Ciência

Homo sapiens é 100 mil anos mais velho do que se pensava

Um estudo revelado nesta revista "Nature" aponta que eles teriam cerca de 300 mil anos, 100 mil a mais do que os restos mortais detentores da marca

A descoberta, feita em um sítio arqueológico chamado Jebel Irhoud, a 150 quilômetros a oeste de Marrakech (Planeta dos Macacos/Divulgação)

A descoberta, feita em um sítio arqueológico chamado Jebel Irhoud, a 150 quilômetros a oeste de Marrakech (Planeta dos Macacos/Divulgação)

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EFE

Publicado em 7 de junho de 2017 às 15h02.

Última atualização em 7 de junho de 2017 às 19h55.

O Homo sapiens, espécie à qual pertencemos, não data de 200.000 anos como se acreditava até agora. Cientistas determinaram que crânios, ossos de membros e dentes de, ao menos, cinco indivíduos encontrados em uma colina no Marrocos têm cerca de 300 mil anos de idade, uma revelação bombástica no campo da antropologia.

Antes da descoberta no sítio chamado Jebel Irhoud, localizado entre Marrakech e o litoral marroquino do Oceano Atlântico, os fósseis de Homo Sapiens mais antigos que a ciência conhecia eram de um sítio etíope chamado Omo Kibish--que se estima ter 195 mil anos.

"Esta descoberta representa a origem da nossa espécie, trata-se do Homo sapiens mais velho já encontrado na África e em qualquer outro lugar", explicou o francês Jean-Jacques Hublin, coautor da pesquisa e diretor do Departamento de Evolução Humana do Instituto Max Planck em Leipzig, na Alemanha.

"O ninho dos fósseis humanos" encontrado em excelente estado de conservação durante escavações iniciadas em 2004 no sítio de Jebel Irhoud, no noroeste do Marrocos, continha os restos de pelo menos cinco indivíduos: três adultos, um adolescente e uma criança.

Homo-Sapiens

Home sapiens: espécie tem mais de 200 mil anos (PHILIPP GUNZ/MPI EVA LEIPZIG/Divulgação)

Os pesquisadores descobriram que "o rosto de um destes primeiros Homo sapiens é [igual] ao de qualquer pessoa com a qual poderíamos cruzar no metrô", afirmou Hublin, cuja pesquisa foi publicada nesta quarta-feira na revista Nature junto com outro estudo que aponta na mesma direção.

Seu crânio, no entanto, é bastante diferente do visto no Homem atual. "Ainda há uma longa evolução à frente antes de chegar a uma morfologia moderna", afirmou este professor.

A datação destes fósseis foi obtida por Daniel Richter, especialista do Instituto de Leipzig, por meio da termoluminescência, uma técnica muito comum utilizada desde os anos 1980.

A equipe de arqueólogos encontrou também neste local, situado a 400 km ao sul de Rabat, fósseis inestimáveis, como uma mandíbula, "provavelmente a mais bela de um Homo sapiens jamais encontrada na África", disse Hublin.

Os Homens de Jebel Irhoud destronam assim o Omo I e Omo II, descobertos em Omo Kibish, na Etiópia, e datados de 195.000 anos.

Também na Etiópia foram encontrados três fósseis de crânios datados de 160.000 anos.

Coexistência com outras espécies

Estas descobertas realizadas na mesma região fizeram pensar que o Homem atual era descendente de uma população localizada no leste da África. Uma teoria que, com o encontrado em Jebel Irhoud, é completamente questionada.

Além disso, os utensílios achados nesse local junto com nossos ancestrais - essencialmente pontudos - são típicos do que se conhece como Middle Stone Age ("Idade Média da Pedra", em tradução livre).

"Já haviam descoberto este tipo de objeto, igualmente datados de 300.000 anos, em várias partes da África, mas não sabiam quem os teria fabricado", explicou Daniel Richter.

Agora, os pesquisadores consideram que podem associar a presença dos utensílio da Middle Stone Age à do Homo sapiens.

"Com certeza, antes de 300.000, antes de Jebel Irhoud, houve uma dispersão de ancestrais de nossa espécie no conjunto do continente africano", disse Hublin. "O conjunto da África participou desse processo".

O Homo sapiens arcaico, o Homo erectus e o Neandertal podem ter coexistido não apenas em regiões distantes, mas também em zonas próximas.

"Portanto, durante muito tempo houve várias espécies de Homens no mundo, que se cruzaram, coabitaram, trocaram genes...", explicou à AFP o paleoantropólogo Antoine Balzeau, que não participou da descoberta no Marrocos.

"Nos distanciamos cada vez mais desta visão linear da evolução humana como uma sucessão de espécies", concordou Hublin.

Sobrevivência por sorte?

Balzeau advertiu contra a tendência de acreditar que o Homo sapiens sobreviveu ao resto das espécies por ser superior. "Durante muito tempo exageramos as características do Homo sapiens, sobretudo as capacidades de nosso cérebro".

Mas estudos recentes mostraram que "não havia grandes diferenças em termos de valor, comportamento ou complexidade entre o Homo sapiens e o Neandertal". "É frustrante, mas não sabemos o motivo pelo qual continuamos a existir e os outros desapareceram. Acreditamos muitas vezes que somos uma conquista evolutiva, mas se deve também à sorte de continuarmos aqui!".

*Com informações de Reuters e AFP

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