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Para além da madeira, o aço, o barro e o concreto surpreendem no envelhecimento de vinhos

Vinícolas buscam alternativa para a tradicional barrica de carvalho na elaboração do vinho

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Publicado em 30 de julho de 2024 às 07h47.

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Recentemente, o Guia Descorchados, publicação de maior relevância sobre vinhos sul-americanos, surpreendeu o mercado ao conceder inéditos 100 pontos (pontuação máxima e jamais alcançada) para dois exemplares argentinos, ambos da variedade malbec. O mais surpreendente é que ambos, acreditem, não têm nenhum contato com o carvalho ou qualquer outra madeira no processo de elaboração.

Os dois são vinhos que impressionam pela concentração na extração e pela complexidade, mas que, contrariando o estilo clássico de Mendoza, privilegiam a fruta e a expressão da variedade da uva. Esse é mais um fato que ilustra uma tendência na enologia moderna: alternativas ao uso do carvalho na elaboração dos vinhos.

Falar em madeira é quase sempre pensar nos barris de carvalho, sejam eles de carvalho americano ou europeu (em sua maioria francês). Mas também existem outras madeiras, tais como cerejeira, acácia ou mesmo o brasileiríssimo ipê, que podem ser usadas no processo. Contrapondo-se aos vinhos amadeirados que permaneceram hegemônicos nas últimas décadas, a vez agora é dos vinhos que expressam cada vez mais o lugar de onde vêm e as variedades de uvas com que são produzidos.

Para isso, enólogos buscaram alternativas aos recipientes de carvalho. O aço inoxidável chegou à indústria do vinho ainda na década de 1960 e foi — e ainda é — uma das maiores inovações da vinificação moderna. A facilidade de moldar os diversos formatos e tamanhos facilita o trabalho do enólogo, que pode fermentar grandes quantidades ou partidas pequenas e experimentais. Além disso, permite uma produção mais limpa, dada sua fácil assepsia, manutenção e controle de temperatura.

Mais de 2.000 anos atrás, os resquícios mais antigos da história da vinicultura revelam que eram de barro, ou de argila, os primeiros recipientes usados para fermentação e, posteriormente, transporte e armazenagem do vinho. As ânforas de argila (ainda mais quando soterradas) controlavam melhor a temperatura e conservavam melhor o vinho, evitando que se tornasse vinagre. A princípio, a fermentação em ânforas ocorre de forma menos intervencionista e resulta em vinhos de fruta mais pura, com boa estrutura e complexidade.

O queridinho e onipresente nas experimentações de enólogos mais atualizados é o concreto. E ele pode se fazer presente nos diversos formatos de tanques e recipientes, incluindo os “ovos”, que surgiram na Borgonha e que hoje são utilizados no mundo todo. O resultado são vinhos de complexidade e textura desejadas, mas com protagonismo total da fruta e com as características primárias da uva preservadas.

Por fim, a grande mudança — ou tendência — na enologia moderna é que tais alternativas à madeira estejam presentes justamente na elaboração dos melhores vinhos do produtor, como os malbecs estrelados do início deste texto. Fica evidente que grande é o vinho que expressa a sua variedade, seu solo e a cultura daqueles que o elaboram, o que chamamos de terroir, a expressão máxima do vinho.

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