Com jogadores como Pato, porém, os médicos admitem desconhecer as origens das contusões, transformando os casos em enigmas para protagonista da série House (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2012 às 16h34.
Neste fim de semana, o Milan entrará em campo na briga pelo título italiano sem um de seus principais astros: o brasileiro Pato só deve voltar a jogar na próxima temporada. São Paulo e Flamengo disputam partidas decisivas sem seus xerifes de meio-campo, os volantes Fabrício e Maldonado.
E o Palmeiras entrará na fase eliminatória do Campeonato Paulista sem seu camisa 10, o chileno Valdivia. Todos eles têm uma coisa em comum: as longas séries de contusões, que fazem com que esses jogadores passem mais tempo no departamento médico do que no gramado. Valdivia, por exemplo, tem demorado tanto a se recuperar que, nesta semana, o clube resolveu fazer uma investigação mais profunda de seu caso.
O jogador conhecido pelo "chute no vácuo" foi submetido a uma biópsia que pretende desvendar os segredos de uma misteriosa lesão muscular na coxa, que o persegue desde o ano passado. Assim como o Palmeiras, o Milan também já buscou ajuda especializada para tentar achar as causas das repetidas contusões de Pato - e, logo no primeiro jogo após ser examinado por um especialista americano em diagnóstico, o brasileiro, para variar, saiu machucado pouco depois de entrar em campo.
A situação desses atletas é paradoxal: jogam em clubes com equipes médicas de primeiro nível e vivem em tempos em que a medicina esportiva é capaz de recuperar até mesmo as contusões mais brutais. Ainda assim, não conseguem se livrar das lesões, mesmo sob a constante supervisão de equipes inteiras de especialistas.
A má qualidade dos gramados, o excesso de jogos e a truculência dos adversários, entre outros motivos, costumam ser apontados pelos grandes nomes da medicina esportiva como as principais explicações para tantas lesões. Com jogadores como Pato, porém, os médicos admitem desconhecer as verdadeiras origens das contusões, transformando esses casos em verdadeiros enigmas, com diagnósticos tão complexos quanto as investigações inusitadas do protagonista da série House, sucesso na TV a cabo.
Enquanto não aparece um médico desse tipo nos grandes clubes, os campeões em contusões seguem em seu calvário - e os torcedores ficam de olho, desconfiados e temerosos, nos ídolos que a qualquer momento podem sair de campo deitados numa maca.
O time do departamento médico
Alexandre Pato, do Milan
Chama a atenção o elevadíssimo número de contusões sofridas pelo atacante brasileiro, até por sua pouca idade: Alexandre Pato tem apenas 22 anos e já sofreu 14 lesões nos últimos 25 meses. Revelado pelo Internacional no fim de 2006 - quando se sagrou campeão mundial pelo clube gaúcho - Pato teve sua carreira na Europa muito prejudicada pelas constantes ausências. Desde janeiro de 2010, Pato passou 345 dias lesionado e perdeu 66 compromissos do Milan, fato que intriga os médicos do clube, cada vez mais descrentes na recuperação total do atleta. Seus problemas musculares nas duas pernas, tornozelo e músculos adutores o deixaram de fora do restante desta temporada e o elevam ao posto de jogador mais frágil do futebol mundial.
Valdivia, do Palmeiras
Grande ídolo da torcida em sua primeira passagem pelo Palmeiras, o chileno Jorge Valdivia voltou ao clube após duas temporadas no pouco exigente futebol dos Emirados Árabes e não suportou o forte ritmo de treinos e jogos: foram nove lesões desde que voltou, a maioria delas na coxa. Em um dos episódios mais recordados, se machucou após tentar seu já tradicional "chute no vácuo", na semifinal do Paulista do ano passado, perdida nos pênaltis para o rival Corinthians. Dirigentes e torcedores suspeitaram da falta de comprometimento do jogador - envolvido também em escândalos conjugais na sua volta a São Paulo. A equipe médica do clube anunciou a realização de uma biópsia para tentar desvendar as reais causas dos constantes problemas musculares do jogador e, assim, estabelecer um plano de treinamento ideal para ele.
