Padura: crise e tecnologia dificultam a vida dos escritores
Para o escritor cubano, "o mundo do livro está sofrendo uma transformação que não sei se chamo de revolução ou involução"
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2014 às 17h35.
Brasília - A crise econômica, a tecnologia e as demandas de um mercado cada vez mais exigente tornaram difícil a vida dos escritores, que vivem uma mudança de era "tão violenta" quanto quando a imprensa foi inventada, segundo o escritor cubano Leonardo Padura.
"O mundo do livro está sofrendo uma transformação que não sei se chamo de revolução ou involução, apesar de estar montada sobre o suporte revolucionário" das tecnologias digitais, disse Padura em entrevista à Agência Efe durante a II Bienal do Livro de Brasília, onde apresentou sua obra "O homem que amava os cachorros".
Na opinião do autor cubano, as novas tecnologias afetaram "a literatura,a relação do leitor com o produto e a relação do próprio escritor com o leitor", que antes acontecia por meio da figura do livreiro, que hoje é "como um dinossauro", em extinção.
"O livreiro sabia o que podia interessar ao seu cliente e era um conselheiro" que junto com as editoras e os distribuidores servia de "ponte" entre o leitor e o escritor, mas isso quase desapareceu e "só restam uns poucos em certos países como Argentina e Espanha", declarou Padura.
Às demandas de um mercado cada vez mais voraz e a pressa imposta pela tecnologia, Padura acrescentou um "elemento alheio à literatura, que é a crise econômica", que limita a capacidade de compra das classes médias, que foram tradicionalmente "os grandes consumidores de cultura".
Para o cubano, o papel da literatura, das editoras e do leitor "está sendo subvertido".
"Agora depende-se muito mais de críticas literárias escritas por um estagiário, ou da promoção que os editores fazem conforme seus próprios interesses", comentou.
A crise econômica, por sua vez, também impactou no que Padura qualificou como "classe média" dos escritores.
"Os autores pobres são os que vendem milhares exemplares e os ricos os que vendem 200 mil ou um milhão de livros", mas "o escritor que sustentava a literatura mundial era o que vendia entre 20 mil e 60 mil exemplares, que cobria as despesas e produzia lucro", explicou.
Porém, esses autores da "classe média" agora "vendem a metade e os exigem produzir o dobro, sobretudo se trabalham com os grandes grupos editoriais mundiais", afirmou Padura.
Padura indicou, no entanto, que "felizmente ainda há editoras nas quais o produto artístico tem um peso importante", que "não te apressam para acabar um livro e não pedem um livro por ano", como ocorre com os grandes grupos, nos quais "se um autor tem sucesso, é exigido imediatamente outro sucesso igual".
Apesar desse manifesto "pessimista" sobre o futuro do livro, Padura considerou que "a literatura ainda é um espaço de repouso na hora de fazer uma análise a partir de uma perspectiva estética" e é uma das poucas "trincheiras" que restam para a criação intelectual.
O escritor cubano também sustentou que "se há algo que não desaparecerá, embora se manifeste de outras maneiras, é o escritor". Padura está convicto que as histórias continuarão sendo contadas e que "a criação de mundos e de fábulas continuará sendo parte da natureza humana".
Brasília - A crise econômica, a tecnologia e as demandas de um mercado cada vez mais exigente tornaram difícil a vida dos escritores, que vivem uma mudança de era "tão violenta" quanto quando a imprensa foi inventada, segundo o escritor cubano Leonardo Padura.
"O mundo do livro está sofrendo uma transformação que não sei se chamo de revolução ou involução, apesar de estar montada sobre o suporte revolucionário" das tecnologias digitais, disse Padura em entrevista à Agência Efe durante a II Bienal do Livro de Brasília, onde apresentou sua obra "O homem que amava os cachorros".
Na opinião do autor cubano, as novas tecnologias afetaram "a literatura,a relação do leitor com o produto e a relação do próprio escritor com o leitor", que antes acontecia por meio da figura do livreiro, que hoje é "como um dinossauro", em extinção.
"O livreiro sabia o que podia interessar ao seu cliente e era um conselheiro" que junto com as editoras e os distribuidores servia de "ponte" entre o leitor e o escritor, mas isso quase desapareceu e "só restam uns poucos em certos países como Argentina e Espanha", declarou Padura.
Às demandas de um mercado cada vez mais voraz e a pressa imposta pela tecnologia, Padura acrescentou um "elemento alheio à literatura, que é a crise econômica", que limita a capacidade de compra das classes médias, que foram tradicionalmente "os grandes consumidores de cultura".
Para o cubano, o papel da literatura, das editoras e do leitor "está sendo subvertido".
"Agora depende-se muito mais de críticas literárias escritas por um estagiário, ou da promoção que os editores fazem conforme seus próprios interesses", comentou.
A crise econômica, por sua vez, também impactou no que Padura qualificou como "classe média" dos escritores.
"Os autores pobres são os que vendem milhares exemplares e os ricos os que vendem 200 mil ou um milhão de livros", mas "o escritor que sustentava a literatura mundial era o que vendia entre 20 mil e 60 mil exemplares, que cobria as despesas e produzia lucro", explicou.
Porém, esses autores da "classe média" agora "vendem a metade e os exigem produzir o dobro, sobretudo se trabalham com os grandes grupos editoriais mundiais", afirmou Padura.
Padura indicou, no entanto, que "felizmente ainda há editoras nas quais o produto artístico tem um peso importante", que "não te apressam para acabar um livro e não pedem um livro por ano", como ocorre com os grandes grupos, nos quais "se um autor tem sucesso, é exigido imediatamente outro sucesso igual".
Apesar desse manifesto "pessimista" sobre o futuro do livro, Padura considerou que "a literatura ainda é um espaço de repouso na hora de fazer uma análise a partir de uma perspectiva estética" e é uma das poucas "trincheiras" que restam para a criação intelectual.
O escritor cubano também sustentou que "se há algo que não desaparecerá, embora se manifeste de outras maneiras, é o escritor". Padura está convicto que as histórias continuarão sendo contadas e que "a criação de mundos e de fábulas continuará sendo parte da natureza humana".