Por que vinícola portuguesa lançou seu vinho mais icônico e caro no Brasil?
Em 2023, o Brasil superou os Estados Unidos e se tornou o principal destino das garrafas de vinho português – exceto os vinhos do Porto
Repórter de Lifestyle
Publicado em 28 de outubro de 2024 às 08h54.
Em 2023, a importação de vinhos de Portugal alcançou números recordes, consolidando a preferência dos brasileiros pelos rótulos lusitanos. O Brasil, inclusive, superou os Estados Unidos e se tornou o principal destino das garrafas de vinho português – exceto os vinhos do Porto.
Entre janeiro e dezembro do ano passado, o Brasil importou 77 milhões de euros em vinhos de Portugal, um aumento de 8,7% em relação ao ano anterior. Em volume, o crescimento foi de 4%. Os dados são da base global de comércio Comtrade e foram compilados, com exclusividade para a Casual EXAME, pela agência Vinhos de Portugal. Com esse desempenho, o Brasil se tornou o maior mercado dos vinhos portugueses, ultrapassando os Estados Unidos.
De fato, o brasileiro nunca consumiu tanto vinho, e não apenas o português. Embora a expectativa global seja de uma queda de 1% ao ano no consumo de vinho até 2026, conforme a consultoria especializada IWSR, no Brasil a situação é diferente. O consumo médio per capita passou de 1,8 litro em 2019 para 2,7 litros em 2022, e permanece nesse patamar.
O bom momento também se reflete nos vinhos premium. Segundo a IWSR, o mercado de bebidas de valor elevado deve crescer 50% nas Américas até 2026. Apenas o segmento de vinhos premium deve aumentar 16% na região.
Diante desse cenário, a vinícola portuguesa Adega Cartuxa optou por lançar, pela primeira vez fora de Portugal, a nova safra de seu icônico Pêra-Manca, safra 2018. O lançamento ocorreu na ProWine, a maior feira de vinhos e destilados da América Latina, voltada exclusivamente para o setor de comércio e distribuição.
João Teixeira, diretor comercial e de marketing da Fundação Eugénio de Almeida (proprietária da Adega Cartuxa), explica que o Pêra-Manca tem um valor especial no Brasil. Segundo a história, o vinho teria sido utilizado por Pedro Álvares Cabral para selar o encontro com os indígenas no século XVI. A nova safra chega ao mercado com garrafas que custam em torno de R$ 4.000 e estará disponível nos próximos meses.
A safra 2018
O enólogo Pedro Baptista, da Fundação Eugénio de Almeida, destacou os desafios climáticos enfrentados em 2018, com temperaturas mais quentes e secas que afetaram o desenvolvimento das vinhas. Foi necessário reduzir a quantidade de cachos por planta para garantir a qualidade das uvas. Ao final, as vinhas mais antigas e resilientes produziram frutas com uma maturação adequada.
Foram produzidas cerca de 20 mil garrafas do Pêra-Manca Tinto 2018. O processo envolveu uma seleção rigorosa das uvas, fermentação controlada, amadurecimento em tanques de carvalho francês por 18 meses, e, por fim, um período de maturação nas caves do Convento da Cartuxa.
"É um vinho denso, profundo e elegante, com a máxima expressão do perfil clássico do Pêra-Manca: aromas de frutas negras maduras e em compota, notas florais e especiarias doces, sustentadas por taninos firmes", diz Teixeira.