Adriano, sem clube
As seguidas lesões e polêmicas envolvendo o atualmente desempregado Adriano levantaram, inclusive, a possibilidade de aposentadoria do atleta de 30 anos. Após uma passagem apagada pelo Corinthians, o atacante que um dia ganhou o apelido de Imperador terá de começar do zero caso queira reviver os tempos de glória. No clube paulista, passou meses tentando se recuperar de lesão no tendão de Aquiles e foi acusado de falta de comprometimento – faltou em 67 sessões de fisioterapia e foi constantemente flagrado em festas com muito álcool e mulheres. Em 2012, ganhou novas chances do técnico Tite, mas demonstrou pouquíssima mobilidade em campo e acabou sendo dispensado por justa causa. Seus problemas físicos mais graves tiveram início na Roma, onde atuou em apenas oito partidas e não marcou nenhum gol, em 2010. Nesta semana, Adriano foi novamente operado no tendão e já iniciou a fisioterapia com profissionais do Flamengo, clube que se dispôs a ajudar o ídolo e recuperá-lo para a disputa do Campeonato Brasileiro.
Robben, do Bayern de Munique
Ponta esquerda de rara habilidade, o holandês Arjen Robben costuma sofrer com a truculência de seus marcadores e, por causa de sua fragilidade física, ganhou um apelido nada agradável nos tempos de Real Madrid: “o homem de cristal”. Seu calvário começou justamente no clube espanhol, para onde se transferiu após uma passagem vitoriosa pelo Chelsea. No Real, era um dos destaques do time, mas só conseguiu completar quatro jogos consecutivos sem sofrer algum tipo de lesão muscular. No Bayern de Munique seguiu sua rotina de belos gols, dribles desconcertantes, títulos e contusões. No último amistoso antes da Copa de 2010, se machucou em um lance inusitado, após tentar um calcanhar. A jogada quase o deixou de fora do Mundial, mas o treinador Van Marwjik decidiu apostar no craque. Poupado na primeira fase, Robben foi destaque ao lado de Sneijder nos momentos decisivos e levou a seleção holandesa ao vice mundial pela terceira vez.
Michael Owen, do Manchester United
Na Copa de 1998, um atacante inglês de 18 anos ganhou fama ao marcar um golaço, enfileirando argentinos, nas oitavas de final da competição. Era apenas o início de uma carreira promissora que acabou não vingando. Ídolo do Liverpool e dono de incontestável faro de artilheiro, Michael Owen tinha tudo para ser um dos grandes jogadores de sua época. Hoje, após incontáveis sequências de lesões, muitos sequer sabem que ele faz parte do elenco do Manchester United. Após um período de muitos gols e títulos na cidade dos Beatles, Owen foi para o Real Madrid, onde teve a concorrência de Raúl e Ronaldo, e pouco fez. Vendido ao Newcastle, em 2005, iniciou uma fase de intermináveis contusões. Owen quebrou o osso do metatarso e teve seguidas lesões no joelho que o deixaram, ao todo, mais de dois anos sem atuar. Transferiu-se para o Manchester United, onde cumpria o hábito de balançar as redes e se lesionar em seguida. Em 2010, deveria ser convocado para a Copa do Mundo na África do Sul, mas sofreu nova lesão às vésperas da competição. Nesta temporada, jogou apenas quatro partidas e fez três gols.
Luís Fabiano, do São Paulo
Grande ídolo da torcida são-paulina, o atacante Luís Fabiano causou furor em seu retorno ao Morumbi: cerca de 45.000 torcedores foram ao estádio recepcioná-lo em sua apresentação. No entanto, 2011 foi um ano nada agradável para o jogador. Negociado por cerca de 17 milhões de reais com o Sevilha, o artilheiro chegou com problemas no joelho que só se agravaram nos meses seguintes. Em um ano de São Paulo, Luís Fabiano enfrentou três lesões graves, duas cirurgias e sete meses de recuperação. Sua volta demorou mais do que o previsto pelos médicos e a equipe sofreu com a falta de gols e de títulos no ano passado. Em 2012, aparentemente recuperado, o atacante ainda goza de muito prestígio com os torcedores e tem sido o líder e capitão da equipe na ausência de Rogério Ceni.
