Ciência

Mesmo quando não causa microcefalia, Zika "atrasa" cérebro de crianças

Bebês cujas mães tiveram a doença na gestação apresentam déficit de formação cognitiva mesmo sem problemas neurológicos visíveis

Bebê com microcefalia: pesquisa foi realizada com uma série de imagens de ressonância magnética fetal, obtidas à medida que a gravidez das mulheres colombianas progredia (Getty Images/Getty Images)

Bebê com microcefalia: pesquisa foi realizada com uma série de imagens de ressonância magnética fetal, obtidas à medida que a gravidez das mulheres colombianas progredia (Getty Images/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 08h32.

Última atualização em 7 de janeiro de 2020 às 08h47.

Rio de Janeiro  — Bebês colombianos expostos ao vírus do zika no útero apresentaram atrasos no desenvolvimento neurológico quando crianças, apesar de terem imagens cerebrais e circunferência da cabeça "normais" ao nascer. A pesquisa, publicada esta segunda-feira na revista na JAMA Pediatrics, ressalta a importância em acompanhar o neurodesenvolvimento a longo prazo de bebês expostos ao zika.

"Não havia evidências de problemas provocados por zika ou microcefalia no nascimento desses bebês", destaca Sarah Mulkey, neurologista do Hospital Nacional da Criança dos EUA e autora principal do estudo. "As deficiências no desenvolvimento neurológico, como declínios na mobilidade e na cognição, surgiram no primeiro ano de vida, mesmo quando a circunferência da cabeça permaneceu normal."

Cerca de um terço desses recém-nascidos submetidos a ultrassonografia da cabeça teve exames de imagem inespecíficos. Segundo Mulkey, isso poderia mostrar a ligação entre lesões cerebrais sutis e comprometimento do desenvolvimento neuromotor em crianças expostas ao zika.

A pesquisa foi realizada com uma série de imagens de ressonância magnética fetal, obtidas à medida que a gravidez das mulheres colombianas progredia.

Embora suas mães tivessem infecções de zika confirmadas em laboratório, 77 dos 82 filhos nasceram sem sinais de síndrome congênita do vírus, e 70 foram submetidos a testes adicionais que acompanharam o seu desenvolvimento neurológico durante a infância. Os bebês aparentemente normais nasceram entre 1º de agosto de 2016 e 30 de novembro de 2017, no auge da epidemia da doença.

Quando eles tinham entre 4 e 8 meses ou 9 a 18 meses de idade, o neurodesenvolvimento dos bebês foi avaliado usando duas ferramentas, a Avaliação Inicial de Desenvolvimento das Habilidades Adaptativas e Funcionais da Warner (um teste de 50 itens de habilidades, como autocuidado, mobilidade, comunicação e cognição social) e a Escola Motora Infantil de Alberta (um exame motor de bebês em diversas posições, como sentado e em pé).

"Normalmente o neurodesenvolvimento em bebês e crianças pequenas continua por anos, construindo uma rede neural robusta, que eles usam mais tarde no desempenho de funções cognitivas e neurológicas", explica Mulkey. "Recomendamos que todos os bebês expostos ao zika no útero sejam acompanhados a longo prazo, oferecendo uma oportunidade de intervir na doença mais cedo."

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