(Clean Futures Fund/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 12h30.
Os cachorros azuis de Chernobyl chamaram a atenção da Internet após suas fotos serem publicadas pela organização Clean Future Fund (CFF) em outubro. Houve muita especulação quanto ao motivo da coloração dos animais, até mesmo foi levantada a possibilidade das imagens serem falsas. Ao veículo IFLScience, a organização, que cuida dos cães através do programa Dogs of Chernobyl, afirmou que as fotos são autênticas e foram tiradas no dia 6 de outubro.
Internautas levantaram diversas hipóteses, sendo a principal delas que o motivo da pelagem azul seria uma mutação genética ocorrida devido à radiação do local. A realidade, no entanto, é provavelmente mais simples.
Em um texto publicado na página oficial de Facebook do projeto Dogs of Chernobyl, seu consultor científico, o PhD Thimothy Mousseau da University of South Carolina, traz explicações para alguns mitos populares sobre os cães em Chernobyl.
"O corante azul veio provavelmente de um banheiro químico tombado, no qual os cães rolaram na sujeira — algo comum entre cães (pense em caixa de areia de gato!). A coloração azul era apenas um sinal do comportamento anti-higiênico dos animais! Como qualquer dono de cão sabe, muitos cães comem praticamente qualquer coisa, incluindo fezes", afirmou Mousseau na publicação.
Ou seja, a pelagem está apenas suja, não é naturalmente azul.
Na publicação, o biólogo também discutiu outras crenças populares e pesquisas sobre os cães em Chernobyl.
Entre os tópicos, está a possível resistência dos animais ao câncer. Mousseau afirma que não há evidências suficientes sobre câncer nos cachorros da região e que as taxas estão dentro da normalidade.
"Os cães (e lobos) não mostram sinais de aumento ou redução de câncer, nem alterações adaptativas no sistema imunológico", afirmou. "A maioria dos estudos demonstra efeitos negativos da radiação em áreas altamente contaminadas, enquanto áreas 'limpas' sustentam fauna e flora relativamente saudáveis — e alguns animais, como lobos, se saem melhor principalmente devido à redução da caça."
A idade dos bichinhos também afeta esse dado. Na região, abandonada por humanos, as condições para animais domesticados, como cães, são desfavoráveis e eles, consequentemente, têm expectativas de vida menores.
"Ao contrário do que afirmam algumas reportagens, os cães de Chernobyl não apresentam aumento nem redução nas taxas de câncer. A verdade é que cânceres são geralmente doenças da velhice (em cães e humanos), e a maioria dos cães, nas condições duras da região, não vive o suficiente para desenvolvê-los — mesmo se fossem predispostos", disse Mousseau.