O que é a síndrome de burnout, que afeta 33 milhões de brasileiros
Exaustão profissional pode causar sintomas parecidos com os do estresse comum, o que dificulta diagnóstico
Maria Eduarda Cury
Publicado em 29 de maio de 2019 às 05h55.
Última atualização em 29 de maio de 2019 às 05h55.
São Paulo - A exaustão profissional, que afeta mais de 33 milhões de brasileiros, foi oficializada nesta semana como síndrome crônica pela Organização Mundial da Saúde ( OMS ). Chamada de síndrome de burnout, ela apresenta sintomas como apatia, nervosismo, tontura, falta de apetite e dor de barriga.
O termo, criado pelo psicanalista alemãoHerbert Freudenberger, existe desde 1974 e é definido pelo mesmo como "um estado de esgotamento físico e mental com origem intimamente ligada à vida profissional". Freudenberger identificou o problema por meio de sua própria experiência, quando adoeceu por ter trabalhado mais de 14 horas por dia – sem descanso.
A OMS afirma que o estresse causado por âmbito profissional ou acadêmico não deve ser confundido com o estresse gerado por situações pessoais. Em entrevista a EXAME, o psicólogo comportamental Vitor Friary, diretor do Centro de Mindfulness, no Rio de Janeiro, disse que os sintomas da síndrome de burnout podem ser mais severos do que os originados do estresse comum, visto que as dores físicas são mais intensas e a pessoa passa a agir de forma automática e sem emoção, podendo vivenciar a despersonalização – processo psíquico que faz com que o indivíduo se sinta fora de si mesmo.
No entanto, ainda não existem critérios clínicos específicos para essa síndrome. Como os sintomas são bastante variados, eles podem ser confundidos com os do estresse comum.
O psiquiatra Henrique Bottura, do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou a EXAME que a situação é parecida com o vício em compras, que tem casos comprovados de indivíduos que sofrem do problema, mas não há uma lista de critérios que deve ser preenchida para o diagnóstico.
Como perceber o problema
A identificação é feita a partir da combinação de fatores externos e internos ligados ao indivíduo.
Ao trabalhar ou estudar em um ambiente hostil, onde o indivíduo não se sente confortável e vivencia situações de tensão e pressão extremas, ele pode sentir medo, falta de sono e de apetite, dores de cabeça, e aversão a tudo que se relacione com o trabalho, de maneira recorrente.
Para Friary, o principal problema que atrasa a identificação da síndrome é o fato de próprio paciente não a reconhecer. De acordo com o psicólogo, a oficialização da síndrome pela OMS ajuda as instituições - tanto públicas como privadas - a engajarem estratégias para aumentar a conscientização do problema dentro dos estabelecimentos. "Essa inclusão torna legitíma a importância do trabalho de diferentes áreas da saúde referentes ao tratamento", declarou Friary.
Apesar de o problema estar mais ligado a casos trabalhistas, ambos profissionais afirmaram adolescentes e crianças podem sofrer de desgaste emocional por conta de pressão em ambientes estudantis. O psiquiatra Henrique Bottura conta já ter presenciado estudantes de medicina sofrerem com alto nível de exigência acadêmica imposta por eles mesmos.
Como é o tratamento
Como a síndrome afeta corpo e mente, é necessário tomar mais de uma medida para solucionar os problemas associados a ela. Para Bottura, não são apenas remédios ou apenas mudança comportamental que resolvem: são os dois em conjunto. "Quando a pessoa já entrou em nível de burnout, não basta somente afastá-la do trabalho ou só fazer terapia, a recuperação envolve medicamentos, terapia, mudança de hábitos."
Quando já se está em nível avançado, medicamentos antidepressivos e ansiolíticos são recomendados por especialistas – e só devem ser consumidos com devida prescrição de profissionais de saúde. A combinação de atividades físicas, lazer e mudança de ambiente também são recomendados pelos profissionais no tratamento da síndrome.