Buraco negro mais próximo da Terra (ESO/Divulgação)
Tamires Vitorio
Publicado em 23 de junho de 2020 às 13h24.
Última atualização em 23 de junho de 2020 às 14h11.
Um objeto misterioso com massa 2,6 vezes maior que a do Sol encontrado por astrônomos no espaço pode ajudar a entender melhor como funcionam os buracos negros — pelo menos é o que aponta um estudo do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO, na sigla em inglês) e pelo detector europeu Virgo e publicado na revista científica The Astrophysical Journal Letters.
O objeto foi encontrado em 14 de agosto de 2019, quando colidiu com um buraco negro 23 vezes maior que o Sol, o que gerou ondas de gravidade detectadas na Terra. Na época, os cientistas não conseguiram entender o que havia acontecido com a ajuda dos telescópios, mas sabiam que era um evento único e um dos mais potentes sinais gravitacionais já detectados pela humanidade. Nesta terça-feira, 23, a publicação da pesquisa traz algumas descobertas — e outros mistérios.
A ciência nos conta que, quando uma estrela mais pesada morre, ela pode se transformar em um buraco negro ao entrar em colapso com sua própria gravidade. Já as mais leves explodem em supernovas e podem deixar para trás as estrelas de nêutron.
A maior estrela de nêutron conhecida é 2,5 vezes maior do que o Sol e não são comumente tão grandes — exatamente por entrarem em colapso com buracos negros quando isso acontece —, e o buraco negro mais leve é cinco vezes maior que a estrela central do sistema solar.
No entanto, o objeto descoberto pelos cientistas desafia as teorias já estabelecidas sobre o assunto, uma vez que há uma grande diferença na massa do objeto e no buraco negro ao qual se uniu — que é 9 vezes maior. Isso pode sugerir que o buraco negro pode ter "engolido" o objeto antes de ele enviar a onda gravitacional para a Terra, de acordo com os pesquisadores. "É como jogar Pac-Man e comer os pontinhos brancos no jogo. Quando as massas são assimétricas, o nêutron menor pode ser comido em apenas uma mordida", explicou a professora e coautora do estudo Vicky Kalogera, da Universidade de Northwersten, em Illinois, nos Estados Unidos.
Segundo Kalogera, a descoberta pode se tratar do buraco negro mais leve já encontrado ou da maior estrela de nêutron da história. "De qualquer forma, quebra um recorde", garantiu Kalogera ao Instituto de Tecnologia da Califórnia. E também pode mudar a forma como buracos negros são entendidos.
Agora os cientistas pretendem fazer futuras observações com o Ligo, o Virgo e outros telescópios para encontrar eventos semelhantes que possam revelar o que era o objeto misterioso.