Ciência

Cientistas criam modelos vivos de embriões humanos pela primeira vez

Os chamados blastoides serão úteis para entender sobre problemas no desenvolvimento do feto no embrião

Animação realizada por um dos grupos de pesquisa mostra embriões humanos primitivos (Monash University/Reprodução)

Animação realizada por um dos grupos de pesquisa mostra embriões humanos primitivos (Monash University/Reprodução)

LP

Laura Pancini

Publicado em 17 de março de 2021 às 15h44.

Última atualização em 17 de março de 2021 às 16h28.

Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram desenvolver o que eles afirmam ser os primeiros modelos vivos de embriões humanos primitivos.

Os embriões são chamados pelos pesquisadores de blastoides, que são conjuntos celulares que se assemelham aos blastocitos, estágio de desenvolvimento do embrião cinco a dez dias após a fertilização do óvulo. Eles contêm todos os tipos de célula, mesma atividade bioquímica e estrutura geral dos embriões naturais, mas não são réplicas perfeitas e não podem, por exemplo, serem implantados em um útero.

Porém, eles podem influenciar em pesquisas na área de engenharia genética humana e até mesmo na clonagem de seres humanos, fator que levou a Sociedade Internacional para Pesquisas com Células-Tronco a desenvolver novas diretrizes éticas para o cultivo de modelos de embriões baseados em células-tronco, que devem ser publicadas em maio deste ano.

Os dois grupos que desenvolveram pesquisas sobre os blastoides fazem parte da Monash University, na Austrália, e da University of Texas, nos Estados Unidos. As equipes querem compreender como problemas no desenvolvimento do feto no embrião podem levar a abortos espontâneos ou defeitos congênitos.

“Os blastoides permitirão aos cientistas estudar as primeiras etapas do desenvolvimento humano e algumas das causas da infertilidade, doenças congênitas e o impacto de toxinas e vírus em embriões precoces — sem o uso de blastocistos humanos e, principalmente, em uma escala sem precedentes, acelerando nossa compreensão e o desenvolvimento de novas terapias”, disse Jose Polo, líder do projeto na Monash University.

As equipes cultivaram seus blastoides a partir de células-tronco, que derivam da reprogramação de células adultas ou são extraídas de embriões. Elas foram cultivadas em placas de laboratório para ser desenvolvidas como embriões reais por uma semana, até se tornarem blastoides de tamanho e forma parecidas aos blastocitos naturais.

Por motivos éticos, o cultivo de embriões humanos não deve ultrapassar 14 dias. Mesmo trabalhando com os blastoides, os pesquisadores seguiram o mesmo limite.

Os blastoides conseguiram desenvolver mais de 100 células, que estavam começando a se diferenciar em mais e mais tipos de células. Caso a evolução continuasse, tudo indica que elas chegariam a produzir tecidos diferentes. Alguns dos blastoides, inclusive, simularam a implantação no útero ao se fixar na placa de laboratório e desenvolverem células usadas para o desenvolvimento da placenta.

Embora os blastoides sejam muito valiosos para estudar o início da gravidez, os cientistas insistem que eles não devem ser considerados embriões sintéticos. “Existem muitas diferenças entre blastoides e blastocistos”, disse Jun Wu, líder da equipe do Texas. “Blastoides não seriam embriões viáveis.”

“Os modelos têm o potencial de melhorar os tratamentos para infertilidade e intervenções para defeitos cardíacos e cerebrais congênitos e outras doenças genéticas”, acrescentou a pesquisadora Naomi Moris. “À medida que esses modelos continuam a avançar, os comitês de revisão de pesquisa precisarão de um conjunto de critérios para revisar a permissibilidade das propostas de pesquisa.”

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