Ciência

Nos Estados Unidos, polícia procura assassinos em sites de DNA

Nos serviços online de DNA, os problemas com a privacidade se emaranharam com questões culpa e inocência

 (cosmin4000/Thinkstock)

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Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 19 de junho de 2018 às 18h31.

Os serviços de testes genéticos para consumidores estão enfrentando uma nova ameaça à privacidade dos usuários: detetives que investigam seus dados de DNA em busca de criminosos.

Em abril, os investigadores prenderam um suspeito no caso do “Assassino do Estado Dourado” (o caso Golden State Killer), aberto há décadas, após analisarem dados genéticos na internet. A prisão desencadeou um dos debates recentes mais acalorados sobre a privacidade na era digital.

Cada vez mais serviços afirmam que podem usar um simples cotonete com o material genético de um consumidor para encontrar familiares perdidos há muito tempo ou identificar sinais precoces de doenças – e milhões de usuários compartilharam suas amostras com entusiasmo. Mas não houve muita discussão pública sobre onde esses dados são armazenados, como eles serão usados além das aplicações iniciais e quem pode ter acesso a eles.

Para ajudar a localizar o suposto Assassino do Estado Dourado, os investigadores compararam o DNA da cena de um crime com dados genéticos pertencentes a familiares do suspeito que estavam publicados em um site de genealogia de código aberto. Esses métodos despertaram dúvidas sobre como o repositório crescente e muitas vezes público dos dados mais íntimos dos consumidores pode ser usado pelas autoridades.

“Todos nós queremos que um assassino serial seja capturado”, disse CeCe Moore, uma genealogista genética que costuma aparecer em programas de televisão como “Dr. Oz” e “Finding Your Roots”. “Mas quais são as outras aplicações possíveis que talvez não apoiaríamos tanto?”

Perguntas sobre como os dados pessoais deveriam ser tratados e sobre possíveis abusos estão sendo feitas com cada vez mais frequência e urgência. O Facebook vem tentando tranquilizar seus usuários garantindo que controla como seus dados são compartilhados. No mês passado, uma mulher em Oregon disse que um dispositivo Echo da Amazon.com gravou uma conversa privada e compartilhou-a com um dos contatos de seu marido. De aplicativos de pagamentos e termostatos inteligentes até assistentes pessoais digitais, softwares e dispositivos estão compilando mais dados sobre os consumidores do que nunca.

No caso dos serviços on-line de DNA, os problemas com a privacidade se emaranharam com questões culpa e inocência.

Cada vez mais americanos se cadastram em sites de genealogia, e esses serviços se tornaram grandes repositórios de DNA – e um possível tesouro para autoridades policiais que tentam resolver investigações estagnadas.

Em alguns casos, os investigadores analisaram material genético sem informar às empresas que o armazenam. No caso do Assassino do Estado Dourado, a polícia carregou dados da cena do crime no site GEDmatch.com para buscar familiares do suspeito de homicídio e estupro. Dois amadores que dirigem o site, uma plataforma que permite fazer pesquisas públicas e possibilita que os usuários publiquem arquivos com dados genéticos brutos para tentar encontrar familiares distantes, disseram que as autoridades nunca entraram em contato com eles.

“Até agora, os casos penais têm tratado os dados de DNA como uma impressão digital”, disse Jennifer Lynch, advogada sênior da Electronic Frontier Foundation, que acrescentou que os juízes não consideraram que a informação genética esteja protegida pela Quarta Emenda da Constituição dos EUA, que proíbe buscas e apreensões arbitrárias. “Não existem proteções relevantes. E nós precisamos delas.”

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