão de "hackear" a genética humana de uma forma mais segura.

Mesmo que não seja para criar novos super-heróis, a planilha aponta que alterar os genes humanos para evitar certas doenças, como como o alzheimer, o câncer e até mesmo Ebola, podem causar efeitos colaterais complicados.

Por exemplo, o gene CCR5, capaz de criar resistência ao HIV pode acabar deixando a pessoa mais vulnerável à infecção viral do Nilo Ocidental. Essa alteração já aconteceu, não em Harvard, mas na China, em 2019, quando o cientista He Jiankui fez alterações nos genes de bebês do sexo feminino --- e foi escrutinado pela comunidade científica mundial.

Outro gene, o APOA1, que poderia parar os casos leves de doença arterial coronariana, poderiam acabar diminuindo a cognição dos indíviduos e também causar quadros de diabetes.

Ainda não se sabe se os dados compilados por Church fazem parte de uma pesquisa mais aprofundada ou se foi apenas uma forma que ele encontrou para analisar todas as situações possíveis ao hackear a genética humana.

O que é o hack de DNA?

De uma forma simples, hackear um DNA é como hackear um computador, por exemplo. Só que muito mais complicado, sensível e com grandes chances de dar errado.

Até mesmo na comunidade científica a questão divide opiniões. Quando o chinês He Jiankui alterou os genes das gêmeas para que elas se tornassem resistentes ao HIV, o mundo entrou em uma discussão sobre a falta de consentimento de todas as partes para a realização de um procedimento tão complicado e sério e acendeu o debate sobre os limites éticos da medicina.

A mudança é, muitas vezes, feita direto do útero da mãe e à época Jiankui afirmou à agência de notícias francesa AFP que uma outra mulher estaria carregando um bebê de genes editados. Segundo o MIT Technology Review , o médico responsável pela alteração está sendo investigado pelas alterações feitas no embrião.

A edição genética começou já nos anos 90 e era tida como uma revolução na biotecnologia para muitos. Com esse tipo de medicina, se tornou possível escolher a cor dos olhos dos filhos, quais seriam as características preferidas em uma criança, entre diversas outras.

Para que a mudança aconteça, segundo uma pesquisa feita por Rafael Nogueira Furtado, pós-graduando da PUC de São Paulo, é preciso que, primeiro, seja feito o reconhecimento do DNA e depois se inicia a fase de mudanças das moléculas.

Para a maioria dos cientistas, a alteração de DNA deve ser feita somente quando é voltada para o tratamento de patologias. Em 2015, a revista científica Nature publicou um artigo que afirmava que "as modificações genéticas humanas hereditárias apresentam sérios riscos, e os benefícios terapêuticos são tênues".

Criar super humanos ainda é um tabu. Quem quiser se tornar um Steve Rogers terá que esperar.

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