Ciência

Alta de CFC alerta sobre violação ao pacto de proteção da camada de ozônio

Estudo publicado na Nature relata aumento “inesperado” das emissões de um dos químicos mais nocivos à camada de ozônio — o CFC-11, conhecido como gás freon

Ozônio total sobre a Antártida: as cores roxas e azuis são onde há menos ozônio, e os amarelos e vermelhos, onde há mais ozônio (set/2017). (NASA/Reprodução)

Ozônio total sobre a Antártida: as cores roxas e azuis são onde há menos ozônio, e os amarelos e vermelhos, onde há mais ozônio (set/2017). (NASA/Reprodução)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de maio de 2018 às 14h06.

Última atualização em 24 de maio de 2018 às 14h14.

São Paulo - Em 1º de janeiro de 1989, entrava em vigor um tratado internacional para combater a destruição da camada de ozônio estratosférica, que protege a Terra e os seres vivos dos efeitos de radiações ultravioletas nocivas.

O Protocolo de Montreal impôs obrigações específicas aos países, em especial a progressiva redução da produção e consumo das substâncias que destroem a camada de ozônio, a exemplo dos clorofluorcarbonos (CFCs), até sua total eliminação em 2010.

Com o passar do tempo e sinais de recuperação da camada de ozônio, o Protocolo se tornaria um exemplo de sucesso dentre os múltiplos acordos multilaterais ambientais. Mas uma nova pesquisa publicada na revista Nature traz um dado preocupante.

Cientistas do NOAA, órgão ligado à Agência Espacial Americana (NASA), e que monitora as condições oceânicas-atmosféricas ao redor do globo, observaram um aumento "inesperado" das emissões atmosféricas de um dos químicos que mais contribuíram para o buraco na camada de ozônio — o Tricloromonofluormetano, ou CFC-11, mais conhecido pelo seu nome comercial, "freon".

O CFC-11 foi outrora amplamente utilizado como agente expansor na fabricação de espumas de poliuretano, propelente em
aerossóis e medicamentos e fluido na refrigeração comercial, doméstica e industrial. Sua produção foi eliminada pelo Protocolo de Montreal em 2010.

Contudo, o novo estudo revela um aumento inesperado nas emissões desse gás, provavelmente a partir de uma nova produção não declarada com possível foco na Ásia. Mas ainda não é possível dizer o que está por trás dessa alta e o que pode ser feito para contê-la.

Os resultados da nova análise das medições atmosféricas da NOAA mostram que de 2014 a 2016, as emissões de CFC-11 aumentaram em mais de 14.000 toneladas por ano para cerca de 65.000 toneladas por ano, ou 25% acima da média de emissões entre 2002 e 2012.

Para colocar isso em perspectiva, a produção de CFC-11 atingiu o pico de cerca de 430.000 toneladas por ano na década de 1980.

É a primeira vez que as emissões de um dos CFCs mais abundantes e de longa duração aumentaram por um período sustentado desde que os controles de produção entraram em vigor no final dos anos 80.

Se a fonte dessas emissões puder ser identificada e mitigada em breve, os danos à camada de ozônio podem ser reduzidos, dizem os cientistas. Sem isso, a recuperação da camada de ozônio pode demorar mais do que esperado.

Persistência ambiental

Embora a produção de freon tenha sido eliminada pelo Protocolo de Montreal, um grande reservatório desse gás ainda se encontra em estruturas existentes, principalmente em isolamento de espuma em prédios e eletrodomésticos fabricados antes de meados dos anos 90.

A eventual destruição dessas estruturas poderia ser uma fonte de liberação de grandes volumes de freon na atmosfera, mas, para os pesquisadores, esta não é uma explicação plausível. Daí a hipótese de que em algum lugar esteja ocorrendo a produção intencional de novos produtos com o gás.

Uma vez liberado, o CFC-11 pode durar de 50 a 100 anos na atmosfera. Conforme a pesquisa, o gás ainda representa um quarto de todo o cloro presente na estratosfera atualmente. Assim, as expectativas de recuperação do ozônio para meados do século dependem de um declínio acelerado do CFC-11 na atmosfera.

Segundo os cientistas da NOAA, apesar do aumento das emissões de CFC-11, sua concentração atmosférica continua caindo, mas em ritmo equivalente à metade da taxa observada há alguns anos e substancialmente mais lenta do que a esperada. Mais trabalho será necessário para identificar as fontes e tomar as devidas medidas para combatê-la.

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