Sexy repaginado: Calendário Pirelli traz nudez de volta às páginas — e dessa vez, não só a feminina
A nudez está de volta ao Calendário Pirelli, agora com corpos e histórias reais, com nova estética e sem perfeição retocada
Editora da Homepage
Publicado em 22 de dezembro de 2024 às 14h08.
Quando Ethan James Green foi convidado para fotografar o Calendário Pirelli, ele só tinha uma certeza: traria a nudez de volta e, desta vez, não só a feminina. E seria mais do que uma celebração da beleza convencional. A visão de Green marca um retorno à sensualidade que tornou as edições anteriores do calendário tão icônicas, ao mesmo tempo que reescreve completamente as regras do que é ser sexy.
A nudez de Green abandona a iconografia erótica para abraçar uma nova estética do corpo. O fotografado se torna sujeito, e não mais apenas objeto. O corpo, revigorado e revelado em sua nudez, se torna espelho de uma sociedade em mudança. “A nudez pode ser vulgar, mas também pode ser sagrada. Trata-se da pureza e da sensualidade das inúmeras formas da beleza humana”, afirmou o fotógrafo durante a apresentação do calendário, em novembro, em Londres.
Após anos longe de suas raízes sensuais, com os poderosos retratos feitos por Annie Leibovitz de Patti Smith e Serena Williams totalmente vestidas em edições mais recentes, a Pirelli fecha um círculo com o trabalho de Green. Desta vez, de forma colaborativa, ele também se despiu na frente das câmeras, sendo o terceiro fotógrafo da história a aparecer nas páginas do calendário. Ele acredita que ter participado era “o mínimo que poderia fazer” para deixar todos confortáveis com a ideia de usarem pouca — ou quase nenhuma — roupa.
Mas, em um calendário com pouquíssimas vestimentas, qual seria o papel de uma editora de moda? Green convidou a veterana da Vogue, Tonne Goodman, com quem já tinha trabalhado anteriormente, para fazer a escolha das roupas que seriam usadas pelos fotografados. Só que, diferentemente de outros trabalhos da editora, ela chegou ao set, em uma praia deserta de Miami, com uma arara de roupas quase vazia.
Todos os adereços usados nas fotos foram escolhidos poucas horas antes da sessão, ali mesmo na areia da praia. Foram troncos de árvores, galhos e redes. As únicas roupas que Goodman levou eram peças que cobririam pouco do corpo e que deveriam passar despercebidas nas fotos. Os fotografados começavam a sessão levemente vestidos e, com o passar dos cliques, iam se despindo e se misturando à natureza. A interação com os objetos da praia aumentava conforme mais pele aparecia. Para nenhum deles foi solicitado que as peças fossem retiradas: tudo aconteceu de forma espontânea.
A abordagem despojada criou um ambiente onde a autenticidade poderia florescer. Para o ator John Boyega, era uma chance de desafiar a narrativa -usual de Hollywood sobre corpos e transformação. Em vez de esperar para estar no pico da condição física, ele escolheu mostrar o que ele chama de seu físico “em andamento”. “Há algo bastante vulnerável e poderoso em mostrar o processo de algo, em vez do resultado final”, ele reflete. “Mais do que tudo, quero ser capaz de me relacionar com as pessoas no mundo. Não apenas dar a elas um padrão irrealista.”
Para Green, esse tipo de honestidade crua era exatamente o que ele queria capturar. “O objetivo é sempre criar algo que resista ao teste do tempo”, ele diz. “É por isso que eu amo fotos clássicas e abordo as imagens da maneira que eu faço — para criar algo que fique por perto e represente o momento atual, mas que seja de fácil entendimento no futuro.”
O calendário, com o tema “Refresh and Reveal”, foi apresentado a um grupo de convidados e jornalistas, do qual a EXAME fez parte, no Museu de História Natural de Londres, no fim de novembro. O ano começa com Hunter -Schafer, atriz de Euphoria, e passa por Vincent Cassel, Simone Ashley, John Boyega, Jodie Turner-Smith, Jung Ho-yeon e Padma -Lakshmi. Grande parte do elenco já era próxima — pessoal e profissionalmente — de Green. Além das fotos na praia, coloridas, foram feitas imagens em preto e branco em estúdio, totalizando 24 retratos.
“Meu corpo não será usado como uma arma contra mim”, disse a apresentadora Padma Lakshmi. “É meu para aproveitar, é meu para revelar ou não revelar.” Aos 54 anos, o “pico sexual completo” de Lakshmi- se encaixa perfeitamente ao lado da fisicalidade “em andamento” de Boyega — prova de que os padrões de beleza, como o próprio calendário, estão finalmente evoluindo. Já se foram os dias de fotos de nudez sem significado e perfeição retocada. Em seu lugar? Corpos reais, histórias reais e, como Boyega coloca, “algo bastante vulnerável e poderoso”. Acontece que o sexy nunca foi embora de verdade — só precisava de uma atualização.
Calendário Pirelli 2025
*A jornalista viajou a convite da Pirelli