"Sem Proteção" investiga fim das utopias dos anos 60
Filme dirigido e estrelado por Robert Redford fala de perdas: da inocência, dos sonhos, dos ideais, da identidade
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2013 às 13h53.
São Paulo - Há uma cena em "Sem Proteção", novo filme dirigido e estrelado por Robert Redford, que é bastante reveladora. Ele conversa com um colega, que não vê há muito tempo, e fala sobre o passado, quando ambos faziam parte do Weather Underground, grupo radical de esquerda atuante nos EUA dos anos de 1960.
Tristemente, Jed (Richard Jenkins), um professor universitário comenta: "Os alunos me adoram, ouvem minhas histórias , batem palmas e depois atualizam seu status no Facebook". Depois disso, os dois concluem: "Viramos os nossos pais." O outro participante desse diálogo é Jim Grant (Redford). Durante mais de três décadas, ele escondeu sua verdadeira identidade, Nick Sloan, tornou-se advogado, casou-se e teve uma filha, agora com pouco mais de 10 anos, e enviuvou.
Outro membro do grupo era Sharon Solarz (Susan Sarandon), cujo destino também inclui casamento e filhos. Outros Weathermen, como eram conhecidos, aparecem no caminho de Grant, e, tristemente, conclui-se, parafraseando o famoso verso, ainda são os mesmos e vivem como os pais deles.
E é em meio a esse clima de conformismo -ou amadurecimento, conforme se preferir chamar- que a vida de Grant chacoalha quando Sharon é presa por conta da morte de um guarda de um banco ao qual o grupo assaltava.
Ben Shepard (Shia LaBeouf), repórter de um jornal decadente, começa a investigar o caso e descobre que o advogado é na verdade o outro acusado do crime.
Para evitar ser preso, Grant deixa a filha com o irmão (Chris Cooper) e inicia uma fuga, enquanto o FBI, liderado pelo agente Cornelius (Terrence Howard), segue em sua busca.
O protagonista acredita que uma ex-parceira de guerrilha pode provar que ele era inocente, e sua obsessão se torna, então, a busca por essa mulher, Mimi Lurie (Julie Christie). Mas os dois não foram apenas colegas nos ideias, foram um casal apaixonado.
Olhar para trás, para o passado, representa para Grant/Sloan reencontar as figuras que não via há décadas. E, cada um acomodado em sua nova vida, abandonou os ideias pelos quais lutaram -exceto Mimi, a personagem mais enigmática e interessante do filme, a única que se mantém coerente com aquilo que sempre defendeu. O preço cobrado, no entanto, como ela mesma deixa claro, é caro, pelas suas contas, já mudou de identidade umas seis vezes.
Redford coloca nos papéis centrais pessoas de sua geração, cujas marcas do tempo se fazem presentes em suas figuras. O contraponto é o jovem repórter inescrupuloso, interesseiro e manipulador, desprovido de sonhos e repleto de ambições, que chega a usar uma ex-namorada (Anna Kendrick), que trabalha no FBI, para conseguir informações e entrevistar Sharon.
"Sem Proteção" é um filme que fala de perdas: da inocência, dos sonhos, dos ideais, da identidade. É uma obra bastante melancólica, e não teria como não o ser.
Redford, o diretor, por sua vez, nunca se afasta do lado humano de seus personagens. São as contradições, exatamente, que fazem esses personagens soarem reais. Não existem mártires, nem heróis, só gente lutando por aquilo em que acredita.
Mesmo quando não conseguem, se resignam àquilo que o presente pode lhes oferecer, ainda que não tenha quase nada a ver com o que sonharam.
https://youtube.com/watch?v=kHv1rGS-YZ0%3Ffeature%3Dplayer_detailpage
São Paulo - Há uma cena em "Sem Proteção", novo filme dirigido e estrelado por Robert Redford, que é bastante reveladora. Ele conversa com um colega, que não vê há muito tempo, e fala sobre o passado, quando ambos faziam parte do Weather Underground, grupo radical de esquerda atuante nos EUA dos anos de 1960.
Tristemente, Jed (Richard Jenkins), um professor universitário comenta: "Os alunos me adoram, ouvem minhas histórias , batem palmas e depois atualizam seu status no Facebook". Depois disso, os dois concluem: "Viramos os nossos pais." O outro participante desse diálogo é Jim Grant (Redford). Durante mais de três décadas, ele escondeu sua verdadeira identidade, Nick Sloan, tornou-se advogado, casou-se e teve uma filha, agora com pouco mais de 10 anos, e enviuvou.
Outro membro do grupo era Sharon Solarz (Susan Sarandon), cujo destino também inclui casamento e filhos. Outros Weathermen, como eram conhecidos, aparecem no caminho de Grant, e, tristemente, conclui-se, parafraseando o famoso verso, ainda são os mesmos e vivem como os pais deles.
E é em meio a esse clima de conformismo -ou amadurecimento, conforme se preferir chamar- que a vida de Grant chacoalha quando Sharon é presa por conta da morte de um guarda de um banco ao qual o grupo assaltava.
Ben Shepard (Shia LaBeouf), repórter de um jornal decadente, começa a investigar o caso e descobre que o advogado é na verdade o outro acusado do crime.
Para evitar ser preso, Grant deixa a filha com o irmão (Chris Cooper) e inicia uma fuga, enquanto o FBI, liderado pelo agente Cornelius (Terrence Howard), segue em sua busca.
O protagonista acredita que uma ex-parceira de guerrilha pode provar que ele era inocente, e sua obsessão se torna, então, a busca por essa mulher, Mimi Lurie (Julie Christie). Mas os dois não foram apenas colegas nos ideias, foram um casal apaixonado.
Olhar para trás, para o passado, representa para Grant/Sloan reencontar as figuras que não via há décadas. E, cada um acomodado em sua nova vida, abandonou os ideias pelos quais lutaram -exceto Mimi, a personagem mais enigmática e interessante do filme, a única que se mantém coerente com aquilo que sempre defendeu. O preço cobrado, no entanto, como ela mesma deixa claro, é caro, pelas suas contas, já mudou de identidade umas seis vezes.
Redford coloca nos papéis centrais pessoas de sua geração, cujas marcas do tempo se fazem presentes em suas figuras. O contraponto é o jovem repórter inescrupuloso, interesseiro e manipulador, desprovido de sonhos e repleto de ambições, que chega a usar uma ex-namorada (Anna Kendrick), que trabalha no FBI, para conseguir informações e entrevistar Sharon.
"Sem Proteção" é um filme que fala de perdas: da inocência, dos sonhos, dos ideais, da identidade. É uma obra bastante melancólica, e não teria como não o ser.
Redford, o diretor, por sua vez, nunca se afasta do lado humano de seus personagens. São as contradições, exatamente, que fazem esses personagens soarem reais. Não existem mártires, nem heróis, só gente lutando por aquilo em que acredita.
Mesmo quando não conseguem, se resignam àquilo que o presente pode lhes oferecer, ainda que não tenha quase nada a ver com o que sonharam.
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