Ciência

Em um mundo mais quente, mosquitos “sanguinários” farão mais vítimas

Quase um bilhão de pessoas poderão enfrentar pela primeira vez doenças transmitidas por mosquitos nas próximas décadas, alerta estudo

Mosquito transmissor da dengue: clima mais quente favorece proliferação.  (Joao Paulo Burini/Getty Images)

Mosquito transmissor da dengue: clima mais quente favorece proliferação. (Joao Paulo Burini/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 1 de abril de 2019 às 14h56.

Última atualização em 1 de abril de 2019 às 14h57.

São Paulo – Existem cerca de 3,5 mil espécies de mosquitos conhecidos pela ciência no mundo, um número relativamente modesto considerando o universo dos insetos. Mas o impacto desses pequenos seres voadores na saúde e no bem-estar da humanidade é calamitoso.

Os mosquitos são um dos animais mais mortais do mundo. Sua capacidade de transportar e espalhar doenças entres os seres humanos causa milhões de mortes todos os anos, um quadro que deverá se agravar em um mundo cada vez mais quente.

Segundo um novo estudo, quase um bilhão de pessoas poderão enfrentar "sua primeira exposição" a uma série de doenças transmitidas por mosquitos entre 2050 e 2080 como consequência do aquecimento global.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que em 2015, apenas a malária causou 438.000 mortes. Nos últimos 30 anos, a incidência mundial de dengue aumentou 30 vezes, e mais países estão relatando seus primeiros surtos da doença.

A pesquisa, publicada no PLOS Neglected Tropical Disease, enfoca duas espécies que são particularmente perigosas para os seres humanos: o mosquito Aedes aegypti e o mosquito tigre asiático (Aedes albopictus).

Ambos carregam doenças virais, como dengue, zika, febre amarela e chikungunya, que transmitem aos seres humanos quando se alimentam de seu sangue. Para agravar, mais da metade da população mundial vive em áreas onde estas espécies de mosquitos estão presentes.

Os mosquitos transmissores de doenças são encontrados principalmente em regiões tropicais e subtropicais, em geral mais quentes e úmidas, como os países da América Latina, África central e da Ásia e, em menor medida, nos Estados Unidos e no sul da Europa. Mas a alta do termômetro promete afetar a distribuição geográfica dos mosquitos.

O estudo destaca que os países europeus e os da África Subsaariana seriam os mais afetados pelo aumento da incidência de casos de dengue, zika e chikungunya. A medida que esses destinos se tornam mais quentes e úmidos, eles criam um ambiente propício para a proliferação de mosquitos.

"A mudança climática é a maior e mais abrangente ameaça à segurança sanitária global", diz o biólogo Colin Carlson, da Universidade de Georgetown, nos EUA, e co-autor do estudo. "Mosquitos são apenas uma parte do desafio, mas depois do surto de zika no Brasil em 2015, estamos especialmente preocupados com o que vem a seguir."

Além disso, provavelmente haverá transmissões de doenças por mosquitos durante todo o ano nos trópicos e riscos sazonais em quase toda parte, a medida que os invernos se tornam mais curtos e quentes, aumentando a taxa de sobrevivência desses insetos.

Nossa melhor defesa contra as “picadas” é cumprir o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a menos de 2ºC até o final do século, destaca a pesquisa. Isso reduziria consideravelmente o aumento de doenças transmissíveis, já que um clima mais quente cria habitats mais amigáveis ​​aos mosquitos.

Apesar da gravidade que o assunto enseja, as pesquisas relativas à transmissão de doenças por mosquitos no contexto de aquecimento global e os impactos na saúde pública requerem recursos significativamente maiores, dizem os pesquisadores, que analisaram as temperaturas mês a mês e modelos de propagação de vírus para projetar o risco nas próximas décadas.

Considerando que o estudo analisou apenas duas espécies de mosquitos, é necessário expandir as pesquisas epidemiológicas e farmacológicas para outros vetores. "Temos uma tarefa hercúlea pela frente. Precisamos descobrir patógeno por patógeno, região por região, quando os problemas surgirão para que possamos planejar uma resposta global à saúde", avalia o cientista.

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