Ciência

Coronavírus altera maior missão científica da história do Ártico

O navio Polarstern estava no Polo Norte quando a pandemia do coronavírus se espalhou, obrigando os cientistas a mudar os planos e continuar no barco

Expedição: Durante 390 dias, quase 600 especialistas e cientistas trabalham em rodízio no navio (AFP/AFP Photo)

Expedição: Durante 390 dias, quase 600 especialistas e cientistas trabalham em rodízio no navio (AFP/AFP Photo)

A

AFP

Publicado em 1 de junho de 2020 às 08h06.

Os integrantes da maior expedição científica da história no Ártico se prepararam para tudo, inclusive para ataques de ursos polares. Mas não para uma pandemia que ameaçaria a continuidade da missão.

Com dois meses de atraso, os cientistas da equipe internacional, responsáveis durante mais de um ano por estudar as consequências da mudança climática no Polo Norte, devem finalmente ser substituídos nos próximos dias.

De retorno ao Polo Norte, onde navegou entre os icebergs durante o inverno, o quebra-gelo "Polarstern", do instituto alemão Alfred-Wegener de Bremerhaven, chegará em breve às costas do arquipélago norueguês de Svalbard.

Quase 100 pesquisadores devem desembarcar, depois de passarem três meses no Polo Norte, para dar lugar a outra centena de colegas, incluindo o comandante da missão, Markus Rex, transportados a bordo de barcos de pesquisa de Bremerhaven.

Este climatologista e físico, que já ficou de setembro a janeiro a bordo do "Polarstern", havia elaborado com sua equipe mais de dez cenários de casos imprevistos durante os 390 dias da expedição.

"Tivemos que implementar um novo plano muito rapidamente, após o surgimento da pandemia", disse ele por telefone à AFP, direto de Spitzberg, a principal ilha de Svalbard.

A expedição, batizada MOSAIC e que zarpou em setembro da Noruega, tem por objetivo estudar, ao mesmo tempo, a atmosfera, o oceano, o mar de gelos e o ecossistema para receber dados que avaliem o impacto da mudança climática na região e no mundo.

Durante 390 dias, quase 600 especialistas e cientistas trabalham em rodízio no navio, que segue pela deriva polar, a corrente oceânica que vai do leste ao oeste no Oceano Ártico.

No fim de fevereiro, a embarcação estava a 156 quilômetros do polo. Nunca um navio chegou tão ao norte no inverno.

Inicialmente, a nova equipe, com integrantes de mais de dez países, deveria chegar no início de abril ao "Polarstern", em uma viagem de avião a partir de Svalbard. Mas o fechamento das fronteiras provocou o cancelamento dos voos.

Finalmente, após vários obstáculos, os líderes da missão decidiram transportar os cientistas, assim como os mantimentos e combustíveis, de barco até Spitzberg.

O "Polarstern" interrompeu a missão há algumas semanas para buscar a nova equipe.

"A segunda grande dificuldade que tivemos foi garantir que o vírus não se propague entre os membros da expedição", afirmou Markus Rex.

Quarentena estrita

Para assegurar o objetivo, uma quarentena estrita de mais de 14 dias foi determinada à nova equipe em dois hotéis de Bremerhaven, alugados por completo para a missão.

"As portas (dos quartos) não eram abertas, não houve nenhum contato com pessoas externas (...). As refeições eram levadas à porta dos quartos", explica.

"Todos foram submetidos a três testes de detecção da COVID-19", declarou Markus Rex, aliviado porque a missão, à qual dedicou 11 anos, poderá continuar.

A bordo do "Polarstern", que já passou 150 dias de noite polar com temperaturas de até 39,5 graus negativos, a equipe acompanhou a distância o confinamento do planeta.

"Muitos têm famílias e tentam se manter o máximo possível em contato com o telefone por satélite", afirmou Torsten Kanzow, atualmente no quebra-gelo.

Os obstáculos não devem ter um impacto maior para as pesquisas, segundo o comandante da missão.

O fim da expedição está mantido para 12 de outubro.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPesquisas científicas

Mais de Ciência

Cientistas constatam 'tempo negativo' em experimentos quânticos

Missões para a Lua, Marte e Mercúrio: veja destaques na exploração espacial em 2024

Cientistas revelam o mapa mais detalhado já feito do fundo do mar; veja a imagem

Superexplosões solares podem ocorrer a cada século – e a próxima pode ser devastadora