Ciência

Dívida perigosa: Humanidade começa a operar no vermelho neste 29 de julho

O ano nem acabou, mas o consumo de recursos naturais já excedeu a capacidade regenerativa do Planeta para 2019

Multidão: até o fim do ano, teremos consumido 1,7 planeta Terra. (Salvator Barki/Getty Images)

Multidão: até o fim do ano, teremos consumido 1,7 planeta Terra. (Salvator Barki/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 29 de julho de 2019 às 07h19.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 11h23.

São Paulo – Até o final desta segunda-feira (29), a humanidade terá superado o orçamento do meio ambiente para o ano, passando a operar no vermelho. Em sete meses, esgotamos todos os recursos que a Terra é capaz de oferecer de forma sustentável no período de um ano, desde a filtragem de gás carbônico (CO2) da atmosfera até a produção de energia e matérias-primas para fabricação de bens de consumo.

A conta é do Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a chamada Pegada Ecológica das atividades humanas no mundo. O cálculo da Pegada Ecológica leva em conta a quantidade de área terrestre e marinha necessária para produzir todos os recursos consumidos por uma população e para absorver seus resíduos.

Mantido o ritmo atual de produção e consumo, até o fim 2019, teremos consumido 1,7 planeta Terra, um apetite insustentável no longo prazo. Em outras palavras, a humanidade está utilizando a natureza de forma mais rápida do que os ecossistemas do nosso planeta podem se regenerar.

A diferença entre a capacidade de regeneração da Terra e o consumo humano, intensivo em energia e materiais, gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional — já somos 7 bilhões de habitantes no mundo e até o final do século, seremos 11 bilhões. Projeções moderadas das Nações Unidas para o aumento da população e do consumo indicam que em 2030 precisaríamos da capacidade de duas Terras para acompanhar nosso nível de demanda por recursos naturais.

“Para a economia, isso significa grandes prejuízos e maiores riscos aos investimentos. Para as pessoas, significa preços mais altos dos alimentos, maiores chances de contrair doenças e perda de bens e de vidas. Na prática, estamos deixando o mundo mais poluído, mais inóspito e mais pobre em biodiversidade”, diz Renata Camargo, especialista em Conservação do WWF-Brasil, entidade parceira do GFN.

Pior, entramos no vermelho cada vez mais cedo. Em 1975, o saldo negativo foi atingido em 28 de novembro, quase “empatando” com a capacidade regenerativa da Terra. Em pouco mais de três décadas, o “cheque especial” foi antecipado, para 8 de agosto, em 2016. No ano passado, foi para 1º de agosto. A data de 29 de julho em 2019 é a mais cedo desde que o planeta entrou em déficit ecológico no início dos anos 1970.

Os custos desse desequilíbrio incluem taxas galopantes de desmatamento, colapso pesqueiro, escassez de água doce, poluição atmosférica e hídrica, erosão do solo, perda de biodiversidade e acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera. Tudo isso leva a mudanças climáticas e ambientais mais severas, com consequências conhecidas: secas, inundações, aumento na quantidade e intensidade dos incêndios florestais e furacões. Em quatro décadas, desastres naturais causaram cerca de 2 milhões de mortes e danos econômicos superiores de quase 3 trilhões de dólares globalmente, mais que um Brasil em PIB, segundo a ONU.

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