Einstein x Bohr: impasse físico secular teve um desfecho (Universal History Archive/Colaborador/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 12h55.
Uma equipe de cientistas da University of Science and Technology of China (USTC) conseguiu transformar em realidade um experimento imaginado há quase 100 anos por Albert Einstein — e o resultado confirmou aquilo que seu grande rival intelectual, Niels Bohr, defendia desde a década de 1920. A pesquisa usou tecnologia avançada para testar uma velha pergunta da física: afinal, uma partícula pode se comportar como onda e, ao mesmo tempo, mostrar exatamente por onde passou?
Einstein acreditava que sim. Para ele, seria possível construir um experimento tão sensível que permitiria observar o “caminho” de uma partícula e ainda ver o desenho típico de ondas, chamado de padrão de interferência. Se isso fosse possível, significaria que a teoria quântica estava incompleta e que ainda havia algo escondido, uma explicação mais profunda da natureza.
Bohr discordava. Para ele, essas duas coisas não podiam acontecer juntas. Ou você observa a partícula passando por um lugar, ou você vê o comportamento de onda, mas nunca os dois. Era um limite da própria natureza, não da tecnologia.
O impasse parecia impossível de resolver durante décadas, porque faltavam instrumentos capazes de medir algo tão pequeno quanto o “empurrão” causado por um único fóton. Mas agora, com lasers ultrafrios e equipamentos de precisão extrema, os pesquisadores conseguiram fazer o teste.
Eles “seguraram” um átomo com luz e o resfriaram quase até o zero absoluto, criando uma estrutura capaz de registrar a passagem de partículas de luz. Então, observaram o que acontecia quando tentavam descobrir por onde a partícula passou e se, ao mesmo tempo, surgia o padrão de ondas esperado.
O resultado foi claro: sempre que os cientistas conseguiam identificar a trajetória da partícula, o padrão de onda desaparecia. Quando o padrão de onda surgia novamente, a trajetória ficava impossível de determinar.
Na prática, isso significa que a visão de Bohr estava correta. Não é uma questão de instrumentos melhores ou mais avançados, é uma característica fundamental do universo em escala microscópica. No mundo quântico, medir algo muda a própria coisa medida.
O experimento não acaba com todas as discussões sobre a natureza da realidade, mas resolve uma parte importante de um debate que atravessou cem anos de física. Mostra que certas limitações não são erros ou falhas humanas, e sim parte do funcionamento do universo. Além de ser um triunfo da física teórica, a pesquisa abre portas para novas tecnologias, como computadores quânticos e sistemas de comunicação praticamente impossíveis de serem hackeados.
A disputa entre Einstein e Bohr sempre teve um lado científico e outro filosófico. De certa forma, o novo experimento oferece um desfecho raro: uma pergunta que nasceu em conversas abstratas, há quase um século, finalmente recebeu uma resposta experimental. E, pelo menos nesse capítulo, a natureza parece ter dado razão a Bohr.