Juan Román Riquelme, do Boca Juniors
Desde que voltou ao Boca Juniors, em 2007, Juan Román Riquelme ganhou uma Libertadores, dois campeonatos argentinos e até uma estátua na mítica La Bombonera. No entanto, a segunda passagem do elegante camisa 10 foi marcada também por muitas contusões. Ao longo dos últimos três anos, Riquelme acusou problemas no tornozelo, na sola do pé, no joelho e até indisposições estomacais que o deixaram fora de boa parte dos jogos - no Clausura 2010, jogou apenas duas partidas. No ano passado, o meia teve bom rendimento na campanha do título nacional, o que, inclusive, lhe valeu uma convocação para as partidas contra o Brasil, na reedição pela Copa Rocca. Riquelme, porém, foi cortado de última hora alegando não estar em condições físicas. O mesmo aconteceu na semana passada, na partida contra o Fluminense, no Engenhão.
Michael Ballack, do Bayer Leverkusen
Um dos grandes jogadores alemães da última década, o meia Michael Ballack também teve sua carreira muito prejudicada por contusões. Então capitão de sua seleção, ficou de fora do Mundial de 2010 após sofrer uma entrada duríssima do ganês Prince Boateng na final da Copa da Inglaterra, quando atuava pelo Chelsea. Com uma entorse no tornozelo, não foi à África e decidiu retornar ao Bayer Leverkusen, onde foi vice-campeão europeu em 2002. A volta, porém, não lhe rendeu grandes alegrias: Ballack disputou apenas 15 jogos da Bundesliga nesta temporada e voltou a sofrer com seguidas contusões. Foi desfalque da equipe nas derrotas arrasadoras para o Barcelona, nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Aos 35 anos, está perto de se aposentar.
Fabrício, do São Paulo
Contratado no início do ano como um dos principais reforços do técnico Leão, o experiente volante Fabrício ainda não pôde repetir no São Paulo as boas atuações dos tempos de Cruzeiro e Corinthians - tudo por causa dos problemas físicos. Pelo clube paulista, Fabrício entrou em campo apenas duas vezes. Na última oportunidade, saiu machucado logo no começo do jogo. Os próprios médicos do clube admitiram que se precipitaram na escalação do atleta, que havia chegado ao clube com uma tendinite. Sua última contusão foi um estiramento na panturrilha direita. O médico são-paulino José Sanchez chegou a dizer que o Cruzeiro, seu ex-clube, o havia escalado no sacrifício em várias partidas no ano passado, o que teria contribuído para as lesões. Em 2011, Fabrício operou o púbis e amargou meses de ausência no clube mineiro.
Maldonado, do Flamengo
Volante de boa técnica e currículo invejável, o chileno Claudio Maldonado vive fase terrível de lesões no Flamengo desde 2010. Peça importante no título brasileiro de 2009, o atleta passou por diversas cirurgias no joelho esquerdo nos dois anos seguintes e teve o problema agravado a cada volta aos gramados. No início deste mês, teve o menisco operado mais uma vez e projeta retorno para maio. Ao longo de sua carreira, Maldonado conquistou dois títulos brasileiros e seis estaduais em passagens marcantes por São Paulo, Cruzeiro, Santos e Flamengo.
Deco, do Fluminense
Campeão europeu jogando por Porto e Barcelona, o luso-brasileiro Deco construiu uma carreira de muito sucesso no futebol europeu, mas há alguns anos tem sofrido com seguidas lesões. Atualmente, o armador desfruta de uma excelente fase e sequência de jogos – já são mais de seis meses sem nenhuma contusão grave. No entanto, desde os tempos de Chelsea, Deco é presença constante no departamento médico. Na Copa de 2010, protagonizou uma polêmica com o treinador português Carlos Queiróz, que optou por não utilizá-lo em duas partidas da primeira fase e nas oitavas de final contra a Espanha, em razão das “condições físicas miseráveis” do jogador. O fato irritou muito o atleta, que decidiu encerrar seu ciclo na equipe nacional. Já no Fluminense, Deco mostrou que realmente não se encontrava no melhor de sua forma: em seu primeiro ano, foram nove lesões musculares, que não o impediram, porém, de se sagrar campeão brasileiro. Recuperado dos problemas aos 34 anos, Deco é um dos principais meias em atividade no futebol brasileiro e um dos líderes da equipe carioca, campeã da Taça Guanabara e melhor colocada na fase de grupos da Libertadores.