Em São Paulo, 29% da população teve covid-19, mostra novo estudo
A análise feita pelo Imperial College London indica que 76% da população de Manaus foi infectada pelo novo coronavírus
Lucas Agrela
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 14h10.
Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 17h09.
São Paulo, a primeira cidade a detectar o novo coronavírus na América Latina, teve 29% de sua população contagiada pela covid-19. Ou seja, quase um terço da população da capital paulista já teve a doença. É o que mostra um novo levantamento feito pelo Imperial College London.
A cidade mais atingida, segundo o estudo, foi Manaus. No município, 76% da população teve a covid-19, ou seja, três quartos dos habitantes.
“O grande fardo de doenças e mortes causadas pela covid-19 em Manaus enfatiza a importância de coberturas faciais, distanciamento social e lavagem das mãos para impedir a propagação da infecção em todo o Brasil”, afirma, em nota, Nuno Faria, professor do Imperial College London.
Como motivos para o alto percentual de infectados em Manaus, os pesquisadores apontam aglomerações domiciliares, viagens de barco e acesso limitado a água potável.
No estudo, feito com base em cerca de mil amostras de doação de sangue em São Paulo e em Manaus, os pesquisadores mostram a quantidade de anticorpos para o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. O período analisado abrange os meses de fevereiro -- antes do primeiro caso, reportado oficialmente me março -- e outubro deste ano.
Para estimar a porcentagem da população infectada, os pesquisadores tiveram que utilizar modelos matemáticos, uma vez que o número de doadores de sangue saiu pela metade entre junho e agosto deste ano. A pesquisa foi publicada na revista científica Science .
A pesquisadora Ester Sabino, imunologista da Universidade de São Paulo, diz que o caso de Manaus deve servir de exemplo do que pode acontecer em outras cidades do país, caso não sejam respeitadas medidas preventivas contra o novo coronavírus.
“As taxas de infecção atualmente são altas na América Latina e encontramos taxas de infecção particularmente altas em Manaus, a maior metrópole urbana da região amazônica. Manaus é um alerta para outras cidades, por exemplo, São Paulo poderia mais que dobrar o número de mortes se atingisse nível semelhante de infecção”, afirma, em nota.
O estudo do Imperial College London contou com a participação de uma equipe internacional de pesquisadores. Participaram cientistas da USP, da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo e da Universidade de Oxford.