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Toquinho diz que "falta brasileirismo" em nova geração de artistas

Músico se disse confiante em relação ao governo de Jair Bolsonaro, do qual espera um freio à antiga "classe política que monopoliza tudo"

Toquinho: "Há pessoas talentosas, mas não há uma geração. Não há um Brasil" (Jordi Vidal/Getty Images)
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EFE

Publicado em 8 de novembro de 2018 às 17h26.

São Paulo - Filho da bossa nova e um dos grandes nomes da MPB , Toquinho lamenta a ausência de uma nova geração de artistas, como o foi a sua, um fato que atribui à falta de um "Brasil maravilhoso".

"Não há falta de talento, há uma falta de brasileirismo. Tem a minha geração, a geração de Tom Jobim e por que não há uma geração (de artistas) agora? Há pessoas talentosas, mas não há uma geração. Não há um Brasil", disse o artista em entrevista à Agência Efe.

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De acordo com Toquinho, a geração de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil viveu um Brasil "maravilhoso": o da fundação de Brasília, do governo de Juscelino Kubitschek e da chegada do Cinema Novo.

"Não foram os nossos talentos que forjaram a minha geração, foi o Brasil. O Brasil não forja nada agora. Talentos existem, mas uma geração unida, não", ressaltou.

Esses artistas nasceram com "a semente da bossa nova" e encontraram uma ditadura militar no meio do caminho que os obrigou a serem criativos "para dizerem certas coisas que queriam dizer diante de uma censura que era muito rigorosa".

"A censura forjou a nossa criatividade, mas nenhuma ditadura forja artistas, as ditaduras sempre são muito ruins", alertou o cocriador de "A Tonga da Mironga do Kabuletê", uma canção de atrevimento que compôs com Vinicius de Moraes durante a ditadura no Brasil.

O compositor de "Aquarela" diz se sentir otimista sobre o futuro de um "país enorme que o tem tudo", mas que nos últimos anos foi prejudicado pela corrupção e por "políticos que os brasileiros não merecem".

Sobre o futuro, Toquinho se mostrou confiante em relação ao governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro , do qual espera um freio à antiga "classe política que monopoliza tudo" no país e que, segundo ele, agora está "assustada" devido ao aumento da rigidez "das leis contra a corrupção".

"O Brasil tinha que passar por tudo que está passando. Para limpar alguma coisa, é preciso sujar as mãos. Basta não roubar o que roubaram, trilhões, e que haja um pouco mais de dignidade nessa política. Acredito que agora o Brasil está nas mãos de pessoas que são incorruptíveis. Não vejo o juiz Sergio Moro como corrupto, nem Jair Bolsonaro. Isso é segurança total de não corrupção", analisou.

Com mais de cinco décadas de carreira, Toquinho disse ter a mesma "sensação do começo", a de um jovem músico que no início dos anos 70 começou a compor para o mestre Vinicius de Moraes.

Em uma viagem de navio a Buenos Aires, Toquinho, que na época tinha pouco mais de 20 anos, mostrou a Vinicius uma adaptação do adágio "roubado" de Tomaso Albinoni.

A melodia, que se tornou samba, deu origem à primeira canção assinada por ambos, "Como dizia o poeta", cuja letra Vinicius escreveu meses depois em uma viagem de ônibus à Bahia.

"Porque a vida só se dá para quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu", diz a canção, que marcou o início de uma década de trabalhos da dupla.

Segundo Toquinho, após a morte de Vinicius, em 1980, havia "canção e violão todos os dias, o lado profissional era uma consequência da amizade".

"Demos o que ambos necessitávamos. Ele me deu um conhecimento de vida e eu lhe dei o que ele não tinha mais, que era a juventude, o vigor de fazer as coisas, a criatividade, as canções novas", contou.

Das histórias que pode contar, Toquinho retém na memória a viagem de navio a Buenos Aires. Ele estava enjoado e Vinicius, que considerava o uísque o melhor amigo do homem, bebia sem parar, como "costumava fazer todos os dias".

"Um dia, discutindo umas coisas, ele me disse que quem não sabe beber não tem personalidade. Não falava de coração, falava da boca para fora. Era uma agressão carinhosa", relembrou entre risos.

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