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Ruth de Souza, uma atriz pioneira da representatividade negra no Brasil

Atriz morreu no domingo, 28, aos 98 anos, em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia

Ruth de Souza: atriz morreu no domingo, 28, aos 98 anos (Reprodução TV Brasil/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de julho de 2019 às 11h40.

As dificuldades pareciam não importunar a atriz Ruth de Souza que, durante mais de seis décadas, construiu uma sólida carreira no cinema, teatro e televisão. Ela morreu no domingo, 28, aos 98 anos, em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia. Ruth estava internada no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D’Or, na zona sul do Rio de Janeiro.

Tão logo a notícia de sua morte se espalhou, as redes sociais foram tomadas por mensagens de pesar e de lembranças pelas suas conquistas. Recordações que sempre foram tema de debates e conversas promovidos por artistas conscientes de sua admirável negritude, como Lázaro Ramos, Taís Araújo, Érico Bras, Zezé Motta.

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Ruth Pinto de Souza, ou simplesmente Ruth de Souza, participou decisivamente da história do teatro, cinema e TV e foi decisiva para o reconhecimento do artista negro no Brasil. Ela foi a primeira a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, encenando uma peça do dramaturgo americano Eugene O’Neill, O Imperador Jones (1945). Ruth foi também pioneira no Teatro Experimental do Negro, comandado por Abdias do Nascimento.

Em 1948, estreou no cinema em um papel de Terra Violenta, adaptado do romance Terras do Sem Fim, de Jorge Amado. Em 1959, foi tão marcante em Oração para Uma Negra, de William Faulkner, de novo no teatro, que ganhou uma bolsa de um ano da Fundação Rockfeller para estudar nos EUA, por indicação de Paschoal Carlos Magno. Voltou ainda mais consciente, em uma época em que os negros norte-americanos começavam a se mobilizar na luta por direitos civis.

No cinema, com diversos trabalhos em sua trajetória, participou de obras como A Morte Comanda o Cangaço, O Assalto ao Trem Pagador, As Cariocas, O Homem Nu, Orfeu Negro. E teve seu trabalho mais uma vez reconhecido, ao ser indicada para o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Veneza, em 1954, pelo filme Sinhá Moça, dirigido por Tom Payne. Ruth concorreu com atrizes renomadas como Katharine Hepburn, Michèle Morgan e Lilli Palmer, que foi a vencedora.

Em mais de 70 anos dedicados à cultura, Ruth de Souza pisou em diversos palcos. Na televisão, fez inúmeras novelas, das quais algumas ganharam notoriedade. Estreou na novela A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro, na extinta TV Excelsior. Em 1969, tornou-se a primeira atriz negra a protagonizar uma novela, A Cabana do Pai Tomás, já na Globo. Entre outras atuações, Ruth participou de folhetins que se tornaram clássicos, como O Bem Amado, Os Ossos do Barão, O Rebu. A atriz atuou ainda em dezenas de programas na televisão, desempenhando o último papel de sua vida na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, exibido pela Globo este ano.

Ruth de Souza, ou Dona Ruth, como os amigos a tratavam com respeito, nasceu no Rio, mas foi criada em uma fazenda na cidade de Porto do Marinho, em Minas Gerais. De lá, voltou para o Rio, onde iniciou sua vasta carreira que, de tão diversificada, foi homenageada no carnaval deste ano, como enredo da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, no Rio, que criou o enredo Ruth de Souza - Senhora Liberdade.

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