Jean-Paul Gaultier ao lado de uma estátua de cera com seu rosto: um dos ícones da moda europeia (Charles Platiau/File Photo/Reuters)
AFP
Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 15h01.
Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 15h15.
A camiseta de marinheiro, o corpete cônico usado pela cantora Madonna e as saias para homens são algumas das criações que marcaram o estilo de Jean Paul Gultier, que na próxima quarta-feira 22 vai se despedir dos desfiles de alta costura.
Uma marca de fábrica do estilista, que se inspirou na roupa que usava na infância. A camiseta de marinheiro se transformou em um elemento do vestuário unissex, e nos desfiles é usada em várias versões, como curta e como vestido longo.
Os artistas Pierre e Gilles imortalizaram o estilista vestido com sua roupa-fetiche e um buquê de margaridas nas mãos. O suéter listrado aparece até no frasco do perfume "Le Mâle", que começou a ser vendido em 1995.
Crítico dos clichês de moda relacionados ao sexo, Jean Paul Gaultier causou sensação ao criar saias para homens em sua coleção "E Deus criou o Homem" em 1984. Segundo ele, "um homem não leva a masculinidade na roupa, sua virilidade está na mente".
A saia aparece em vários tecidos para confrontar melhor os códigos do masculino e do feminino. E sua arte para jogar com os papéis do gênero vira manifesto quando veste o homem com estampas escocesas, como um kilt.
Um corpete de sua avó o fez se interessar por essa peça. Jean Paul Gaultier começa a comprar "bustiês" com enchimentos cônicos nas lojas e os decora com cruzes militares. A partir de 1980 começa a costurá-los e transformar em peças de roupa.
Quando Madonna pede que ele faça o figurino de sua turnê "Blond Ambition Tour" em 1990, o corpete rosado com seios pontiagudos usado pela estrela se transforma em sucesso mundial.
Jean Paul Gaultier gosta da diferença e vê beleza em todos os lugares. Nos anos 1980, publicou um anúncio no jornal Libération: "Estilista inconformista busca modelos atípicas. Pessoas com o rosto disforme, não se abster".
Rompendo com os símbolos da beleza em voga para modelos, desfilou mulheres com sobrepeso, de meia-idade, não brancas. Foi quem lançou Farida Khelfa, primeira modelo de origem magrebina que alcançou o sucesso.
Também levou para passarela a exuberante cantora americana Beth Ditto (ex-membro do grupo de rock Gossip), a pin-up Dita Von Teese, a travesti Conchita Wurst, a cantora Mylène Farmer. A maioria de seus desfiles são em tons festivo e muito coloridos.
A mente criativa de Jean Paul Gaultier também alcançou os teatros e as salas de cinema. Como quando reinventou os ternos do músico Yvette Horner.
Os figurinos para o cinema são os mais lembrados, como o look de Victoria Abril em "Kika", de Pedro Almodóvar (com quem Jean Paul Gaultier colaborou várias vezes), os ternos de "A Cidade das Crianças Perdidas", de Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, além dos filme "O Quinto Elemento", de Luc Besson. Nesse filme, que se transformou em um clássico da ficção científica, despe Milla Jovovitch com um macacão minimalista, feito com tiras de tecido branco. Já o laranja escolheu para todos os outros lugares, como as roupas de Bruce Willis, o cabelo de Milla e os uniformes dos funcionários do McDonald's.