São Silvestre faz retrato belo e sensorial da corrida
Filme estreia no país nesta sexta-feira, às vésperas da histórica corrida, realizada na virada do Ano Novo
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2013 às 09h57.
São Paulo - Lina Chamie ("A Via Láctea") faz um dos documentários mais bonitos e sensoriais do ano em "São Silvestre", filme que estreia no país nesta sexta-feira, às vésperas da histórica corrida, realizada na virada do Ano Novo .
O filme não tem nada de um documentário convencional. É, acima de tudo, impressionista e uma grande homenagem à cidade de São Paulo, cujas ruas servem de cenário para a competição.
Em sua geografia, São Paulo oferece planícies e ladeiras, alívios e obstáculos para corredores do mundo todo. Nessa dinâmica urbana, Lina inscreve sua câmera que captura a beleza e opressão, o verde e o concreto, a Avenida Paulista e o centro velho, os contrastes e paradoxos, as alegrias e melancolias. Mas todos esses cenários são mera moldura para quem está nas ruas correndo.
Como num dos longas mais famosos da diretora, "A Via Láctea", São Paulo é uma personagem crucial. Mas, se naquele filme a cidade se dissolvia na mente de um homem que estava morrendo, fazendo conexões estranhas entre ruas distantes, caminhos improváveis e impossíveis, aqui é a São Paulo real, aquela que determina os itinerários em suas ruas de mão única e conversões proibidas.
Ainda assim, seja antes ou durante a corrida, São Paulo é fragmentada, impossível de ser capturada em sua totalidade. Acontece que a competição também tem esse caráter pós-moderno, por mais que acompanhemos pela televisão, por mais que vejamos mapas, simulações, imagens aéreas, é impossível dar conta do todo, temos de nos contentar com pedaços, segmentos que fazem um retrato aproximado dessa cidade tão paradoxal.
Durante a primeira parte do filme, Lina e sua câmera traçam parte do percurso no começo da manhã, com um sol ameno, ruas vazias e a calma de quem pode admirar o que há para se ver.
Um dos momentos mais bonitos está nas imagens do Teatro Municipal, ao som da ópera "Sansão e Dalila". Aliás, a música faz parte da formação da diretora e tem papel crucial em seus filmes. Aqui, também estão presentes Mahler ("Primeira Sinfonia") e Scriabin ("Poema do Êxtase"), tocado na reta final do filme, quando os corredores estão perto da linha de chegada.
Intercaladas com essas imagens, estão a cidade no seu dia-a-dia num dezembro com chuva, decorações de Natal e pessoas com rumos definidos, ou não. Lina enxerga a poesia que existe em meio ao caos de São Paulo.
Parece haver um balé de carros, que deslizam pelo asfalto molhado. A diretora trabalha com várias câmeras espalhadas ao longo do percurso e uma colada ao ator Fernando Alves Pinto, intercalando imagens de seu rosto com o coletivo da massa de corredores.
A corrida de São Silvestre nunca teve grandes registros no cinema. Durante a preparação para o longa, Lina também realizou um curta, que acabou premiado no Festival É Tudo Verdade de 2011.
A corrida também aparece em "São Paulo S. A.", de Luís Sérgio Person, mas de forma bem menor. Aqui, a diretora faz um retrato poético de um evento que, em sua essência, tem a ressaltar aquilo que há de mais humano em cada um de nós, seja na vitória ou na dor - tanto para quem corre, quanto para quem assiste.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
São Paulo - Lina Chamie ("A Via Láctea") faz um dos documentários mais bonitos e sensoriais do ano em "São Silvestre", filme que estreia no país nesta sexta-feira, às vésperas da histórica corrida, realizada na virada do Ano Novo .
O filme não tem nada de um documentário convencional. É, acima de tudo, impressionista e uma grande homenagem à cidade de São Paulo, cujas ruas servem de cenário para a competição.
Em sua geografia, São Paulo oferece planícies e ladeiras, alívios e obstáculos para corredores do mundo todo. Nessa dinâmica urbana, Lina inscreve sua câmera que captura a beleza e opressão, o verde e o concreto, a Avenida Paulista e o centro velho, os contrastes e paradoxos, as alegrias e melancolias. Mas todos esses cenários são mera moldura para quem está nas ruas correndo.
Como num dos longas mais famosos da diretora, "A Via Láctea", São Paulo é uma personagem crucial. Mas, se naquele filme a cidade se dissolvia na mente de um homem que estava morrendo, fazendo conexões estranhas entre ruas distantes, caminhos improváveis e impossíveis, aqui é a São Paulo real, aquela que determina os itinerários em suas ruas de mão única e conversões proibidas.
Ainda assim, seja antes ou durante a corrida, São Paulo é fragmentada, impossível de ser capturada em sua totalidade. Acontece que a competição também tem esse caráter pós-moderno, por mais que acompanhemos pela televisão, por mais que vejamos mapas, simulações, imagens aéreas, é impossível dar conta do todo, temos de nos contentar com pedaços, segmentos que fazem um retrato aproximado dessa cidade tão paradoxal.
Durante a primeira parte do filme, Lina e sua câmera traçam parte do percurso no começo da manhã, com um sol ameno, ruas vazias e a calma de quem pode admirar o que há para se ver.
Um dos momentos mais bonitos está nas imagens do Teatro Municipal, ao som da ópera "Sansão e Dalila". Aliás, a música faz parte da formação da diretora e tem papel crucial em seus filmes. Aqui, também estão presentes Mahler ("Primeira Sinfonia") e Scriabin ("Poema do Êxtase"), tocado na reta final do filme, quando os corredores estão perto da linha de chegada.
Intercaladas com essas imagens, estão a cidade no seu dia-a-dia num dezembro com chuva, decorações de Natal e pessoas com rumos definidos, ou não. Lina enxerga a poesia que existe em meio ao caos de São Paulo.
Parece haver um balé de carros, que deslizam pelo asfalto molhado. A diretora trabalha com várias câmeras espalhadas ao longo do percurso e uma colada ao ator Fernando Alves Pinto, intercalando imagens de seu rosto com o coletivo da massa de corredores.
A corrida de São Silvestre nunca teve grandes registros no cinema. Durante a preparação para o longa, Lina também realizou um curta, que acabou premiado no Festival É Tudo Verdade de 2011.
A corrida também aparece em "São Paulo S. A.", de Luís Sérgio Person, mas de forma bem menor. Aqui, a diretora faz um retrato poético de um evento que, em sua essência, tem a ressaltar aquilo que há de mais humano em cada um de nós, seja na vitória ou na dor - tanto para quem corre, quanto para quem assiste.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb