Ciência

Alzheimer: Droga experimental mostra potencial contra doença

Em testes em camundongos, droga experimental conseguiu remover 'lixo' das células cerebrais e melhorar a memória dos animais

Alzheimer: estudo em camundongos levou a uma droga experimental que pode reverter sintomas da doença (GettyImages)

Alzheimer: estudo em camundongos levou a uma droga experimental que pode reverter sintomas da doença (GettyImages)

LP

Laura Pancini

Publicado em 8 de maio de 2021 às 08h00.

Pesquisadores da Albert Einstein College of Medicine nos Estados Unidos desenvolveram uma droga experimental que reverte os principais sintomas da doença de Alzheimer em camundongos.

Publicado na revista científica Cell, o estudo mostra que o medicamento é como um "mecanismo de limpeza" celular, que elimina, digere e recicla proteínas indesejadas.

"As descobertas em camundongos nem sempre se traduzem em humanos, especialmente na doença de Alzheimer", disse Ana Maria Cuervo, coautora do estudo e codiretora do Instituto de Pesquisa do Envelhecimento do Einstein. "Mas fomos encorajados a descobrir em nosso estudo que a queda na limpeza celular que contribui para a doença de Alzheimer em camundongos também ocorre em pessoas com a doença, sugerindo que nosso medicamento também pode funcionar em humanos."

Conhecido como autofagia mediada por chaperonas (CMA, na sigla em inglês), o processo de limpeza de células perde sua eficácia na medida que as pessoas envelhecem, consequentemente aumentando o risco de que proteínas indesejadas se acumulem e danifiquem as células. O Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas são caracterizadas pela proteína em agregados tóxicos no cérebro.

Para seu estudo, a equipe de cientistas criou geneticamente um camundongo para ter neurônios cerebrais sem CMA. Só a ausência dele em um tipo de célula cerebral foi capaz de causar perda de memória de curto prazo, dificuldade de locomoção e prejudicou a proteostase, capacidade das células de regular proteínas dentro delas. De acordo com o artigo, as proteínas normalmente solúveis se tornaram insolúveis e "em risco de aglomeração em agregados tóxicos".

"No momento em que as pessoas atingem a idade de 70 ou 80 anos, a atividade do CMA geralmente diminui cerca de 30% em comparação com quando eram mais jovens", explica Cuervo. "O cérebro da maioria das pessoas pode compensar esse declínio, mas se você adicionar doenças neurodegenerativas à mistura, o efeito sobre a composição proteica normal dos neurônios cerebrais pode ser devastador."

Portanto, a equipe desenvolveu um novo medicamento que revitaliza a eficiência do CMA ao aumentar os níveis de um componente chave dele, chamado de LAMP2A.

"Você produz a mesma quantidade de receptores LAMP2A ao longo da vida, mas esses receptores se deterioram mais rapidamente com a idade, então as pessoas mais velhas tendem a ter menos deles disponíveis. A droga restaura o LAMP2A para níveis juvenis, permitindo que o CMA se livre de proteínas defeituosas para que não possam formar esses aglomerados de proteínas tóxicas", conta Cuervo.

Nos testes em camundongos, as doses orais administradas ao longo de 4 a 6 meses levaram a melhorias na memória, depressão e ansiedade, além de melhorar a capacidade de locomoção em animais que apresentaram essa dificuldade. Em seus neurônios cerebrais, a droga reduziu significativamente os níveis de aglomerados de proteínas tóxicas, em comparação com animais não tratados.

Cuervo acredita que, como os animais já apresentavam sintomas da doença, a droga pode ajudar a preservar a função dos neurônios "mesmo nos estágios mais avançados da doença".

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