Ciência

Anticorpos da covid-19 não desaparecem rápido, mostra megaestudo

Pesquisa feita na Islândia é a maior já realizada e estudou 30.576 indivíduos

Coronavírus: doença já deixou mais de 25 milhões de infectados no mundo todo (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Coronavírus: doença já deixou mais de 25 milhões de infectados no mundo todo (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 2 de setembro de 2020 às 08h12.

Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 08h14.

Um megaestudo feito com mais de 30 mil pessoas na Islândia (o maior até o momento) apontou que os anticorpos do novo coronavírus podem durar até quatro meses e não desaparecem com a facilidade que outras pesquisas mostram.

A pesquisa, feita pela biofarmacêutica islandesa deCODE genetics, foi publicada no prestigiado jornal científico The New England Journal of Medicine e indica uma maior duração dos anticorpos da covid-19, bastante semelhante ao dos demais casos de infecção por algum tipo de coronavírus. As 30.576 pessoas representam 8,4% da população total da Islândia.

Para chegar a conclusão, os cientistas testaram 2.102 amostras de 1.237 indivíduos que tiveram o teste positivo para a covid-19, mesmo após quatro meses do diagnóstico inicial, e os anticorpos de 4.222 amostras de pessoas que foram expostas mesmo na quarentena e de outras 19 mil que não sabiam ter sido expostas ao vírus.

Se os anticorpos realmente não desaparecerem rapidamente, isso pode servir de alento até que uma vacina ou tratamento seja aprovado e comprovado seguro para uso na população. "Se uma vacina conseguir induzir a produção de anticorpos duradouros como a infecção natural faz, isso dá esperança de que a imunidade para esse vírus imprevisível e altamente contagioso pode não ser passageira", disseram pesquisadores da Universidade de Harvard e do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos em um comentário no estudo islandês.

O que dizem os demais estudos?

A pesquisa islandesa vem de contramão a de outros cientistas. Em uma transmissão ao vivo no YouTube o professor John Bell, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirmou que pessoas que foram infectadas pelo vírus em março já podem estar suscetíveis a reinfecções. Segundo Bell os anticorpos da covid-19 podem se esgotar entre 10% e 30% a cada mês e eles “desaparecem rapidamente”.

Recentemente um estudo feito pela King’s College de Londres com cerca de 90 pessoas apontou que os anticorpos desapareciam com o tempo, atingindo um ápice três semanas após os primeiros sintomas e abaixando rapidamente depois disso. Nenhum estudo teve uma base tão grande quando o da deCODE.

Outra pesquisa publicada na revista científica Cell.com apontou que, mesmo sem a produção de anticorpos contra o vírus, um indivíduo pode produzir células capazes de destruir a doença em casos de reinfecção. São os chamados linfócitos T — células reativas que ajudam o organismo na defesa de infecções.

 

Mais um estudo, dessa vez divulgado na revista científica Nature, aponta que foram encontradas células imune contra a doença em amostras sanguíneas de 100 voluntários, entre eles alguns que não foram sequer expostos à doença.

Cientistas da Universidade de Washington e do Instituto de Pesquisas Benaroya encontraram a presença de células B em alguns casos — linfócitos responsáveis pelo reconhecimento e luta contra o vírus, bem como os T.

Segundo eles, os indivíduos recuperados tiveram as células T e B persistentes e, em alguns casos, aumentadas em até três meses após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença.

Os pesquisadores analisaram quadros leves, também estudados por outros cientistas, quando foi apontado que as pessoas têm uma resposta imune ao vírus apesar da gravidade do caso.

As duas pesquisas citadas acima, no entanto, não passaram pelo processo de revisão de pares e tampouco foram publicadas em revistas científicas.

Em outros casos de doenças respiratórias causadas por um coronavírus (como o SARS e a MERS) uma imunidade de cerca de dois anos foi criada. Em outras variações do vírus (como a OC43 e a HKU1), as pessoas ficaram imunes por um período determinado de tempo.

A Islândia, com uma população de 364.134 habitantes, tem 2.116 infectados e 10 mortes, segundo o monitoramento em tempo real da universidade americana Johns Hopkins. Os Estados Unidos ainda são o epicentro da doença no mundo, com 6.076.281 doentes e 184.697 mortes. Em segundo lugar está o Brasil, com 3.950.931 casos confirmados e 122.596 óbitos. No mundo todo mais de 25 milhões de pessoas foram infectadas pela covid-19 e cerca de 857 mil morreram.

Mesmo com o avanço das pesquisas, o tempo de duração da imunidade contra o novo coronavírus permanece um mistério e apenas mais estudos sobre o tema poderão revelar por quanto tempo o corpo humano pode ficar protegido de novas infecções.

O que são os anticorpos?

Os anticorpos tem como principal função a defesa do organismo contra infecções e doenças e atuam como neutralizadores de micro-organismos capazes de infectar o corpo humano.

O anticorpo de uma doença como a gripe, por exemplo, existe até que outra cepa do vírus infecte o indivíduo. É isso que faz com que os humanos tenham gripe várias vezes.

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