Ciência

Homem percorre 300 km em pleno verão para limpar praias na Tunísia

Ativista de 27 anos resolveu sensibilizar as autoridades e os veranistas sobre a importância de não transformar o mar em um lixão

Túnis: depois da revolução de 2011, agravou-se na Tunísia o problema da proliferação de lixo nas grandes cidades, assim como no interior do país e nas praias (petrenkod/Thinkstock)

Túnis: depois da revolução de 2011, agravou-se na Tunísia o problema da proliferação de lixo nas grandes cidades, assim como no interior do país e nas praias (petrenkod/Thinkstock)

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AFP

Publicado em 17 de agosto de 2018 às 10h39.

Armado apenas com seus braços e com dezenas de sacos de lixo, Mohamed Ossama Houij avança pela praia de Nabeul, no norte de Túnis, determinado a completar seu desafio: percorrer 300 quilômetros a pé, em pleno verão, e limpar 30 praias no caminho.

Em um relatório publicado em junho, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) considerava que "o mar Mediterrâneo se transforma em uma perigosa armadilha de plástico, com níveis recordes de poluição que põem as espécies marinhas e a saúde humana em perigo".

Este jovem engenheiro sanitário de 27 anos iniciou seu périplo de dois meses no início de julho, com o objetivo de sensibilizar as autoridades e os veranistas sobre a importância de não transformar o mar em um lixão.

Mohamed Ossama iniciou o projeto "300 Quilômetros" em Mahdia (leste) e vai terminá-lo na praia de Soliman, a 40 km da cidade de Túnis, após ter limpado tanto praias muito frequentadas quanto as mais escondidas.

"Acredito no poder cidadão e escolhi agir de fora e sensibilizar as pessoas para o problema da poluição das nossas praias", explicou à AFP.

"Gota d'água"

Além de sonhador, Mohamed Ossama é realista.

"A ação de 300 quilômetros não é realmente a de limpar, porque sei que sou apenas uma gota d'água no oceano. Mas quero sensibilizar as pessoas para este problema. Quero que comecem a se dizer: 'Espera, não é normal todas essas garrafas, estas tampas, todas estas sacolas de plástico'", afirmou.

Depois da revolução de 2011, agravou-se na Tunísia o problema da proliferação de lixo nas grandes cidades, assim como no interior do país e nas praias.

Uma das causas foi a ausência de representantes locais durante sete anos. Até maio de 2018, as prefeituras eram administradas por "delegações especiais" nomeadas após a queda do regime de Zine El Abidin Ben Ali, e sua gestão era, com frequência, deficitária.

Também há um problema de falta de civismo e de ausência de consciência ambiental entre os cidadãos, explicou o ministro do Meio Ambiente, Riadh Mukher, ao lançar uma política ambiental em 2017.

Na primeira praia limpa por ele, Houij calcula ter recolhido cerca de 100 quilos de lixo. Ao fim de alguns dias, o lixo deixou de pesar, diante da "enorme quantidade" coletada.

Depois de 150 km de marcha e com cerca de 15 praias nas suas costas, "podemos falar de toneladas de lixo", garante.

"Lixeiro"

Chocado com os restos de tartarugas - encontrou mais de 30 - e com as praias cheias de garrafas de plástico e de fraldas descartáveis, Mohamed Ossama faz uma lista de "todas as formas de poluição que estamos fazendo o mar sofrer".

"As autoridades da Tunísia não abordam o problema da poluição como deveriam. Não há boa vontade!", insiste.

De fato, alguns dos seguranças privados que vigiam as praias o impedem inclusive de passar, já que a lembrança de um agressor que levava uma mochila e deixou 38 mortos em uma praia de Susa, em 2015, ainda está presente.

Esse defensor da natureza também fica indignado com a reação de alguns veranistas, que lhe pedem que recolha seu lixo e o tratam como um "zaber" (lixeiro).

Em algumas noites, Mohamed Ossama é acolhido e consegue dormir em uma cama. No restante do tempo, porém, dorme ao relento, depois de relaxar um pouco, tocando seu violão.

As reações vão "de um extremo ao outro", conta.

"Há pessoas muito ativas, que estimulam você e te ajudam a limpar. Outras pessoas, infelizmente, matam qualquer vontade de trabalhar por esta causa", acrescenta.

"A cada dia você tem coisas ruins, mas há vontade", assegura. "Não há motivos para que eu pare", completa.

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