Ciência

Minérios criados pela atividade humana indicam nova era geológica

Dos 5208 minerais conhecidos, 208 surgiram nos últimos 200 anos pela atividade humana. E isso deixará nossa assinatura no solo para os geólogos do futuro

Uma pesquisa descobriu que dos 5208 tipos de minerais que são reconhecidos. 208 surgiram após a Revolução Industrial por nossa influência (Creative Commons/Divulgação)

Uma pesquisa descobriu que dos 5208 tipos de minerais que são reconhecidos. 208 surgiram após a Revolução Industrial por nossa influência (Creative Commons/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de março de 2017 às 17h47.

Não há dúvidas de que atividade humana mudou a dinâmica da vida na Terra nos últimos 200 anos. Nós já jogamos 100 milhões de toneladas de plástico no Oceano Pacífico – o suficiente para formar uma espécie de ilha artificial –, e extinguimos milhares de espécies de animais, entre elas o singular tigre-da-tasmânia (até as girafas e os urubus já estão na mira). Mesmo assim, ainda há quem negue (olá, Trump) fenômenos como o aquecimento global.

Achou demais? Bem, acabamos de dar o próximo passo. Um grupo de pesquisadores da Carnegie Institution for Science, nos Estados Unidos, está no caminho de decretar uma nova era geológica marcada pela influência humana: o antropoceno.

Eles descobriram que dos 5208 tipos de minerais que são reconhecidos oficialmente pela Associação Mineralógica Internacional, 208 surgiram após a Revolução Industrial por nossa influência.

Uma explosão de variedade tão grande em tão pouco tempo que até supera até o último grande fenômeno espontâneo de criação de minerais registrado: um pico na concentração de oxigênio da atmosfera há cerca de 2,3 bilhões de anos que, literalmente, enferrujou todo o planeta.

“Não há nada parecido nos 4,5 bilhões de anos de história da Terra”, afirmou Robert Hazen, um dos membros da equipe, ao The Guardian. “Compare 250 anos com 2 bilhões de anos. É a diferença entre um piscar de olhos… e um mês.”

Chalconatronita (Creative Commons)

Na lista de novos minerais estão bizarrices como a chalconatronita, uma espécie de crosta azul brilhante que surge em artefatos arqueológicos de cobre encontrados no Egito, e a andersonita, que é amarelo-fluorescente como um marcador de texto, leva urânio na receita e pode ser encontrada nas paredes de túneis de mineração.

O SS Cheerful, navio que afundou na costa da Inglaterra em 1885, viajava carregado de lingotes de estanho, que em contato com a água salgada formaram um mineral chamado abhurita.

E a calclacita nasce do contato de minerais guardados em gavetas de museu com a madeira desses móveis – até no lugar que preserva o passado a natureza dá um jeito de inovar.

Andersonita (Creative Commons)

No artigo científico, a equipe afirma que esses casos curiosos, em um futuro muito distante, formarão uma camada muito reconhecível e distinta nos registros estratigráficos.

Em outras palavras, quando tudo que você conhece estiver enterrado, a “fatia” de rocha que corresponde ao nosso período de dominação na Terra estará cheia de características que denunciam nossa passagem por aqui.

“Três tipos de atividade humana afetaram a distribuição e a diversidade de minerais na Terra de tal forma que isso possa se refletir nos registros estratigráficos mundiais”, afirmam os autores.

“A mais óbvia é a ocorrência de compostos minerais sintéticos. A segunda é a redistribuição de minerais próximos à superfície pela remoção de grandes quantidades de pedras e sedimentos (mineração). Finalmente, os humanos foram muito eficientes em redistribuir pedras preciosas por todo o globo.”

Abhurita (Creative Commons)

Como a identificação oficial de uma era geológica depende muito do conjunto de minerais característicos de um período, especialistas entrevistados por diversos veículos concordam que o rótulo “antropoceno” – que ainda não é oficial – está a cada dia mais próximo de ser adotado de vez pela escala de tempo geológico, e que o novo estudo dá ainda mais estímulo para a iniciativa.

Este conteúdo foi originalmente publicado no site Superinteressante.

Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalDonald TrumpPlaneta Terra

Mais de Ciência

Cientistas constatam 'tempo negativo' em experimentos quânticos

Missões para a Lua, Marte e Mercúrio: veja destaques na exploração espacial em 2024

Cientistas revelam o mapa mais detalhado já feito do fundo do mar; veja a imagem

Superexplosões solares podem ocorrer a cada século – e a próxima pode ser devastadora