DNA de sobreviventes pode ter a resposta contra covid-19
Anticorpos codificados por DNA sintético contra novo coronavírus não foram testados em humanos, mas podem diminuir gravidade da doença
Tamires Vitorio
Publicado em 19 de junho de 2020 às 09h30.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 09h45.
136 vacinas, incontáveis testes de anticorpos e remédios sendo testados: é esse o retrato na luta contra o novo coronavírus, que já infectou mais de 8 milhões de pessoas no mundo todo, segundo a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos . Mas um outro método começou a ser testado --- e pode ajudar no tratamento da covid-19 e até ajudar a acabar com futuras pandemias. E envolve uma coisa um tanto quanto óbvia: o DNA dos sobreviventes do vírus.
Essa terapia já foi testada em animais e mostrou resultados promissores. Já em humanos, os genes, quando injetados nos braços ou nas pernas, converteram os músculos das pessoas em fábricas capazes de produzir anticorpos contra o vírus --- o que poderia causar uma imunidade temporária ou diminuir a gravidade da doença em infectados. Foi o que aconteceu com o ebola. À época, o centro de vacina e imunoterapia americano Instituto Wistar publicou um estudo afirmando que os anticorpos monoclonais codificados por DNA sintético do vírus ficaram ativos por bastante tempo, reduzindo a mortalidade e os efeitos mais graves da doença.
É uma boa notícia, mas anticorpos codificados por DNA sintético (DMAb) contra a covid-19 ainda não foram testados em humanos, no entanto, já começaram a ser experimentados em laboratório.
Em entrevista ao MIT Technology Review , o diretor do Wistar, David Weiner, afirmou que a instituição testou os genes anti-covid em animais. Para isso, é preciso isolar o material genético dos sobreviventes e injetá-lo diretamente em outras pessoas, infectadas ou não, o que as levaria a desenvolver uma imunidade ao vírus.
Os anticorpos são uma boa opção na lutra contra o SARS-CoV-2 por sua capacidade de neutralizar a habilidade do vírus de infectar as células do corpo humano. Depois de identificados, podem ser produzidos em massa — uma abordagem que já foi adotada com sucesso em outros casos, como também no tratamento do ebola. Uma pesquisa feita por cientistas chineses e americanos apontou que os seres humanos podem nunca desenvolver uma imunidade contra o novo coronavírus e os anticorpos podem não necessariamente nos tornar imunes à covid-19.
Já a terapia de genes pode oferecer o processo complexo e caro da fabricação de anticorpos delicados e evitar as incertezas na produção de uma vacina. Uma pesquisa de 2013aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos --- uma solução que não seria capaz de resolver a pandemia atualmente. As injeções com os genes dos curados da doença poderiam carregar informações de mais de um anticorpo, o que poderia impedir o vírus de se tornar resistente.
"Você pode fazer o DNA muito rápido, é muito barato, e você deixa o músculo desenvolver o anticorpo", afirmou o presidente da biofarmacêutica americana Sorrento Therapeutics, Henry Ji, ao MIT. Em maio, a empresa de Ji afirmou ter encontrado "um anticorpo totalmente eficaz contra a covid-19". Somente no mês passado, a companhia teve um salto de 280% em suas ações na bolsa de valores de Nova York (Nasdaq). Até o momento, o tal anticorpo não foi divulgado.
Vale lembrar que algumas das vacinas, como é o caso da Coronavac, feita pela chinesa Sinovac, já está em um processo avançado e considerado rápido de produção. Segundo a agência Bloomberg, mais de 90% das pessoas que receberam doses da vacina produzida pelo laboratório produziram anticorpos contra a covid-19 num intervalo de 14 dias.
Segundo o relatório A Corrida pela Vida, produzido pela EXAME Research, unidade de análises de investimentos e pesquisas da EXAME, as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina já contam com o financiamento de pelo menos 20 bilhões de dólares no mundo. Desse valor, 10 bilhões foram liberados por um programa do Congresso dos Estados Unidos.
Nenhuma terapia ou vacina tem aprovação clínica ou aval da Organização Mundial da Saúde para ser aplicada especificamente a pacientes infectados pelo novo coronavírus.